Soares recebido nos Jerónimos com emocionado silêncio
Centenas de pessoas recebem o cortejo fúnebre de Mário Soares nos Jerónimos. Depois de palmas e de gritos de “Soares é Fixe”, abateu-se em Belém um emocionado silêncio.
Silêncio. As centenas de pessoas que nos jardins de Belém aplaudiram e gritaram “Soares Fixe” no momento em que o corpo de Mário Soares chegou aos Jerónimos ao início da tarde desta segunda-feira caíram num arrepiante, longo e profundo silêncio no momento em que a urna coberta com a bandeira de Portugal era transportada para o interior do mosteiro ao som da marcha fúnebre de Chopin tocada pela banda GNR. Um silêncio quebrado por um grito uma mulher quando o corpo já estava no interior dos Jerónimos. “Viva Mário Soares, ficarás para sempre nos nossos corações.”
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Silêncio. As centenas de pessoas que nos jardins de Belém aplaudiram e gritaram “Soares Fixe” no momento em que o corpo de Mário Soares chegou aos Jerónimos ao início da tarde desta segunda-feira caíram num arrepiante, longo e profundo silêncio no momento em que a urna coberta com a bandeira de Portugal era transportada para o interior do mosteiro ao som da marcha fúnebre de Chopin tocada pela banda GNR. Um silêncio quebrado por um grito uma mulher quando o corpo já estava no interior dos Jerónimos. “Viva Mário Soares, ficarás para sempre nos nossos corações.”
A presidir ao funeral de Estado de Mário Soares, falecido sábado aos 92 anos, estava o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Junto a ele estava Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, a ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques, a representar o Governo, em substituição do primeiro-ministro de visita à Índia, os antigos deputados socialistas Miranda Calha e Manuel Alegre, a mulher de António Costa, Fernanda Tadeu, e o filho do primeiro-ministro. Mais tarde chegou também a mãe do chefe do Governo, Maria Antónia Palla.
Foram eles que receberam nos Jerónimos o cortejo fúnebre, os filhos de Mario Soares, João e Isabel, os netos e os familiares mais próximos.
Depois das honras militares, prestadas por 131 militares da GNR em parada no largo fronteiro aos Jerónimos, a urna foi transportada para a Sala dos Azulejos. Junto à cabeira foi colocado um busto da República e as insígnias de Grande-colar da Ordem Militar da Torre e Espada, Valor, Lealdade e Mérito e de Colar da Ordem da Liberdade.
Aos pés da urna, foram depositadas coroas de flores em nome do Presidente da República, do presidente da Assembleia da República e do primeiro-ministro. Depois de familiares e amigos mais próximos de Soares lhe prestarem homenagem, as portas do velório foram abertas aos populares que há muito esperavam para homenagear o antigo Presidente da República, antigo primeiro-ministro e fundador do PS.
Pelas 14 horas chegou a primeira comitiva política, a do PCP, chefiada por Jerónimo de Sousa, acompanhado pelo líder da bancada parlamentar e pelo vice-presidente, João Oliveira e António Filipe.
“Quem escreve a história são os vencedores, mas a história não se apaga. Temos a nossa própria visão da história”, disse aos jornalistas quando confrontando com os muitos comentários ouvidos nos últimos dias de que Mário Soares esteve do lado certo da história e que evitou uma ditadura comunista.
Jerónimo pediu depois para não desenvolver a sua resposta. “O momento é de perda e no quadro de respeito pela morte não desenvolvo esta resposta”, acrescentou já depois de apresentar as condolências à família de Mário Soares.
Pouco depois foi a vez do presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, prestar a sua homenagem ao antigo chefe de Estado. À saída, aos jornalistas, não quis falar sobre episódios que tenha partilhado com Mário Soares e preferiu dizer que este é o momento de o país prestar uma "última e merecida homenagem" e de falar do "significado da sua intervenção cívica e política". O líder do PSD foi aos Jerónimos para "deixar uma palavra amiga e solidária" aos filhos do antigo Presidente da República.
Momentos emocionantes foram também vividos no início do cortejo fúnebre junto à casa em que Soares sempre viveu, junto ao Campo Grande em Lisboa. Na rua com o nome do pai, João Soares, mais de um milhar de pessoas aplaudiram a chegada do carro funerário com os primeiros gritos de “Soares é fixe” a serem ouvidos. Depois de partir, o carro fúnebre parou junto ao Colégio Moderno, propriedade da família Soares, onde dezenas de alunos, professores e funcionários do estabelecimento de ensino prestaram homenagem ao antigo chefe de Estado com uma prolongada salva de palmas.
O cortejo seguiu depois para a Câmara de Lisboa, acompanhado por uma escolta da GNR, constituída por 30 motociclistas da Unidade de Segurança e Honras de Estado. Na Praça do Município, a urna de Soares foi transferida para o armão (carro funerário militar) de tracção animal, o mesmo que transportou os restos mortais de Eusébio e Amália Rodrigues para o Panteão Nacional.
Em frente à Câmara Municipal, lugar simbólico da República, houve momentos de grande emoção. Da família - os netos de Soares choraram ao entregar as insígnias do avô aos militares da GNR, os filhos João e Isabel abraçaram emocionados amigos ali presentes -, do presidente da Câmara, Fernando Medina, ao colocar um cravo vermelho na bandeira que cobria a urna, rodeada de rosas brancas -, de personalidades como a deputada Isabel Moreira, que o conhecia desde sempre e de muitos anónimos.
A charrete puxada por duas parelhas de cavalos, seguida de uma comitiva de 84 binómios de cavalaria (homens e cavalos) - os brancos à frente, os castanhos atrás - seguiu então pelas ruas da cidade até ao Mosteiro dos Jerónimos. Aqui e ali havia algumas concentrações de pessoas que quiseram ver o cortejo, sobretudo junto aos Jerónimos.
As cerimónias fúnebres de Mário Soares terminam nesta terça-feira, com o funeral a ter lugar no Cemitério dos Prazeres após uma nova homenagem nos claustros do Mosteiro.