Plano de Trump de pôr filhos a gerir as empresas não respeita "padrões" de ética
Responsável do Gabinete de Ética do Governo, uma agência independente, diz que a fórmula escolhida pelo Presidente eleito pode suscitar "suspeitas de corrupção".
Numa tentativa de se isolar dos conflitos de interesses na Casa Branca, Donald Trump anunciou que vai passar o seu império empresarial para os filhos. Mas horas depois, o responsável do Gabinete de Ética do Governo, uma agência independente que tem a função de prevenir conflitos de interesses, afirmou que o plano do Presidente eleito dos EUA o colocará numa posição vulnerável a “suspeitas de corrupção”. Para Walter M. Shaub Jr, a opção de Trump não respeita "os padrões" que foram atingidos pelos presidentes nos últimos 40 anos.
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Numa tentativa de se isolar dos conflitos de interesses na Casa Branca, Donald Trump anunciou que vai passar o seu império empresarial para os filhos. Mas horas depois, o responsável do Gabinete de Ética do Governo, uma agência independente que tem a função de prevenir conflitos de interesses, afirmou que o plano do Presidente eleito dos EUA o colocará numa posição vulnerável a “suspeitas de corrupção”. Para Walter M. Shaub Jr, a opção de Trump não respeita "os padrões" que foram atingidos pelos presidentes nos últimos 40 anos.
Trump é um caso particular porque nenhum outro Presidente entrou na Casa Branca com a sua quantidade de propriedades e negócios. Durante a conferência de imprensa de quarta-feira, Trump e a sua advogada garantiram que o Presidente eleito se vai manter afastado dos seus negócios, embora não vá vender o seu universo de empresas.
O plano apresentado não convence o director do Gabinete de Ética do Governo norte-americano. Walter M. Shaub Jr, que foi nomeado por Obama, diz que não acredita que a venda de activos de Trump seja um elevado preço a pagar para se ser Presidente e que Donald Trump deve abdicar deles para evitar qualquer conflito de interesses. “Acredito que a renúncia seja dispendiosa. Mas o Presidente eleito não estaria sozinho a fazer este sacrifício”, diz.
O responsável de ética elaborou uma declaração – disponibilizada pelo New York Times – após a conferência de imprensa dada por Trump, apontando os aspectos que o republicano está a infringir. Considera o plano inadequado e afirma que não se pode “criar a percepção” de que os líderes governamentais “usam o cargo oficial para terem benefícios”.
“Hoje preciso de falar sobre ética por causa do plano anunciado pelo Presidente eleito que não vai ao encontro dos padrões que os seus nomeados estão a cumprir e que todos os outros Presidentes, nas últimas quatro décadas, cumpriram”, pode ler-se na rara declaração de Shaub. “Na verdade, a nossa experiência como humanos sugere que o potencial de corrupção cresce quanto mais poder tivermos”, escreve ainda.
O responsável de ética criticou a decisão de Trump colocar os seus activos num fundo em vez de serem controlados por uma entidade independente (blind trusts), opção desvalorizada pela equipa de advogados de Trump. O facto de serem os filhos a gerirem os negócios a partir de agora não invalida o conhecimento que o republicano terá sobre os assuntos, pois Trump “sabe o que tem”, aponta Shaub.
O The New York Times informa que uma das advogadas da Organização Trump, Sheri A. Dillon, diz que vender por completo todos os activos do futuro Presidente ou até mesmo coloca-los em blind trusts – fundos supervisionados por consultores independentes para evitar qualquer suspeita de irregularidade – não são opções viáveis.
O director do Gabinete de Ética do Governo não foi o único a questionar o plano de Donald Trump, que vê também membros do seu partido questionar a forma como está a lidar com as questões éticas, afirmando que o futuro Presidente não impôs qualquer proibição de comunicação entre membros da Organização Trump e funcionários do Governo, avança o NYT.