Ordem dos Médicos: três candidatos querem diminuição dos numerus clausus, um quer que o mercado funcione
No primeiro debate que antecede as eleições para bastonário da Ordem dos Médicos, os quatro candidatos confrontaram os programas.
“Há médicos a mais” é das posições mais veiculadas pela Ordem dos Médicos (OM) e é das que maior consenso reúne entre os candidatos a suceder a José Manuel Silva, bastonário desde 2011. Dos quatro candidatos que vão a votos nas eleições do próximo dia 19 de Janeiro, três defendem a diminuição dos numerus clausus no acesso aos cursos de medicina, havendo apenas um que entende que não se deve limitar o número de vagas.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
“Há médicos a mais” é das posições mais veiculadas pela Ordem dos Médicos (OM) e é das que maior consenso reúne entre os candidatos a suceder a José Manuel Silva, bastonário desde 2011. Dos quatro candidatos que vão a votos nas eleições do próximo dia 19 de Janeiro, três defendem a diminuição dos numerus clausus no acesso aos cursos de medicina, havendo apenas um que entende que não se deve limitar o número de vagas.
Em Coimbra, Álvaro Beleza, antigo presidente do Instituto Português do Sangue, defendeu a redução dos numerus clausus “para metade, pelo menos” e entende que “não é preciso grandes estudos para lá chegar”. O ex-dirigente socialista não aponta um horizonte para que uma redução desta escala aconteça, mas considera importante para “garantir a dignidade dos futuros médicos”.
O candidato Miguel Guimarães também defende a diminuição das vagas. “Neste momento é muito elevado”, considera e apresenta como solução “15% de vagas para licenciados”. No entanto, o actual presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos explica que isto não quer dizer que os licenciados não possam entrar nos cursos de medicina, “têm é que concorrer pelo contingente geral”, sugere.
O também candidato Jorge Torgal, aponta para um excesso de estudantes de medicina a entrar nas universidades e entende que a Ordem deve “fazer força” para diminuir o número total de vagas. O antigo presidente do Infarmed e professor catedrático da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa afirma que “a qualidade da formação está em causa” e que esta melhora “diminuindo o número de alunos”.
O único candidato que surge em contracorrente é João França Gouveia, antigo director da Urgência do Hospital Amadora-Sintra. França Gouveia, cuja principal bandeira é a criação da especialidade de Medicina de Emergência, sublinha que não é “especialista na matéria”, mas defende que não deve ser imposta uma redução dos numerus clausus, entendendo que esta é “uma questão de mercado” que “acaba por se regular por si própria”.
Influência da Ordem
Num momento em que o tópico era terapêuticas alternativas, o debate subiu de tom quando Álvaro Beleza criticou quem tem representado a classe profissional. “É preciso uma ordem forte, com força para se impor na sociedade portuguesa e perante o poder político”, começou por dizer o candidato para considerar que é algo que não tem acontecido. “Também são co-responsáveis aqueles que têm dirigido os nossos destinos”, afirmou Beleza que bateu várias vezes na tecla da perda de influência da OM sem nunca referir nomes. “Chegámos a um ponto em que ou mudamos de maneira de actuar e somos mais eficazes”, declarou, “ou então vamos por um caminho muito triste”.
Miguel Guimarães entendeu as declarações do opositor como um “ataque” ao ainda bastonário da Ordem dos Médicos. “Acho absolutamente lamentável que se faça estes ataques ao nosso actual bastonário e que se faça na ausência dele”, contrapôs o candidato, vendo José Manuel Silva como “um bastonário virtuoso, corajoso, que teve a decência de defender os médicos em situações particularmente difíceis”.
Em resposta, Álvaro Beleza referiu-se ao actual responsável como sendo “um dos melhores bastonários” que a OM já teve, mas defendeu também a liberdade de discordar com as suas posições. “E só me candidato porque ele não se candidata”, acrescentou.
Sobre a relação entre médico e doente, Álvaro Beleza elogiou a política do actual Governo ao entender que se deve “caminhar no sentido” de haver a possibilidade de o cidadão “escolher o médico”.
Para Miguel Guimarães, os principais obstáculos a esta relação são o tempo que os médicos passam com os doentes e o facto de os profissionais olharem “mais para os computadores do que para os doentes”. Jorge Torgal identifica a falta de adaptação das tecnologias que foram introduzidas nos consultórios causas dessa realidade.
A questão da gestão da saúde é vista por França Gouveia como um incremento nesta relação e no “modo de funcionamento [de uma unidade de saúde] permite uma boa relação médico/doente”.
Os candidatos concordam com a necessidade de adaptar as tecnologias de informação ao atendimento dos doentes e com a urgência em adequar os procedimentos informáticos dos médicos, quer na relação com o doente quer nas questões burocráticas.
As eleições para escolher o sucessor de José Manuel Silva decorrem a 19 de Janeiro e elegem o bastonário da Ordem dos Médicos para um mandato com a duração de dois anos.