Morreu Guilherme Pinto, “o político combativo” que mudou Matosinhos
Em 2013, avançou sozinho após o PS escolher outro candidato. Erro “muito grave” do partido, diz Assis.
Guilherme Pinto, considerado um dos melhores da sua geração, que “tinha a excelência da argumentação e o gosto pelo debate”, morreu neste domingo aos 57 anos, em Matosinhos, a sua terra natal, de que muito gostava. Após as cerimónias fúnebres, o corpo será cremado.
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Guilherme Pinto, considerado um dos melhores da sua geração, que “tinha a excelência da argumentação e o gosto pelo debate”, morreu neste domingo aos 57 anos, em Matosinhos, a sua terra natal, de que muito gostava. Após as cerimónias fúnebres, o corpo será cremado.
O presidente da Câmara de Matosinhos, que transformou a cidade num pólo cultural, lutou durante dois anos contra um cancro. O funeral realiza-se nesta segunda-feira, pelas 16h. O político Guilherme Pinto morreu, mas a sua marca na liderança do concelho vai perpetuar-se. O vice-presidente da câmara, Eduardo Pinheiro, que assumirá a partir de agora a presidência da autarquia, garantiu que “não haverá alterações profundas”.
A candidata do PS a Matosinhos nas eleições locais deste ano, Luísa Salgueiro enalteceu, em declarações ao PÚBLICO, a criatividade do amigo: “Era sempre insaciável no sentido de querer fazer mais para desenvolver Matosinhos, sempre com ideias novas a borbulhar que nos contagiava a todos.” “Quem o conhece sabe que ele era um devorador de livros, um amante da cultura, da história, e gostava de entremear as conversas da actualidade com as coisas que estudava e que também nos contagiava”, afirma.
Já o líder da distrital do PD-Porto, Manuel Pizarro, preferiu destacar o “político brilhante, muito combatido”, arriscando mesmo apontar “muitas similitudes” com o fundador do PS, Mário Soares, tendo em conta a “firmeza das suas ideias e a sua enorme criatividade”. “A sua liderança em Matosinhos é uma inspiração para o futuro. Guilherme Pinto é um político que trouxe coisas novas à gestão autárquica, sendo um dos primeiro a perceber a importância das câmaras municipais na atracção de investimento para a economia”, aponta Pizarro.
Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, Guilherme Pinto assumiu a vice-presidência da câmara em 2001, e nas autárquicas de 2005 candidatou-se à câmara numa altura em que o partido, a nível local, estava mergulhado numa crise interna protagonizada pelo então presidente da autarquia, Narciso Miranda, e pelo líder da concelhia, Manuel Seabra. Ambos estiveram envolvidos nos incidentes da lota de Matosinhos, que aconteceram durante uma acção de campanha das eleições europeias com Sousa Franco, que era o cabeça de lista, e que terminou da pior forma possível. Sousa Franco viria a morrer na sequência de um ataque cardíaco.
O partido impediu que Narciso e Seabra se candidatassem às eleições autárquicas seguintes, uma decisão que abriu o caminho ao vice-presidente da câmara. Guilherme Pinto candidata-se e ganha. Nas eleições seguintes (2009) recandidata-se contra o seu adversário Narciso Miranda, que protagoniza uma candidatura independente, e ganha de novo a câmara.
A ruptura com o PS, partido ao qual regressou poucos dias antes de morreu, ocorre em 2013, quando a direcção nacional, liderada por António José Seguro, escolhe António Parada como candidato. Guilherme Pinto decide criar um movimento, avança como independente e ganha com maioria absoluta. Num artigo recente no PÚBLICO, Francisco Assis lamenta o erro político “muito grave” que o partido cometera em 2013 ao não apoiar a sua recandidatura a Matosinhos, empurrando-o para uma candidatura como independente. “Observada à distância, essa opção [por António Parada] revela-se quase do domínio do absurdo”, escreveu Assis.
A dez meses das eleições autárquicas de 2017, Guilherme Pinto renunciou ao cargo de presidente da câmara e reconciliou-se com PS pela mão de António Costa, que lhe entregou o cartão de militante com a sua assinatura e a de Manuel Pizarro.
Na sua última entrevista aos microfones da TSF, disse que se despedia do cargo com o sentimento do dever cumprido e sem lamento por não ter seguido outro rumo. Francisco Assis escreveu no PÚBLICO: “Durante muitos anos lamentei que não tivesse seguido aquela que me parecia ser a sua vocação mais genuína — a vocação parlamentar. Tudo apontava nesse sentido: a capacidade tribunícia, a qualidade do pensamento político e jurídico, a excelência da argumentação e o gosto pelo debate. As circunstâncias da vida levaram-no para o campo da actividade autárquica onde se destacou, primeiro como vereador e, nos últimos onze anos, como presidente da Câmara de Matosinhos”.