Morreu Debbie Reynolds, a actriz que fez Gene Kelly cantar à chuva
A morte da filha, a actriz Carrie Fisher, um dia antes parece ter sido fatal para uma estrela do cinema que, aos 84 anos, via a saúde degradar-se há algum tempo.
“Ela queria estar com a Carrie.” Foi assim que Todd Fisher confirmou à Variety a morte da sua mãe, a actriz Debbie Reynolds. Tinha 84 anos e não resistiu ao desaparecimento da filha, Carrie Fisher, apenas um dia antes. Hollywood perde quase de uma assentada dois dos mais conhecidos rostos de duas épocas marcantes do cinema norte-americano: se Fisher era a princesa Leia de Star Wars e e um dos ícones mais reconhecíveis da era dos blockbusters, Reynolds foi a Kathy Selden de Serenata à Chuva, que co-protagonizou com Gene Kelly e Donald O'Connor, e estrela dos musicais da “golden age”.
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“Ela queria estar com a Carrie.” Foi assim que Todd Fisher confirmou à Variety a morte da sua mãe, a actriz Debbie Reynolds. Tinha 84 anos e não resistiu ao desaparecimento da filha, Carrie Fisher, apenas um dia antes. Hollywood perde quase de uma assentada dois dos mais conhecidos rostos de duas épocas marcantes do cinema norte-americano: se Fisher era a princesa Leia de Star Wars e e um dos ícones mais reconhecíveis da era dos blockbusters, Reynolds foi a Kathy Selden de Serenata à Chuva, que co-protagonizou com Gene Kelly e Donald O'Connor, e estrela dos musicais da “golden age”.
Debbie Reynolds estava em casa do filho, em Beverly Hills, quando começou a debater-se com problemas respiratórios. Estariam a conversar sobre os detalhes do funeral de Carrie Fisher, segundo o TMZ, o primeiro meio de comunicação a dar a notícia de que a actriz tinha sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) nesta quarta-feira. Reynolds foi conduzida de ambulância para o Centro Médico Cedars-Sinai, em Los Angeles, onde acabou por morrer (já madrugada de quinta-feira em Lisboa). Todd Fisher confirmou o diagnóstico aos jornalistas: “A última coisa que ela disse esta manhã foi que estava muito, muito triste por ter perdido a Carrie e que gostaria de estar com ela outra vez”, cita o Guardian. “Quinze minutos mais tarde, sofreu um AVC grave.”
Todd Fisher acrescentou ainda, segundo a Associated Press, que a morte da sua irmã “foi demasiado” para a saúde frágil da mãe – que tinha sofrido um pequeno AVC em Junho, quando se encontrava a recuperar de uma intervenção cirúrgica; um mês antes, Carrie Fisher tinha dito que Debbie Reynolds havia estado “um pouco mais frágil” durante a rodagem de Bright Lights: Starring Carrie Fisher and Debbie Reynolds, documentário em que a agitada e forte relação entre ambas volta a ser abordada pela actriz de Star Wars depois da primeira investida feita com Postcards From the Edge, um romance de carácter autobiográfico publicado em 1987.
“Obrigado a todos os que abraçaram os dons e os talentos da minha querida e extraordinária filha”, escreveu Debbie após a morte de Carrie, numa emocionada mensagem publicada no Facebook. “Estou grata pelos vossos pensamentos e preces que a estão a guiar até à sua próxima paragem.” Todd Fisher – que também trabalhou em cinema como actor, realizador e produtor – disse que “o único consolo” que a família tem neste momento “é que o que ela queria fazer era cuidar da sua filha, que é o que ela fez melhor”. “Ela está com Carrie agora e estamos todos de coração partido.”
O show da girl-next-door
O American Film Institute considera Serenata à Chuva (1952) o melhor musical de sempre do cinema norte-americano – logo, é também o mais marcante da carreira de Debbie Reynolds; mas não é o único. Depois de se estrear no cinema aos 16 anos e de participar em alguns filmes da Warner Bros – estúdio que a descobriu num concurso de beleza –, foi contratada em 1950 pela MGM, surgindo de imediato num filme com Fred Astaire (Três Palavrinhas) e criando um hit na película seguinte, Duas Semanas de Amor, num dueto com Carleton Carpenter.
Os musicais preencheram toda a década de 1950 de Debbie Reynolds, que contracenou com Bobby Van, Dick Powell, Jane Powell, Frank Sinatra, Bette Davis, Ernest Borgnine, Leslie Nielsen, Glenn Ford ou, claro, Gene Kelly (é com ela a cena que motiva a famosa “serenata à chuva”). O reconhecimento da Academia veio mais tarde, quando a nomeou para o Óscar de Melhor Actriz pela performance em Os Milhões de Molly Brown (1964), a história de uma rapariga simples em busca de um marido e de uma vida melhor. Tinha 31 anos.
Nessa altura, Debbie Reynolds já se tinha separado do cantor Eddie Fisher (1928-2010), com quem teve dois filhos (Todd e Carrie) e que a traiu abertamente com a actriz Elizabeth Taylor, num escândalo que ocupou as colunas de mexericos da época. Estava casada em segundas núpcias com Harry Karl, de quem se viria a divorciar em 1973. Casar-se-ia uma terceira vez, com Richard Hamlett, numa união que durou de 1984 a 1996.
Reynolds nasceu em El Paso, Texas, a 1 de Abril de 1932. O diminutivo por que ficou conhecida só chegou mais tarde. Na certidão de nascimento, lê-se: Mary Frances Reynolds. Mudou-se com a família para a Califórnia (Burbank) quando tinha apenas sete anos. Filha de Raymond Francis Reynolds, um carpinteiro da companhia de caminhos-de-ferro Southern Pacific Railroad, e de Maxine Harmon, com uma complexa ascendência britânica (inglesa, escocesa e irlandesa), foi criada segundo os preceitos de uma igreja metodista norte-americana.
Ainda era escuteira quando gravou Serenata à Chuva; ainda se sentia compelida a dar primazia às iniciativas da “comunidade” – como se diz nos EUA – a cumprir as exigências que um grande estúdio tinha então para uma actriz que estava à beira de se tornar uma estrela de cinema global. Apesar de Serenata à Chuva ser o seu sexto filme, foi aí que a sua carreira se balanceou para a década e meia e seguinte, tempo em que consolidou o seu nome em Hollywood.
Em 1969, chegou à televisão com uma sitcom em nome próprio – The Debbie Reynolds Show. Fez uma única temporada, mas o pequeno ecrã passaria a ser uma constante: após uma década de 1970 muito apagada tanto na TV como no cinema, regressou nos anos 1980 para alguns episódios de O Barco do Amor e a partir daí, e ao longo das três décadas e meia seguintes, participou em séries e telefilmes (o último dos quais foi Por Detrás do Candelabro, de Steven Soderbergh, no qual interpretou a mãe do extravagante Liberace) e deu voz a personagens de animação.
A sua participação em Will & Grace valeu-lhe uma nomeação aos Emmys em 2000, numa das diversas ocasiões de reconhecimento que voltou a ter pelo seu trabalho na sequência de Mãe, onde interpretava a personagem-título do filme de Albert Brooks. Foi por esse papel que foi nomeada pela quinta e derradeira vez aos Globos de Ouro e foi com Mãe a estrear nas salas comerciais que ganhou o direito a ter uma estrela no Passeio da Fama de Hollywood, em 1997. Um momento de glória, sobretudo para quem dedicou tanto da sua vida a montar uma cuidada colecção de homenagem à história do cinema, com peças de guarda-roupa, adereços de produção e artigos de memorabilia no geral de artistas como Charlie Chaplin, Orson Welles, Scarlett O'Hara, Cary Grant ou Shirley MacLaine.
Em quase 70 anos de carreira, Debbie Reynolds recebeu vários prémios. O último dos quais chegou-lhe directamente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas – o Jean Hersholt Humanitarian Award, um Óscar honorário que lhe foi atribuído na edição de 2016. A recuperar de uma cirurgia, a actriz não esteve na cerimónia. O elogio foi feito por Meryl Streep, que a qualificou como “uma das estrelas mais amadas de várias gerações”. Minutos depois, Jane Fonda completou a vénia: “Debbie, por tudo o que és e por tudo o que fizeste, obrigada”.