Nixon tentou boicotar processo de paz no Vietname para vencer as eleições de 1968
Foram descobertas algumas notas que parecem confirmar que Richard Nixon montou uma operação clandestina para terminar com as negociações de paz lideradas por Lyndon Johnson.
Muito se tem discutido sobre o eventual envolvimento do então candidato a Presidente dos EUA, Richard Nixon, e da sua equipa de campanha no processo de paz da guerra do Vietname, durante as eleições de 1968. Agora parece ter sido confirmado: segundo algumas notas escritas agora encontradas e divulgadas pelo New York Times, Nixon deu instruções ao então assessor H.R. Haldeman para boicotar, por motivos eleitorais, as negociações que tinham como objectivo o fim do conflito no Vietname.
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Muito se tem discutido sobre o eventual envolvimento do então candidato a Presidente dos EUA, Richard Nixon, e da sua equipa de campanha no processo de paz da guerra do Vietname, durante as eleições de 1968. Agora parece ter sido confirmado: segundo algumas notas escritas agora encontradas e divulgadas pelo New York Times, Nixon deu instruções ao então assessor H.R. Haldeman para boicotar, por motivos eleitorais, as negociações que tinham como objectivo o fim do conflito no Vietname.
As eleições presidenciais norte-americanas de 1968 foram uma das mais conturbadas e decisivas do país. Foi um ano marcado pelo assassinato de Martin Luther King, do candidato democrata Robert F. Kennedy, do alastrar da crise dos direitos civis e de uma cada vez maior oposição à guerra do Vietname, que se espalhava por todo o país e por todos os meios sociais, políticos e artísticos.
Este último factor fez com que o Presidente democrata Lyndon B. Johnson, que conquistou o lugar na Casa Branca em 1964 com um dos resultados mais expressivos de sempre, abdicasse da recandidatura pela crescente contestação. Apesar disso, Johnson iniciara já as negociações para terminar com o conflito que tirara a vida de centenas de milhares de soldados americanos.
Pelos democratas entrou então na corrida Hubert Humphrey, que podia beneficiar nas urnas do processo de paz iniciado pelo Presidente em funções. Este era, pelo menos, um dos receios de Nixon.
O investigador John A. Farrel descobriu algumas notas na biblioteca presidencial Richard Nixon que parecem confirmar aquilo que vários historiadores nunca conseguiram comprovar ao longo de décadas. Nos documentos pertencentes a H.R. Haldeman, o assessor mais próximo de Nixon (que se tornaria chefe de gabinete da Casa Branca, funções nas quais desempenharia um papel fundamental no encobrimento do caso Watergate, o que lhe valeria uma pena de prisão), relatam-se telefonemas do então candidato republicano dando instruções para que um intermediário trabalhasse junto dos líderes de Vietname do Sul para que estes não aceitassem os termos do acordo proposto pelos democratas.
O intermediário seria Anna Chennault, viúva de Claire Lee Chennault, líder dos Tigres Voadores da China durante a Segunda Guerra Mundial. Anna Chennault possuía ligações privilegiadas à liderança sul-vietnamita. A sua missão era fazer com o Governo de Saigão não aceitasse o acordo de paz de Johnson e que esperasse por uma proposta melhor de Nixon quando este chegasse à Sala Oval.
Johnson terá até tomado conhecimento do plano clandestino do republicano, mas nunca denunciou publicamente o caso por não possuir provas suficientes.
Nas notas agora divulgadas, Haldeman escreve que foi instruído por Nixon para “manter Anna Chennault a trabalhar no SVN [Vietname do Sul, segundo a sigla em inglês]”. Nas conversas telefónicas, o republicano deu também ordens ao seu candidato a vice-presidente para contactar Richard Helms, director da CIA, para que este mantivesse Nixon informado de todo o processo relativo ao Vietname. Caso contrário seria despedido quando os republicanos vencessem as eleições: “Vai ver o Helms”, lê-se nas notas de Haldeman. “Diz-lhe que queremos a verdade – ou então fica sem o trabalho”.
Depois de deixar a Casa Branca, e quando surgiram os primeiros rumores sobre uma eventual interferência no processo de paz, Nixon negou sempre qualquer contacto com a intermediária Anna Chennault.
Apesar de ter o seu nome intimamente ligado ao caso Watergate, o responsável pela recente descoberta diz que as acções de Nixon nesta operação são “potencialmente piores do que tudo o que ele tenha feito no Watergate”. Farrel defende ainda que fica assim provado que o antigo Presidente americano “mentiu” sobre o caso. E que tinha razões para isso: “As suas acções aparentam violar a lei federal”.
Richard Nixon acabou por ser o responsável pela retirada das tropas americanas do Vietname e pelo respectivo processo de paz, tendo sido este um dos marcos da sua presidência, muitas vezes referido pelo próprio.