Como a Índia faz diplomacia com a sua diáspora

O Governo de Modi tem tentado aproveitar o potencial económico e político de uma rede com 25 milhões de pessoas em todo o mundo.

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A emigração indiana não é nova, mas o perfil de quem sai tem mudado de forma acelerada REUTERS/Desmond Boylan

A Índia dispõe de uma das maiores populações de emigrantes e descendentes de indianos fora do país. São 16 milhões de pessoas espalhadas pelo planeta, a maior comunidade emigrante em todo o mundo, de acordo com dados do ano passado da ONU. Mas este é um número que chega aos 25 milhões se se juntarem também os descendentes com origem indiana, tal como António Costa.

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A Índia dispõe de uma das maiores populações de emigrantes e descendentes de indianos fora do país. São 16 milhões de pessoas espalhadas pelo planeta, a maior comunidade emigrante em todo o mundo, de acordo com dados do ano passado da ONU. Mas este é um número que chega aos 25 milhões se se juntarem também os descendentes com origem indiana, tal como António Costa.

O potencial económico deste país fora das fronteiras é óbvio. Todos os anos, os emigrantes indianos enviam para os seus familiares perto de 70 mil milhões de dólares (66 mil milhões de euros) em remessas, o equivalente a 3,5% do PIB da Índia, segundo a revista Economist. A emigração indiana não é algo de novo, mas o perfil de quem sai tem mudado de forma acelerada nas últimas décadas.

As pequenas lojas de conveniência e os restaurantes continuam a ser negócios comuns para os indianos na Europa e nos EUA. Mas é nos gigantes tecnológicos e nas startups que hoje aparecem e desaparecem a um ritmo frenético que as principais mudanças têm ocorrido. Nos últimos anos, a Índia tornou-se num dos maiores exportadores de especialistas em informática e tecnologia para todo o mundo, alterando completamente o perfil dos seus emigrantes.

Nos EUA, por exemplo, 76% dos mais de dois milhões de indianos residentes tinha educação superior, de acordo com dados de 2013, fazendo desta comunidade aquela com índice de educação mais elevado no país — batendo até os cidadãos nacionais. Da mesma forma, o salário médio dos indianos nos EUA está bastante acima da média. O rendimento médio dos agregados dos imigrantes indianos ronda os 103 mil dólares anuais, acima dos rendimentos das restantes comunidades estrangeiras (48 mil) e dos nascidos nos EUA (53 mil).

As autoridades indianas tentam agora aproveitar a influência exercida por esta rede internacional constituída pela sua diáspora. Os locais mais óbvios são as grandes empresas lideradas por indianos, tais como a PepsiCo, Google, Microsoft ou MasterCard. Mas à prosperidade económica dos seus emigrantes e descendentes junta-se a notoriedade política e cultural. A lista é extensa e inclui dois ex-Presidentes de Singapura, dois ex-primeiros-ministros de Trinidad e Tobago, governadores e congressistas norte-americanos e ainda ministros canadianos. Em comum têm a herança indiana, mesmo sendo cidadãos de outros países.

“Estamos a mudar os contornos da diplomacia e estudar novas formas de fortalecer os interesses da Índia no estrangeiro”, assume o secretário-geral do partido Bharatiya Janata (BJP, no poder), Ram Madhav, citado pelo The Guardian. Esta estratégia tem contado com o impulso do primeiro-ministro, Narendra Modi, desde que chegou ao poder, em 2014.

O BJP sempre atribuiu importância à diáspora indiana, que encara como parte de um conceito civilizacional da Índia, encaixando-a na sua ideologia nacionalista hindu, explica o Guardian. Foi este partido que, em 2003, criou um dia para celebrar a diáspora, em que todos os anos são reunidos alguns dos membros mais ilustres desta comunidade. A visita de António Costa foi marcada para coincidir com a ocasião, na qual o primeiro-ministro será um dos principais oradores, confirmando a sua entrada na grande família da diáspora indiana.