O exercício é esclarecedor: retirem-se a Eu, Daniel Blake todas as cenas passadas em centros de emprego, bancos alimentares, de confronto aberto do homem da rua com a burocracia kafkiana estatal que fazem passar a mensagem social que norteia o mais recente filme de Ken Loach.
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O exercício é esclarecedor: retirem-se a Eu, Daniel Blake todas as cenas passadas em centros de emprego, bancos alimentares, de confronto aberto do homem da rua com a burocracia kafkiana estatal que fazem passar a mensagem social que norteia o mais recente filme de Ken Loach.
Retirando todas essas cenas, continuamos a ter um estupendo drama na melhor tradição britânica sobre gente que procura sobreviver o melhor que pode pelo meio de uma vida que não os tratou tão bem como isso.
É este exercício de subtracção que ajuda a explicar porque é que Eu, Daniel Blake é um óptimo filme: o cineasta inglês está no seu melhor quando dá espaço para existirem pessoas de carne e osso pelo meio das suas narrativas militantes. Eu, Daniel Blake é isso: um filme que se recusa a tratar os seus heróis como estatísticas ou peões, e que olha para eles — e, já agora, para os espectadores — como indivíduos com vidas, sonhos, ambições, desejos, aspirações.
Chega, e sobra, para desculpar um ou outro escorregão sublinhado a traço grosso, e para fazer de Eu, Daniel Blake o melhor Loach em muito tempo.