Dr. Soares: obrigado
Entre todos os políticos a quem devemos uma homenagem sentida, esse alguém é Mário Soares.
Por ter lutado pela nossa liberdade. Por ter lutado por uma sociedade aberta, por uma verdadeira democracia. Por ter afastado os militares, no tempo certo, do poder civil. Por ter integrado a Igreja, mesmo sem ser crente. Por ter integrado os partidos, sobretudo aqueles de que mais discordava. Por ter debatido, por ter discutido, por ter combatido. Por ter acreditado. Por ter cedido, por ter feito as pontes, por ter decidido.
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Por ter lutado pela nossa liberdade. Por ter lutado por uma sociedade aberta, por uma verdadeira democracia. Por ter afastado os militares, no tempo certo, do poder civil. Por ter integrado a Igreja, mesmo sem ser crente. Por ter integrado os partidos, sobretudo aqueles de que mais discordava. Por ter debatido, por ter discutido, por ter combatido. Por ter acreditado. Por ter cedido, por ter feito as pontes, por ter decidido.
Obrigado pelas vezes que ganhou, mas também pelas que perdeu, sem medo da derrota, sem se sentir derrotado.
Obrigado por ter liderado em tempos difíceis. Por ter batalhado pela nossa pertença à Europa – e pela nossa permanência nela. Por ter presidido, liderado, representado. Por ter batalhado sempre pelas suas ideias. Por nunca ter desistido, até ao último dia da sua vida. Por nos ter dado sempre esse exemplo.
Mário Soares morreu agora, sabendo que nos deixou a maior herança da sua geração, sabendo que foi o maior político do nosso último século. Sabendo que o país lhe reconhece e agradece o que lhe deixou: a liberdade, a democracia, a abertura ao mundo e a luta incessante pela modernidade. Devemos-lhe tudo isso e isto mais: o facto de ter sido ele próprio, longe de um Olimpo, tão confortável no Palácio do Eliseu como nos bairros sociais.
Em tantos anos de vida pública, Soares nunca quis as águas mornas do consenso fácil, nunca teve medo de uma polémica, de um desafio, de uma derrota ou de um rumor. Em tantos anos de exposição pública, vimos Soares sorrir, abraçar, brincar, ironizar. Como vimos também Soares zangar-se, irritar-se, errar, disparatar.
A todo o Soares político, sobrepôs-se o Soares humano, sem nunca ter medo dos seus defeitos, sem nunca temer pelos seus excessos. Até isso Soares teve: foi um homem como os homens são, com tantos defeitos como virtudes. Foi isso que fez dele um líder. O nosso maior.
Em tantos anos de vida política, muitas vezes discordámos dele, muitas vezes nos irritámos com ele, muitas vezes discutimos com ele – porque ele gostava, porque ele queria, porque ele vivia com essas discussões.
No dia da sua morte, um jornalista como eu, nascido e criado já em plena liberdade (a liberdade que eternamente lhe agradecerei), deve-lhe agora esta homenagem: entre todos os políticos a quem devemos uma palavra sentida, esse alguém é Mário Soares. Se há alguém que nos provou a importância da política, esse alguém é Mário Soares. Por isto, por tudo, prestamos-lhe esta última homenagem: obrigado.