O plano dos opositores do euro em Itália
Não dar tempo para os especuladores atacarem, pôr o Estado a injectar dinheiro na economia, pagar as dívidas na nova moeda e esperar pelo crescimento da economia. É esta a estratégia de saída na terceira maior economia da zona euro.
Corridas aos bancos? Desvalorização a pique da nova moeda? Inflação galopante? Para todos os cenários negativos geralmente projectados quando se fala da saída de um país da moeda única, Claudio Borghi Aquilini tem resposta: são exageradamente pessimistas, existem várias formas de controlá-los e serão facilmente superados a partir do momento em que as vantagens de uma economia ter a sua moeda própria começarem a ser evidentes.
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Corridas aos bancos? Desvalorização a pique da nova moeda? Inflação galopante? Para todos os cenários negativos geralmente projectados quando se fala da saída de um país da moeda única, Claudio Borghi Aquilini tem resposta: são exageradamente pessimistas, existem várias formas de controlá-los e serão facilmente superados a partir do momento em que as vantagens de uma economia ter a sua moeda própria começarem a ser evidentes.
O plano delineado por este economista para a saída da Itália do euro não tem nada de muito inovador em relação a planos do género apresentados noutros países. Aposta na rapidez da operação para reduzir o período de incerteza, prevê a aplicação de medidas que minimizem os efeitos negativos imediatos de uma mudança de divisa e aposta tudo na ideia de que os ganhos potenciais a prazo para a economia vão superar de forma rápida as eventuais perdas do curto prazo.
Em primeiro lugar, a rapidez. No plano, não há lugar a qualquer referendo, porque durante o período de discussão pública da possibilidade de saída da Itália do euro, o país ficaria sujeito “a ataques especulativos” a que um governo favorável ao euro não saberia responder. “A única forma de fazer a mudança é por meio de um governo democraticamente eleito que aja velozmente por decreto”, diz-se no plano, que não esclarece contudo de que forma é que se conseguiria evitar os eventuais ataques especulativos que ocorreriam assim que começasse a ficar claro que os partidos favoráveis à saída do euro poderiam vencer as eleições.
A principal decisão que seria tomada pelo Governo era a conversão da moeda de euros para uma nova denominação só italiana. Poderia ser o regresso à lira ou outro nome, sendo o florim o preferido de Claudio Borghi Aquilini. Um euro seria trocado por um florim, evitando-se o fenómeno do arredondamento e o efeito desmoralizador dos elevados valores que eram aplicados nas liras (quando se fez a mudança para euro, um euro valia 1936,27 liras).
A mudança, de acordo com o plano não exigiria no imediato a criação de moedas e notas físicas, podendo tudo ser feito por via electrónica e beneficiando da nova tecnologia existente para o efeito.
Claro que, perante esta mudança, e face a um cenário de muito provável desvalorização da nova moeda face ao euro e a outras divisas internacionais, quem visse os seus depósitos, títulos de dívida e outros activos serem convertidos para florins teria a tentação de fazer alguma coisa rapidamente, se não antes da redenominação, imediatamente depois. Exemplos como os da Grécia e Chipre recentemente ou da Argentina na década passada mostram que muito rapidamente se pode desencadear uma corrida aos depósitos, acompanhada da tentativa de colocar o dinheiro fora do país.
No plano, assume-se a dado momento que “provavelmente, durante a conversão, por alguns dias, será necessário fechar os bancos para impedir a especulação”. Não se especifica contudo durante quantos dias esse cenário excepcional (e muito negativo para a actividade económica) persistiria.
Para compensar, e ajudar a economia no imediato, Claudio Borghi Aquilini lança algumas ideias. A principal é a injecção, ainda antes da redenominação, de liquidez na economia. Isso seria feito pelo Tesouro e não pelo banco central, através da entrega aos fornecedores do Estado de títulos de dívida correspondentes aos 90 mil milhões de euros de dívida comercial actualmente existente na Administração Pública italiana. Esses títulos seriam emitidos com valores equivalentes às notas actuais e poderiam ser usados como meio de pagamento entre as pessoas, contrabalançando uma eventual redução brusca da liquidez no país.
A viabilidade imediata dos bancos, que ficariam ainda mais pressionados pela redução dos depósitos, seria assegurada pela intervenção do Estado e do banco central.
Em relação ao exterior, aquilo que é assumido no plano é que a Itália entraria na prática em incumprimento parcial das suas obrigações. Por exemplo, assume-se que o banco central italiano assumiria os seus compromissos face aos outros bancos centrais da zona euro (incluindo o português), não em euros, mas na nova moeda do país, que valeria bastante menos.
Claudio Borghi Aquilini, ainda assim, faz questão de assegurar que não acredita em cenários de forte desvalorização da nova moeda e de hiperinflação num pós saída do euro por parte da Itália. O economista defende que a desvalorização da moeda aconteceria mas seria relativamente moderada, porque rapidamente os produtos italianos ficariam mais competitivos e o excedente comercial do país tornar-se-ia ainda maior. Seriam os próprios parceiros comerciais da Itália a terem interesse em sustentar o valor da nova divisa italiana, acredita, assegurando que o efeito económico positivo de uma moeda mais adaptada às necessidades da Itália resolveria todos os problemas.