Conferência sobre paz no Médio Oriente envia recado "subliminar" a Trump
Países que participaram no encontro internacional em Paris avisam israelitas e palestinianos para o perigo das iniciativas unilaterais.
Cerca de 70 países, reunidos em Paris para uma conferência internacional sobre o Médio Oriente, patrocinada pela presidência francesa, avisaram que não vão reconhecer qualquer iniciativa unilateral adoptada quer por israelitas, quer por palestinianos, reafirmando que só a solução de dois Estados pode pôr fim ao conflito.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Cerca de 70 países, reunidos em Paris para uma conferência internacional sobre o Médio Oriente, patrocinada pela presidência francesa, avisaram que não vão reconhecer qualquer iniciativa unilateral adoptada quer por israelitas, quer por palestinianos, reafirmando que só a solução de dois Estados pode pôr fim ao conflito.
O comunicado final da reunião de um dia não se refere explicitamente à promessa de campanha de Donald Trump, o Presidente eleito dos Estados Unidos, de mudar a embaixada norte-americana para Jerusalém – uma iniciativa que equivaleria a reconhecer a reivindicação de Israel que considera a cidade sua capital “eterna e indivisível”, à revelia das resoluções das Nações Unidas. Mas vários diplomatas asseguram que as palavras escolhidas na redacção do texto enviam uma mensagem “subliminar” ao futuro inquilino da Casa Branca.
Nem Israel nem a Autoridade Palestiniana estiveram representados na conferência, realizada a apenas cinco dias da tomada de posse de Trump, com o objectivo claro de mostrar ao futuro Presidente norte-americano que a solução de dois Estados – Israel e Palestina, vivendo lado a lado em paz e segurança – não pode ser posta em casa e que qualquer acção unilateral só servirá para exacerbar as tensões no terreno.
Os participantes “pedem aos dois lados que se abstenham de acções unilaterais que condicionem o desfecho de negociações sobre o estatuto final, incluindo, [as questões] de Jerusalém, das fronteiras, da segurança e do regresso de refugiados”, lê-se no texto que, segundo uma fonte diplomática francesa, foi redigido após intensas negociações. “É um parágrafo complicado e sinuoso para passar uma mensagem subliminar à Administração Trump”, afirmou o diplomata.
No final da reunião, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, afirmou que teria sido inapropriado incluir uma referência directa à eventual mudança da embaixada norte-americana, quando não há ainda uma proposta formal em cima da mesa. Sublinhou, porém, que o entendimento sobre o caminho que israelitas e palestinianos devem percorrer para a paz “não é apenas um ponto de vista de uma Administração, mas é partilhada de forma abrangente pela comunidade internacional”.
As relações entre Israel e os EUA atingiram um dos seus piores momentos na fase final dos oito anos de presidência de Barack Obama, que não esconde a frustração com a recusa do país aliado em suspender a colonização nos territórios ocupados. Uma tensão que se tornou ainda mais visível quando, no mês passado, Washington se absteve na votação de uma resolução que exige a cessação imediata da expansão dos colonatos.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, não se mostrou impressionado com este consenso internacional, afirmando que o encontro em Paris “faz parte dos últimos estertores do mundo passado”. “O dia de amanhã será diferente e está muito próximo”, acrescentou, numa referência à tomada de posse de Trump, que já deu a entender que adoptará uma posição muito mais próxima de Israel.
Já o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, que na véspera avisou que a mudança da embaixada dos EUA para Washington iria “comprometer definitivamente” o processo de paz, afirmou que a reunião em Paris ajudará a travar “as actividades de colonização e à destruição da solução de dois Estados em resultado das imposições e do uso da força”.