Pátria, esse lugar estranho
Entre “bravos”, o público aplaudiu com veemência a violinista Viviane Hagner no concerto da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música (OSPCdM) que tratou de nacionalismos.
Foi de nacionalismos que tratou o concerto da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música (OSPCdM) da última sexta-feira.
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Foi de nacionalismos que tratou o concerto da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música (OSPCdM) da última sexta-feira.
Entre “bravos”, o público aplaudiu com veemência a violinista Viviane Hagner que, na primeira parte, interpretou o Concerto para violino e orquestra em ré maior, op. 35 (1878), de Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840 – 1893). Não sem a ocorrência de alguns momentos de desconforto (também porque a própria obra carrega em si zonas de virtuosismo que condicionam a fluidez do discurso), os aplausos foram merecidos, porquanto os pontos essenciais foram desvelados na perfeição pela solista.
Foi igualmente perfeita a entrada dos primeiros violinos num primeiro andamento que veio a revelar grande equilíbrio entre solista e tutti, nomeadamente em pontos como a síncrona entrada da orquestra após a cadência da solista (em que se destacou um belíssimo som de flauta). A delicadeza do início do primeiro andamento viria a encontrar oposição no timbre um pouco agreste produzido pelas madeiras no início da Cazonetta (que o clarinete foi recordando ao longo do segundo andamento), o que não impediu Viviane Hagner de demonstrar grande capacidade expressiva perante o lirismo que a partitura exige. O Finale arrancou com vigor e com uma enérgica solista, abrindo espaço para a contrastante nostalgia que o tema folclórico sugere e que alterna com o carácter dançável que o mesmo assume. Saliente-se a forma positiva como as madeiras atingiram a beleza do diálogo camarístico que ocorre neste Allegro vivacissimo.
Perante o entusiasmo do público, a violinista bávara brindou-o ainda com a fabulosa Chaconne da Partita nº 2, BWV 1004, em ré menor, de Johann Sebastian Bach, igualmente muito aplaudida.
Na segunda parte do concerto foi a promessa de um nacionalismo musical português que se fez ouvir. Brönniman fez um bom trabalho com a partitura da Sinfonia À Pátria, em lá maior (1894), de José Viana da Mota (1868 – 1948), a qual não consegue deixar de suscitar emoções contraditórias entre si.
Composta após o Ultimato britânico, a sinfonia divide-se em quatro andamentos– cada um dos quais inspirados em diferentes excertos de Camões (d’Os Lusíadas e de um soneto)– escritos para grande orquestra, muito bem orquestrados e com um notável aproveitamento dos temas utilizados.
No primeiro andamento, sucedendo à assertiva entrada das cordas, que a OSPCdM bem realizou, os sopros em uníssono caricaturaram o imaginário nacional associado ao som das mais amadoras bandas filarmónicas. O naipe que melhor se destacou pela positiva no Allegro eroico (e que já na primeira parte do concerto havia feito um óptimo trabalho) foi o das trompas.
No longo segundo andamento (o menos patriótico, ou mais universal), apercebemo-nos, a dada altura, de um bonito solo que a concertino convidada (Dorota Siuda) bem executou sem que quase déssemos pela sua presença. No terceiro andamento, o compositor recorre a melodias populares. Se nos distanciarmos das mesmas e de uma certa ideia de “ser-se português”, ouvimos aqui um trabalho que é em muito comparável ao de um Mahler. O quarto andamento, impregnado de valores patrióticos (Decadência – Luta – Ressurgimento), regressa ao material temático do primeiro, concluindo numa núvem de fabricada esperança.