Uma Oz sombria onde Dorothy é guerreira e Ivo Canelas é seu pai
Emerald City é uma versão mais adulta das histórias do Feiticeiro de Oz e estreia-se este domingo no TVSéries às 21h30. Com participação do actor português.
Já todos ouvimos a história da menina do Kansas levada a um mundo fantástico pelo olho de um tornado. A aventura de Dorothy na companhia do cãozinho Toto, do Espantalho, do Homem de Lata e do Leão é eterna no imaginário infantil e está de volta em Emerald City, a nova série da NBC que se estreia este domingo às 21h30 no TVSéries. Mas esta adaptação segue uma linha bem mais sombria comparativamente ao livro original de L. Frank Baum (em Portugal editado pela Girassol Edições) e ao filme de 1939 protagonizado por Judy Garland. Neste caso, Dorothy é uma jovem enfermeira que procura a mãe que a abandonou anos antes ao cuidado da tia Em. O português Ivo Canelas veste a pele de Javier, o pai da protagonista que aparece no sexto episódio para contextualizar a história da família.
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Já todos ouvimos a história da menina do Kansas levada a um mundo fantástico pelo olho de um tornado. A aventura de Dorothy na companhia do cãozinho Toto, do Espantalho, do Homem de Lata e do Leão é eterna no imaginário infantil e está de volta em Emerald City, a nova série da NBC que se estreia este domingo às 21h30 no TVSéries. Mas esta adaptação segue uma linha bem mais sombria comparativamente ao livro original de L. Frank Baum (em Portugal editado pela Girassol Edições) e ao filme de 1939 protagonizado por Judy Garland. Neste caso, Dorothy é uma jovem enfermeira que procura a mãe que a abandonou anos antes ao cuidado da tia Em. O português Ivo Canelas veste a pele de Javier, o pai da protagonista que aparece no sexto episódio para contextualizar a história da família.
“É uma pequena participação que faz parte dos flashbacks da Dorothy e que ajuda a desenvolver a personagem”, refere ao telefone com o PÚBLICO. O actor, que participou previamente na série canadiana Living In Your Car e na americana Into The Badlands gravou em Budapeste ao lado de Vincent D’Onofrio, o famoso Feiticeiro. “Sempre gostei muito do trabalho dele e contracenar com ele deu-me um prazer muito grande”, reconhece.
Ivo Canelas revela que pretende “continuar a apostar na internacionalização” e acredita que é uma mais-valia investir na série como formato. “Todos nos lembramos daquela sensação pré-Internet do dia em que passava a série, aquela expectativa de saber o que acontecia a seguir“. Relativamente ao caso português, refere que “a pré-produção é determinante para uma série ter ou não sucesso” e sublinha a necessidade de se “apostar em argumentos originais”.
Em Emerald City, Oz é um mundo mais negro e adulto, comportando uma carga emocional que recupera, segundo o actor, a origem sombria dos contos infantis. “Na sua génese, [estas histórias] tocam-nos em aspectos do fundo da alma”, diz, lembrando que a série é indicada para um público juvenil e adulto.
No dia do seu aniversário, Dorothy (Adria Arjona) sente-se mais perdida que nunca e deseja escapar à sua realidade. O seu devaneio ganha vida quando é transportada por um tornado até Oz com o cão polícia Toto. É justamente aqui que começam as alterações, uma vez que o pastor alemão é, no original, um cão de pequeno porte. A jovem não chega à terra do famoso Feiticeiro na sua casa levada pelos ares, mas antes num carro da polícia. E os amigos que vai encontrando no caminho para Emerald City também regressam de cara lavada – logo à chegada, os munchkins, seres pequeninos que Dorothy liberta da Bruxa Má do Este quando aterra em Oz, são agora uma tribo de pessoas de estatura normal que não se mostram amigáveis para com desconhecidos.
O Espantalho (Oliver Jackson-Cohen) não é de palha, mas sim de carne e osso. Dorothy encontra-o crucificado e sem memória, baptizando-o de Lucas em homenagem à sua cidade natal no Kansas. Também o Homem de Lata é inteiramente humano quando o vemos pela primeira vez. Até a mítica estrada de tijolos amarelos está diferente – é composta pelo pólen das papoilas. O Feiticeiro continua a ser um vilão por excelência, mas não se esconde por detrás de truques de magia, impondo a sua autoridade com um séquito de temíveis súbditos. E os inimigos com que Dorothy se vai deparar são bem mais perigosos que macacos voadores.
Uma espécie de Westeros, mas mais feminista
O carácter sexual e violento da série já lhe valeu comparações com A Guerra dos Tronos, uma vez que a mítica terra imaginada por L. Frank Baum é também povoada por guerreiros letais envolvidos numa sangrenta batalha pelo poder. Contudo, o produtor David Schulner nota ao Screener TV que a série reflecte o feminismo presente no livro original e inspirado na mãe do autor, uma das primeiras sufragistas. “Os livros estão impregnados de feminismo e da ideia de recusa do patriarcado”, diz. No segundo livro, lançado em 1904, um exército de mulheres marcha em direcção a Emerald City em protesto contra um governo exclusivamente masculino. A série procurou, ainda, incluir diversidade na história através de Tip, uma personagem que se vai debater com a identidade de género.
“Todas as personagens femininas têm um arco incrivelmente forte”, acrescenta o produtor Shaun Cassidy. O sentimento é partilhado por Vincent D’Onofrio, que refere que “todas as personagens temidas pelo Feiticeiro são mulheres”. E assim que o público se cruzar com elas, vai perceber porquê: Florence Kasumba é a poderosa Bruxa Má do Oeste, Joely Richardson veste e pele da Bruxa Boa Glinda (ainda que tendo sofrido uma transformação gélida) e Ana Ularu encarna a Bruxa Má do Este, nesta versão viciada em ópio.
A série tem dez episódios e foi realizada por Tarsem Singh, conhecido pela exuberância visual da sua obra. Emerald City parece cimentar essa reputação, com deslumbrantes exteriores gravados num parque nacional na Croácia, num castelo do século XV na Hungria e no parque Güell, em Barcelona. A vontade de recorrer o menos possível a efeitos especiais foi contornada com a construção de interiores em castelos e templos. E, se tudo parece drasticamente diferente, a magia original parece sobreviver – pelo menos é essa a intenção de Singh.