A minha previsão: vão falhar todas as previsões
O desafio mais interessante não é tanto adivinhar o que se irá passar de melhor ou de pior, mas antes tentar averiguar se o país está preparado para o caso de as coisas correrem mal.
A minha grande previsão para 2017 é que ninguém vai acertar nas suas previsões para 2017. A imprevisibilidade é a única certeza ao nosso alcance, pelo que o desafio mais interessante não é tanto adivinhar o que se irá passar de melhor ou de pior, mas antes tentar averiguar se o país está preparado para o caso de as coisas correrem mal, e de o famoso diabo resolver aparecer numa manhã de enxofre, com alguns meses de atraso. A esta hipótese já consigo dar uma resposta firme, até porque não é preciso ser grande pitonisa para vislumbrar tal futuro: o país não está preparado. Portugal passou 2016 a fazer trabalho de cigarra quando devia tê-lo passado a fazer trabalho de formiga, e por isso, tal como na fábula, não está em condições de enfrentar qualquer espécie de Inverno.
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A minha grande previsão para 2017 é que ninguém vai acertar nas suas previsões para 2017. A imprevisibilidade é a única certeza ao nosso alcance, pelo que o desafio mais interessante não é tanto adivinhar o que se irá passar de melhor ou de pior, mas antes tentar averiguar se o país está preparado para o caso de as coisas correrem mal, e de o famoso diabo resolver aparecer numa manhã de enxofre, com alguns meses de atraso. A esta hipótese já consigo dar uma resposta firme, até porque não é preciso ser grande pitonisa para vislumbrar tal futuro: o país não está preparado. Portugal passou 2016 a fazer trabalho de cigarra quando devia tê-lo passado a fazer trabalho de formiga, e por isso, tal como na fábula, não está em condições de enfrentar qualquer espécie de Inverno.
Quando falo em Inverno não estou sequer a referir-me à possibilidade de nevar no Algarve — uma qualquer ventania mais prolongada irá novamente deitar abaixo a frágil estrutura económica do país. Essa ventania poderá tomar a forma do “Brexit”, das eleições francesas, das eleições alemãs, de Donald Trump e do seu cada vez mais evidente desejo de enfrentar a China e limitar a liberdade dos mercados, poderá tomar a forma do terrorismo islâmico ou de um conflito aberto com a Turquia na questão dos refugiados, ou ainda das tendências expansionistas da Rússia. O que não falta pelo mundo são luzes de alerta a piscar, numa espécie de árvore de Natal virada do avesso e deixada nas mãos de um “angry Grinch” sem vontade de se converter às amenidades liberais.
Ou pode nada disto acontecer, e nem sequer ser preciso um momento preciso e trágico para nos enviar para novo colapso. A própria banalidade dos dias é nossa inimiga. Voltámos a ter como principal ocupação andar distraídos: a dívida continua a crescer, as famílias voltaram a consumir o que não conseguem pagar, a esperança de vida continua a aumentar, o crescimento dos custos com a Segurança Social e com a Saúde irá manter-se. Uma última previsão para 2017? A Terra vai continuar a rodar. Só que a simples rotação da Terra conspira contra nós.