Kusturica em esforço
Há, é certo, algo de novo em Na Via Láctea – a presença, generosa e simbólica, de Monica Bellucci. Mas é um filme sempre “em esforço”.
É sempre edificante ver como um cineasta “cristaliza” ou “sedimenta” ao longo dos anos, e o que Na Via Láctea confirma é que Emir Kusturica anda, basicamente, a fazer o(s) mesmo(s) filme(s) desde a claustrofobia surreal à beira da explosão de Underground e o vale-tudo em modo caos balcânico de Gato Preto Gato Branco, duas faces de uma mesma medalha que se reconhece a milhas pelo excesso gargantuesco, pela sofreguidão de meter tudo ao mesmo tempo no mesmo filme.
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É sempre edificante ver como um cineasta “cristaliza” ou “sedimenta” ao longo dos anos, e o que Na Via Láctea confirma é que Emir Kusturica anda, basicamente, a fazer o(s) mesmo(s) filme(s) desde a claustrofobia surreal à beira da explosão de Underground e o vale-tudo em modo caos balcânico de Gato Preto Gato Branco, duas faces de uma mesma medalha que se reconhece a milhas pelo excesso gargantuesco, pela sofreguidão de meter tudo ao mesmo tempo no mesmo filme.
Há, é certo, algo de novo em Na Via Láctea – a presença, generosa e simbólica, de Monica Bellucci no papel da mulher ideal, inalcançável, que cai de pára-quedas como noiva por encomenda num ermo recôndito em plena fase final do conflito dos Balcãs, pela qual um leiteiro infeliz se apaixona. Bellucci é o mote para Kusturica recolocar em movimento o seu carrossel barulhento de burlesco Chaplinesco, poesia telúrica e absurdo grotesco, aqui pontuado por interlúdios que aspiram à fantasia do conto de fadas, mas que precisariam de mão menos pesada para a manter. É um filme sempre “em esforço”, só que, desta vez, o esforço pesa.