Um acordo vital (e revelador)
António Costa percebeu que, em 2017, não vai servir a divisão esquerda/direita com que reinou no ano que agora termina.
Não há momento algum da história em que um acordo de concertação social seja mau, mas há momentos em que ele é ainda mais importante. É o caso do entendimento que o Governo conseguiu na última quinta-feira, com a CIP e a UGT. Para perceber porquê, basta recuperar o que disse o Presidente da República um dia antes: o ano que se segue é muito imprevisível e exige enorme cuidado e um consenso o mais amplo possível. Não o lemos assim quando Marcelo o disse, mas é ajustado que o façamos: em 2017 não vai servir a divisão esquerda/direita com que se reinou no ano que agora termina, vai ser preciso ser mais inclusivo para ter mais resultados. Só com eles Portugal pode escapar à tempestade que pode estar a caminho, entre Trump, as eleições francesas e a política do BCE.
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Não há momento algum da história em que um acordo de concertação social seja mau, mas há momentos em que ele é ainda mais importante. É o caso do entendimento que o Governo conseguiu na última quinta-feira, com a CIP e a UGT. Para perceber porquê, basta recuperar o que disse o Presidente da República um dia antes: o ano que se segue é muito imprevisível e exige enorme cuidado e um consenso o mais amplo possível. Não o lemos assim quando Marcelo o disse, mas é ajustado que o façamos: em 2017 não vai servir a divisão esquerda/direita com que se reinou no ano que agora termina, vai ser preciso ser mais inclusivo para ter mais resultados. Só com eles Portugal pode escapar à tempestade que pode estar a caminho, entre Trump, as eleições francesas e a política do BCE.
É por isso que este acordo é também revelador sobre onde se está a posicionar o Partido Socialista. Patinando sob gelo fino, entre a esquerda e Bruxelas, entre os compromissos e as contas públicas, entre os sindicatos e os empresários, António Costa deu um passo arriscado quando escolheu dar um bónus nos descontos da TSU para fazer subir o salário mínimo para os valores acordados. Não era fácil decidi-lo, porque horas antes tinha ouvido o Bloco, o PCP e os Verdes avisar que não tinham gostado da proposta inicial - sobretudo porque nos acordos com estes partidos o PS tinha-se comprometido a "analisar" esse desconto. Costa analisou-o, sim, mas para o fazer subir e não descer.
A determinação de António Costa é justificada, porque Costa (como Marcelo) sabe que precisa de fazer crescer mais a economia. E que não pode consegui-lo se tornar a vida mais difícil para os empresários, muito menos deixá-los àparte da estratégia do Governo. Só com a economia a crescer mais Costa criará mais emprego. Só com a economia a crescer mais e com os empresários e a UGT ao seu lado poderá tranquilizar os credores e Bruxelas.
É bom dizê-lo que a coragem de Costa foi bem medida. E isso é muito perceptível no momento que o Governo escolheu para levar avante esta negociação: em vez de o fazer em cima do Orçamento, fez primeiro passá-lo na Assembleia. Uma vez fechadas as conversas à esquerda, foi depois segurar o centro. Sem que Bloco ou PCP tenham a possibilidade ou argumento suficiente para deitar tudo abaixo - seria mandar a criança embora com a água do banho.
Agora, com um acordo de concertação na mão, com um défice bem controlado (assim o diz a execução orçamental, assim ajuda o perdão fiscal), Costa tem mais segurança para enfrentar um ano difícil. Com a sorte de ver o PSD entretido numa intriga sobre a liderança.