Construção de casas em colonatos é arma de retaliação para o Governo israelita
Os colonatos são vistos como um obstáculo para a paz entre israelitas e palestinianos e para a solução dos dois Estados.
Os anúncios de novas casas em colonatos judaicos em território ocupados na Cisjordânia ou em Jerusalém Oriental acontecem muitas vezes no seguimento de acções que o Governo israelita considera nocivas para o Estado hebraico ou por retaliação, por exemplo, após ataques palestinianos.
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Os anúncios de novas casas em colonatos judaicos em território ocupados na Cisjordânia ou em Jerusalém Oriental acontecem muitas vezes no seguimento de acções que o Governo israelita considera nocivas para o Estado hebraico ou por retaliação, por exemplo, após ataques palestinianos.
Os colonatos são vistos como um obstáculo para a paz entre israelitas e palestinianos e muitos responsáveis que querem uma solução de dois Estados, com a criação de um Estado palestiniano ao lado de Israel – sobretudo palestinianos, mas também a comunidade internacional e alguns israelitas – temem que o seu crescimento impeça esta solução: o aumento dos colonatos, especialmente em Jerusalém Leste, deixaria a Cisjordânia praticamente cortada em duas metades, impedindo a livre deslocação de palestinianos no que seria o seu Estado.
Esta não é a primeira vez em que os colonatos são uma questão especialmente contenciosa entre o Governo de Benjamin Netanyahu e a Administração de Barack Obama. Em 2010, durante uma visita do vice-presidente Joe Biden à região com o objectivo de relançar o processo de paz, um ministro israelita anunciou a construção de mais casas em Ramat Shlomo, um colonato de Jerusalém Oriental, provocando um grande mal-estar diplomático. Netanyahu lamentou o timing do anúncio e pediu desculpas, mas não o revogou. Mais tarde, nos EUA, havia de deixar uma mensagem à Administração Obama, repetindo que “Jerusalém não é um colonato”.
A União Europeia tem sido mais assertiva, e tem levado a cabo várias acções para penalizar os colonatos israelitas, com a proibição de financiamento a instituições académicas em território para além da Linha Verdade, a fronteira de facto entre Israel e os territórios ocupados, e a adopção de uma distinção na rotulagem de produtos agrícolas vindos de Israel que identifica claramente os provenientes de colonatos.
Netanyahu comparou a proposta de rotulagem da Comissão Europeia, do final de 2015, ao boicote nazi das lojas e negócios detidos por judeus. E poucos dias depois, o Governo israelita anunciou a aprovação da pré-venda de centenas de casas a construir no colonato de Ramat Shlomo.
Em Setembro de 2014, o Governo de Netanyahu fez outro anúncio de mais casas em colonatos, na altura considerada uma das maiores das últimas décadas, para aumentar Gush Etzion, perto de Belém, depois de expropriar terras de palestinianos. O anúncio ocorreu depois do assassínio de três estudantes israelitas, num caso que chocou o país: vários analistas dizem que se tratou de uma medida de vingança do Estado de Israel pelo rapto e assassínio dos estudantes. Um dos anúncios mais recentes de casas no grande colonato de Maaleh Adumin, perto de Jerusalém, em Julho de 2016, foi feito após uma onda de ataques palestinianos contra israelitas, com esfaqueamentos e tiros em que morreram dois israelitas.
Outro anúncio anterior, desta vez em 2013, de novo em Ramat Shlomo, foi feito após um acordo de libertação de presos palestinianos por Israel no âmbito de medidas de construção de confiança para conversações de paz, no esforço liderado pelo secretário de Estado americano, John Kerry. O anúncio foi criticado e Israel foi mais uma vez acusado de não estar a levar a sério o processo de paz.