Portugueses voltaram a ir mais ao cinema em 2016
Animação e super-heróis versão negra são os filmes mais vistos em 2016. Nos EUA batem-se novos recordes mas não há mais pessoas nas salas – os bilhetes são mais caros. No mundo, a Disney domina.
Este foi o segundo ano consecutivo de crescimento tanto em receitas quanto em número de espectadores no cinema em Portugal. Com um dia de sessões ainda por cumprir, os números indicam que os portugueses compraram mais de 14,6 milhões de bilhetes este ano, investindo 75,1 milhões de euros nas suas idas às salas — que foram novamente uma animação. Os bonecos de A Vida Secreta dos Nossos Bichos foram os mais vistos e só Leonardo DiCaprio sobreviveu a um top ten cheio de desenhos e de anti-super-heróis como Esquadrão Suicida.
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Este foi o segundo ano consecutivo de crescimento tanto em receitas quanto em número de espectadores no cinema em Portugal. Com um dia de sessões ainda por cumprir, os números indicam que os portugueses compraram mais de 14,6 milhões de bilhetes este ano, investindo 75,1 milhões de euros nas suas idas às salas — que foram novamente uma animação. Os bonecos de A Vida Secreta dos Nossos Bichos foram os mais vistos e só Leonardo DiCaprio sobreviveu a um top ten cheio de desenhos e de anti-super-heróis como Esquadrão Suicida.
Contas feitas aos principais filmes em exibição até 28 de Dezembro, os números do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) mostram que eles não se alteraram significativamente em relação ao ano anterior, mas que há para já uma ligeira subida (que tenderá a acentuar-se com as sessões dos últimos dias do ano e com o acerto dos dados pelos operadores).
O ano de 2015 foi o primeiro desde 2010 em que se verificou uma subida das idas ao cinema e do número de espectadores em sala, com 74,9 milhões de euros de receitas brutas de bilheteira e 14,5 milhões de espectadores. Em 2016, e com os números parciais de Dezembro contabilizados pelo PÚBLICO até dia 28 com base nos dados do ICA, há já 75,1 milhões de euros de receitas e 14,6 milhões de ingressos vendidos, uma ligeira subida em relação a 2015 — e a confirmação de que se mantém a tendência. Ainda assim, continuamos longe dos números do início do século, em que o total de espectadores ultrapassava os 18 milhões.
Quanto aos filmes favoritos dos espectadores, se em 2015 a animação dos Mínimos e os franchises de acção encimaram o top, este ano os franchises voltaram, ainda e sempre, mas com super-heróis versão negra. Os mais vistos do ano em Portugal são então: A Vida Secreta dos Nossos Bichos, o mais popular, com 2,9 milhões de euros de receitas brutas de bilheteira e 603 mil espectadores; depois, um dos blockbusters mais arrasados pela crítica de 2016, Esquadrão Suicida, com 2,4 milhões e 449 espectadores; À Procura de Dory, que valeu dois milhões de receita e 423 mil pessoas nas salas, suplantou outra animação animal, Zootrópolis, com 1,8 milhões e 393 mil espectadores, que por seu turno viu o primeiro dos filmes de super-heróis atacados de negrume do ano, Deadpool, ficar logo abaixo, com 1,9 milhões mas só 361 mil espectadores. O sexto filme do ano foi O Renascido, conferido em sala por 311 mil pessoas.
O top dez completou-se com Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los, Batman Vs. Super-Homem: O Despertar da Justiça, A Idade do Gelo: O Big Bang e Angry Birds: O Filme. Todos subprodutos de um outro produto, seja uma série literária (Harry Potter), uma sequela cinematográfica, um universo de comics ou um jogo, respectivamente. O único filme português na lista, em 19.ª posição, é A Canção de Lisboa, terceiro de uma série de remakes de comédias populares do cinema português, com 187 mil espectadores, muito abaixo do fenómeno de 2015, o remake de O Pátio das Cantigas que com 607 mil espectadores é o filme português mais visto dos últimos 40 anos.
Nos EUA, o cenário é o mesmo, mas sem The Revenant: O Renascido, que deu o Óscar de Melhor Filme a Alejandro Iñárritu e o de Melhor Actor a DiCaprio, a conseguir infiltrar-se em mais um ano recorde de bilheteiras. Os dados do Box Office Mojo mostram que o mais visto foi À Procura de Dory, seguido de Capitão América: Guerra Civil, A Vida Secreta dos Nossos Bichos, O Livro da Selva e Deadpool; ao contrário do que aconteceu em Dezembro de 2015, quando a injecção financeira de Star Wars: O Despertar da Força apareceu para tornar o ano bem mais lucrativo, o novo filme Star Wars não chegou para roubar o pódio, fixando-se em sétimo no box office americano de 2016 e em 22.º do português.
Nos EUA, de qualquer modo, continuam a bater-se recordes, com as vendas de bilhetes a ultrapassarem pelo segundo ano consecutivo a marca dos 11 mil milhões de dólares: neste caso, 11,3 mil milhões de dólares (10,7 mil milhões de euros) no balanço estimado de 2016, segundo a empresa de análise de dados ComScore. Os dados foram compilados até ao Natal e a Disney, o estúdio que agrega não só a sua poderosa marca mas também a Marvel Studios e a Lucasfilm, é a força dominadora.
“Toda a gente vai ver os mesmos filmes. E são sobretudo da Disney”, constata Doug Creutz, analista da Cowen and Company, citado pela Vanity Fair. Dos grandes êxitos de bilheteira do ano, cinco (Capitão América, Zootrópolis, Rogue One, Dory e O Livro da Selva) são Disney, estúdio que teve o melhor ano de sempre no box office mundial com receitas brutas de mais de sete mil milhões de euros. ”Saímo-nos bem ao criar o que os miúdos chamariam FOMO”, ou “fear of missing out” (o medo de ficar de fora, em tradução livre), congratulou-se Dave Hollis, vice-presidente de vendas e distribuição do estúdio do rato Mickey. Os filmes da Disney envolvem um ingrediente-chave, disse Hollis: “Fazer parte do fenómeno."
Ainda assim, e como mostra uma análise mais fina dos dados nos últimos anos, o facto de as bilheteiras renderem mais e de haver estúdios capazes de assegurar uma quota esmagadora do mercado não quer dizer que haja mais pessoas nos cinemas. Há sim bilhetes mais caros e sessões mais caras, sobretudo em 3D ou salas IMAX. “É enganador. Olhando para o box office, ele parece saudável, mas é só um punhado de títulos que está a ter este tipo de sucesso”, lembrou ao Los Angeles Times Adam Goodman, antigo responsável pela produção na Paramount. É como o filme europeu de 2015: foi um ano recorde no cinema na Europa, mas com os espectadores a pagarem mais por bilhete e a irem ver menos cinema europeu.
Há “demasiados filmes caros”, disse Cruetz, e menos espectadores do que antigamente, mesmo quando se sabe que os americanos vêem em média cinco a seis filmes por ano em sala. Mas procuram e encontram sobretudo personagens (re)conhecidas, grandes produções de choque e espanto e histórias de inspiração juvenil, em detrimento de trabalhos autorais ou de médio porte.
Em França, o ano também foi de crescimento, com 213 milhões de espectadores, que, juntamente com receitas estimadas de 1,3 mil milhões de euros, fizeram de 2016 o segundo melhor ano em meio século, segundo dados do Centre National du Cinéma. Porém, as bilheteiras do país europeu que mais vai ao cinema lucraram não só com os blockbusters americanos mas também com comédias francesas de sucesso como Les Tuche.