França, Alemanha e Japão adoptaram medidas contra esgotamento dos trabalhadores

No Japão existe uma palavra para descrever as mortes e suicídos por excesso de trabalho: "karoshi".

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LUSA/FRANCK ROBICHON

França

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França

Onda de suicídios por assédio moral e excesso de trabalho

Da France Telecom à Renault, passando por La Poste, o serviço de correios francês: os suicídios de trabalhadores franceses colocaram os nomes destas empresas na imprensa por incorrerem em práticas abusivas que levaram os seus funcionários à morte. No caso da France Telecom, a justiça francesa determinou, em meados do ano passado, a abertura de um processo por “assédio moral” contra o grupo e o seu ex-presidente Didier Lombard, depois de, entre 2006 e 2009, 60 empregados da empresa se terem suicidado, na sequência do plano de reestruturação da empresa que previa o despedimento de 22 mil funcionários e que, segundo a justiça francesa, terá lançado os responsáveis da empresa na criação deliberada de um “clima profissional de ansiedade” destinado a acelerar os pedidos de demissão. No caso da Renault, a justiça também considerou a empresa responsável pelo suicídio de pelo menos três funcionários, o que levou a empresa a anunciar a contratação de mais 110 engenheiros para reforçar os quadros de pessoal.

Japão

Mais de 189 trabalhadores morreram devido a “karoshi”

As mortes relacionadas com o excesso de trabalho assumiram dimensões de tal magnitude que o Japão inventou uma palavra para as descrever: “karoshi”. E, na última semana de Dezembro, o país adoptou medidas de emergência para garantir que as empresas cumprem o regulamento das horas extraordinárias. O pacote legislativo, em vigor desde o início de Janeiro, prevê inspecções surpresa às empresas e a publicação dos nomes daquelas onde se tenham registado mortes comprovadamente imputáveis ao excesso de trabalho ou que obriguem os seus funcionários a trabalhar mais horas extraordinárias do que as previstas por lei. As medidas surgiram depois de, em Outubro, uma mulher de 24 anos, funcionária de uma empresa líder do sector publicitário, se ter suicidado. A jovem tinha deixado no twitter relatos sobre jornadas diárias de 20 horas consecutivas e terá chegado a trabalhar 105 horas extra por mês. Em 2013, outro funcionário da mesma empresa tinha-se suicidado e invocado motivos semelhantes. Numa cultura onde a dedicação à empresa é quase um culto, as estatísticas oficiais dão conta de 168 mortes devido a fadiga extrema em 2015. Mas a convicção de sindicatos do país é que estas tenham ascendido às 2300 naquele ano.

Alemanha

Volkswagen desliga emails dos funcionários

Na Alemanha, a fabricante de automóveis Volkswagen foi pioneira na adopção de medidas de combate à exaustão por motivos laborais ao aceitar, no final de 2011, bloquear o acesso dos seus empregados ao mail entre as 18h15 e as 7h00. Segundo a imprensa alemã, o acordo surgiu depois de os funcionários se terem queixado de terem de estar disponíveis para trabalhar 24 horas por dia, devido ao facto de possuírem um telemóvel pago pela empresa. O acordo abrangeu 1154 trabalhadores sindicalizados de seis empresas daquele grupo mas deixou de fora os funcionários com cargos de gestão. Na altura em que o caso foi tornado público, a imprensa alemã estimava que o cansaço mental devido a excesso de trabalho na Alemanha resultava em mais de dez milhões de dias de baixa por ano.