António Costa não suspende visita à Índia. “Era o que Mário Soares faria”

Augusto Santos Silva e ex-assessor político de Soares consideram que primeiro-ministro replicou aquilo que acreditam que seria a decisão de Soares, numa circunstância semelhante. Em 1989, o próprio ex-PR manteve uma visita oficial depois do acidente que deixou o filho entre a vida e a morte.

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António Costa com o seu homólogo indiano: o primeiro-ministro está numa vista de seis dias à Índia LUSA/Tiago Petinga

Apanhado no início de uma visita oficial de seis dias à Índia, o primeiro-ministro, António Costa, decidiu não cancelar o périplo, onde se faz acompanhar por cinco ministros, um secretário de Estado e cerca de 30 empresários. Era o que Mário Soares “faria em circunstâncias semelhantes”, defenderam o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e o assessor político do antigo Presidente da República, Carlos Gaspar.

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Apanhado no início de uma visita oficial de seis dias à Índia, o primeiro-ministro, António Costa, decidiu não cancelar o périplo, onde se faz acompanhar por cinco ministros, um secretário de Estado e cerca de 30 empresários. Era o que Mário Soares “faria em circunstâncias semelhantes”, defenderam o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e o assessor político do antigo Presidente da República, Carlos Gaspar.

Na primeira reacção à morte de Mário Soares, o primeiro-ministro começou por anunciar a decisão de o Governo decretar três dias de luto nacional, a partir desta segunda-feira, e de garantir “honras de Estado” para o funeral do ex-Presidente da República, marcado para terça-feira. “Estando em visita de Estado, não poderei estar pessoalmente presente, mas envio daqui ao João, à Isabel [filhos] e aos netos de Mário Soares um grande abraço e uma saudade que, para mim, será sempre eterna", acrescentou o líder do executivo, a partir de Nova Deli, deixando logo antever a decisão de manter a visita que decorre até quinta-feira, dia 12.

“Perdemos aquele que foi tantas vezes o rosto e a voz da nossa liberdade. Mário Soares foi um homem que durante toda a sua vida se bateu pela liberdade. Fê-lo contra a ditadura e, com isso, sofreu a prisão, sofreu a deportação e sofreu o exílio", considerou ainda Costa.

Falando aos jornalistas a partir do hall do hotel, apontou o mérito de Soares na colocação de um ponto final no colonialismo e na integração europeia de Portugal. “A perda de Mário Soares é a perda de alguém que teria sido insubstituível na nossa História recente. Devemos-lhe muito e ficaremos para sempre eternamente gratos", enfatizou, sem dar espaço às perguntas dos jornalistas que o acompanham nesta viagem à Índia.

Coube assim ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, sustentar que não faria sentido interromper a visita oficial. “Desconfio que, se Mário Soares soubesse, ficaria contente com esta decisão, porque ele sempre pôs os interesses do Estado, da Nação e do povo português acima de quaisquer outros”, defendeu, para lembrar que foi Mário Soares, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, que participou no restabelecimento das relações diplomáticas com a Índia.

De resto, o próprio Mário Soares, em circunstâncias absolutamente dramáticas, fez essa opção, quando estava a partir para uma visita de Estado à Hungria e à Holanda, em Setembro de 1989. Soube naquele momento que o seu filho, João Soares, tivera um desastre de avião quando partia da Jamba (quartel-general de Savimbi em Angola) e que estava num hospital de Pretória, na África do Sul, às portas da morte. Maria Barroso partiu para a África do Sul. Soares manteve a viagem.

Joaquim Vieira, na biografia que escreveu sobre o antigo primeiro-ministro e Presidente da República (Mário Soares: Uma Vida, Esfera dos Livros, 2013), relata que, na Hungria, o então chefe de Estado “desdobrava-se entre as funções de Estado e o drama familiar”, acompanhando o estado de saúde do filho através de contactos telefónicos com Maria Barroso. Só depois do regresso da visita à Holanda partiu para a África do Sul para visitar o filho, que, entretanto, tinha tido uma melhoria do seu estado clínico.

Ao PÚBLICO, o seu antigo assessor político, Carlos Gaspar, considerou que a decisão de António Costa reproduz de algum modo “aquilo que ele pensa que Mário Soares faria, numa situação deste tipo”. “Isto foi com certeza algo em que o primeiro-ministro pensou, mesmo antes de partir para a Índia. A morte de Mário Soares podia acontecer a qualquer momento e certamente o primeiro-ministro já tinha ponderado se ia ou se não ia e se interrompia ou não a visita, se o doutor Mário Soares morresse”, declarou, para acrescentar que lhe parece “justo” este critério. De resto, acrescentou, “não há nenhuma regra protocolar que se possa aplicar neste caso”. “Faz todo o sentido”, concluiu. com Teresa de Sousa e Luciano Alvarez