O povo voltou a estar com Soares no dia da despedida

Tal como dia em que regressou a Portugal após o 25 de Abril, voltou-se a ouvir “Soares amigo, o povo estará contigo!” E esteve, ao longo das ruas de Lisboa, na despedia emocionada ao fundador do PS, antigo presidente da República e primeiro-ministro.

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Portugal despediu-se de Mário Soares nas ruas de Lisboa. Milhares de pessoas acompanharam o cortejo fúnebre do primeiro funeral com honras de Estado realizado em democracia que saiu do Mosteiro do Jerónimos e terminou no Cemitério dos Prazeres. Houve palmas, gritos de “Soares é Fixe!”, ou “Soares amigo, o povo estará contigo!”, lágrimas e mais um novo arrepiante momento de silêncio quando a urna foi transportada para o interior do cemitério. Aí voltou a ouvir-se a voz de Soares.

Desde a saída dos Jerónimos, até à segunda paragem (a primeira foi no Palácio de Belém), as centenas de portugueses que acompanharam o passar do armão militar da GNR (uma espécie de charrete puxada por quatro cavalos brancos) quase se limitaram a homenagear o antigo Presidente e primeiro-ministro com salvas de Palmas. Já junto à Assembleia da República e da Fundação Mário Soares a emoção subiu de tom.

Centenas de populares, deputados e funcionários da Assembleia da República e dos grupos parlamentares homenagearam Mário Soares à porta do Parlamento com uma prolongada salva de palmas, onde o armão se imobilizou por meio minuto.

Já nos prédios ocupados pela Fundação Mário Soares, logo no início da Rua de São Bento, os funcionários vieram para as janelas com flores nas mãos para se despedirem do antigo Presidente da República.

O cortejo seguiu depois para o Largo do Rato onde, desde 1975, está instalada a sede nacional do PS. Nos últimos dois dias milhares de cidadãos passaram por lá para assinarem os livros de condolências. Neste terça-feira encheram o largo. Gente com cravos vermelhos e rosas nas mãos, muitos de lágrimas nos olhos, gritando "Soares é fixe!", "Soares, amigo, o povo está contigo!" e "PS!". Centenas de flores foram lançadas para a urna. A voz de Mário Soares gritava nos altifalantes colocados na sede “Viva o socialismo”.

De frente para a multidão juntavam-se fundadores do partido, como Edmundo Pedro, Alfredo Carvalho ou Arons de Carvalho, lado a lado da actual direcção, como Ana Catarina Mendes, ou o presidente do partido, Carlos César, e também muitos deputados e ex-deputados e ex-ministros do PS. De repente, quando carro funerário que transportava a família passou junto à sede, João Soares abriu a janela e, de punho esquerdo erguido, gritou “PS”.

O cortejo fúnebre chegou ao Cemitério dos Prazeres já perto das 16h. Entre as diversas personalidades, chefias militares, família, camaradas de partido e populares estiveram presentes no local mais de um milhar de pessoas.

Assim que chegou, a urna foi recebida com uma enorme salva de palmas. Três companhias, uma de cada ramo das forças armadas (200 homens e mulheres) cumpriram as horas militares, ensaiadas várias vezes antes da chegada do cortejo.

Quando a urna foi retirada do armão e começou a ser transportada para o interior do cemitério, ao som da marcha fúnebre tocada pela Banda do Exército os muitos presentes cumpriram um profundo silêncio, interrompido três vezes palas salvas de 60 tiros disparados para o ar.

Já com a urna colocada sobre uma mesa de talha dourada frente à capela do cemitério volta a ouvir-se a voz de Mário Soares.

O antigo presidente, com palavras ditas no primeiro tempo de antena da campanha presidencial de 1986, falava do "país ignorante e pobre" em que nascera, dos pescadores e trabalhadores, pessoas que viviam "sofrendo em silêncio e morrendo em silêncio". "Há coisas que não se esquecem.” O antigo presidente vincava ainda a sua vontade de “unir os portugueses e servir Portugal". “A verdade não pertence em exclusivo a ninguém e não há nada que substitua a tolerância.”

A bandeira de Portugal que cobria o caixão foi dobrada pelos militares e, depois de passar pelas mãos do chefe de Estado Maior das Forças Armadas, General Pina Monteiro, e pelo Presidente da República acabou entregue a João Soares. Nesse momento foram disparadas 21 salvas de artilharia a partir da Corveta Jacinto Cândido, fundeada no Tejo.

O cortejo seguiu depois para o jazigo da família, numa cerimónia reservada aos familiares e amigos mais próximos. Antes, fez uma breve paragem junto à sepultura de Jaime Cortesão, ao lado de quem Mário Soares esteve, em 1956, no Directório Democrático-Social, após a ruptura com o PCP.

Já com a urna colocada ao lado da urna da mulher da vida de Soares, Maria Barroso, falecida a 7 de Julho de 2015, ouviu-se a última salva de palmas de homenagem a Mário Alberto Nobre Lopes Soares, falecido no dia 7 de Janeiro de 2017 aos 92 anos. Pouco passava das 16h15.