“Sinto que há neste Governo consciência do valor das indústrias criativas”
Nuno Saraiva, da plataforma Why Portugal e vice-presidente da Associação de Músicos, Artistas e Editoras Independentes (AMAEI), assinala uma mudança na relação do Estado com a música moderna portuguesa
A relação do Estado português com a cultura popular, e especificamente, com a música popular urbana, sempre foi distanciada e pouco consequente. É uma realidade de há muito.
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A relação do Estado português com a cultura popular, e especificamente, com a música popular urbana, sempre foi distanciada e pouco consequente. É uma realidade de há muito.
Quando a AMAEI se formou, houve um evento no Canadá, o Canadian Music Week, que tinha Portugal e Espanha como países em destaque. Isto aconteceu depois de o Governo de Passos Coelho acabar com o Ministério da Cultura. Portugal tinha sete artistas, Espanha seis. Espanha tinha dois organismos estatais a apoiar com 100 mil euros cada, nós não tínhamos nada. Os artistas pagaram do seu próprio bolso. Isso permitiu-nos uma aprendizagem do caminho que tínhamos pela frente.
Algo mudou daí para cá?
Neste momento uma instituição como a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) surge pela primeira vez no apoio à música moderna portuguesa. Para além de conseguirmos mostrar a música portuguesa aos programadores europeus, conseguimos esse efeito interno de ter o AICEP a custear o Portugal Lounge [no Eurosonic]. E conseguimos uma candidatura à DGArtes para custear as viagens dos primeiros dez artistas.
E isso é fruto de uma nova consciência por parte do Estado do potencial da música, quer económico quer na divulgação do país, ou do trabalho concertado dos agentes musicais?
É um efeito cumulativo das duas coisas, mas sinto que há neste Governo consciência do valor das indústrias criativas. Não é por acaso que tivemos cá a Web Summit. Mas é uma conjugação de diversos factores. Começa pela novidade de um grande evento como o Eurosonic dar destaque a Portugal, o que se conjuga com uma nova vontade política. Claro que podíamos fazer mais. Mas não menosprezamos aquilo que estamos a fazer com poucos fundos. Estamos a aplicar o conceito “do it yourself”, mas na versão plural, o “do it ourselves”. Tudo isto só é possível se trabalharmos em conjunto.