Um prato populista
O ataque à União Europeia pela via do populismo promete dominar o ano político e a receita italiana é hoje apresentada por Claudio Borghi nas primeiras páginas deste jornal. Mas o prato pode ter geografias variáveis, conforme venha de Geert Wilders na Holanda, do espanhol Pablo Iglésias ou das muitas opções disponíveis na Grécia. A lista de ingredientes tem sempre à cabeça a saída do euro, acompanhada por bastas doses de demagogia sobre o futuro. Como em muitos outros momentos, prometem-se amanhãs que cantam e tecem-se loas ao nacionalismo. A receita é indigesta e os resultados já foram experimentados em vários momentos da história recente da Europa — com resultados dramáticos.
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O ataque à União Europeia pela via do populismo promete dominar o ano político e a receita italiana é hoje apresentada por Claudio Borghi nas primeiras páginas deste jornal. Mas o prato pode ter geografias variáveis, conforme venha de Geert Wilders na Holanda, do espanhol Pablo Iglésias ou das muitas opções disponíveis na Grécia. A lista de ingredientes tem sempre à cabeça a saída do euro, acompanhada por bastas doses de demagogia sobre o futuro. Como em muitos outros momentos, prometem-se amanhãs que cantam e tecem-se loas ao nacionalismo. A receita é indigesta e os resultados já foram experimentados em vários momentos da história recente da Europa — com resultados dramáticos.
O populismo não é de esquerda nem de direita, podendo surgir num lado ou noutro do espectro político. O denominador comum ideológico em todos os movimentos populistas é a separação entre o povo genuíno e a elite corrupta que rouba os privilégios para se eternizar no poder. É também um pensamento construído com base em manipulação dos factos e em mentiras descaradas, estruturado normalmente em torno de um líder carismático que se põe sempre do lado bom da sociedade. Foi este discurso que deu a vitória a Orban na Hungria, ao “Brexit”, que deixou a União Europeia catatónica, e foi também este discurso que, em parte, deu o triunfo a Trump.
É o primado do “nós contra eles”, mudando o “eles” de acordo com as conveniências de quem representa o “nós”.
Os fenómenos populistas são um desafio tremendo às sociedades democráticas, até porque é delas que derivam. E se o seu nascimento é matéria de estudo académico, o combate que é imperativo tem de ser eminentemente político. Ficou já claro que não há na Europa capacidade política para fazer frente aos populismos emergentes. Pode ainda não ser desta que a Frente Nacional ganha em França, ou que o 5 Estrelas triunfa em Itália. Mas mais cedo ou mais tarde, numa potência ou noutra, os populistas vão tomar conta do poder. E os resultados podem ser catastróficos.
Em 2017, com eleições em meia Europa, o impensável está em cima da mesa. A União Europeia pode morrer por dentro, forçada à irrelevância pelo desatino entre os novos senhores das políticas nacionais e o ideal de Schumann. Era bom saber se, em São Bento, há plano B que vá para lá da alegria tonta de Bloco e PCP face a este cenário que será ruinoso
para Portugal.