É possível conciliar congresso contra Passos e autárquicas?
Uma reunião magna do partido contra Passos Coelho já só poderia acontecer numa altura em que já estavam apresentados os candidatos autárquicos aprovados pela actual liderança.
A realização de um congresso extraordinário para discutir a liderança de Passos Coelho a poucos meses de umas eleições autárquicas difíceis para o partido é, para muitos sociais-democratas ouvidos pelo PÚBLICO, uma incompatibilidade política. O processo de marcação de uma reunião magna demora, no mínimo dois a três meses, o que empurra a data para a Primavera. Nessa altura, o PSD já se comprometeu em ter na rua os nomes de todos os candidatos autárquicos, aprovados pela direcção de Passos Coelho.
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A realização de um congresso extraordinário para discutir a liderança de Passos Coelho a poucos meses de umas eleições autárquicas difíceis para o partido é, para muitos sociais-democratas ouvidos pelo PÚBLICO, uma incompatibilidade política. O processo de marcação de uma reunião magna demora, no mínimo dois a três meses, o que empurra a data para a Primavera. Nessa altura, o PSD já se comprometeu em ter na rua os nomes de todos os candidatos autárquicos, aprovados pela direcção de Passos Coelho.
Depois da recolha de assinaturas para a realização de um congresso extraordinário – que o semanário Expresso noticiou esta sexta-feira estar em marcha, por iniciativa de apoiantes de Rui Rio – o processo de marcação tem os seus prazos próprios que são aprovados num regulamento em Conselho Nacional. Se o congresso for precedido por eleições directas para o líder do partido, os procedimentos são ainda mais morosos. Para a reunião magna deste ano, com carácter ordinário, foram precisos quatro meses, desde que o Conselho Nacional decidiu (10 de Dezembro de 2015) realizá-la até à data em que decorreu – 1,2 e 3 de Abril. Durante este tempo, houve eleição de delegados, prazos para entrega de propostas de estratégia global dos candidatos à liderança, o próprio acto eleitoral, a publicação de listas provisórias de delegados e de participantes, e a data-limite para a entrega de moções temáticas, entre outros formalismos.
A realização de um congresso com cariz extraordinário podia acelerar o processo, mas o congresso acabaria sempre por coincidir com o lançamento das autárquicas. Uma situação que não agrada a dirigentes distritais ouvidos pelo PÚBLICO, que consideram essa interferência mais prejudicial para as próprias estruturas do que até para Passos Coelho. “Não é só o líder que pode perder as eleições autárquicas, cada distrital tem de olhar para si própria”, confidencia um líder distrital.
Caso venha a ser provocado um congresso na Primavera, o PSD estará a aquecer a máquina para a corrida eleitoral que Passos Coelho já disse querer ganhar, com mais votos e maior número de câmaras. Neste momento, as estruturas locais estão focadas nas autárquicas e essa concentração será ainda mais forte no próximo ano. Os candidatos aos municípios – em coligação com outros partidos ou não - já estarão todos escolhidos e homologados pela comissão política de Passos Coelho.
Os sociais-democratas assumem que há desconforto com as autárquicas – em particular com uma coligação em Lisboa para apoiar Assunção Cristas - e com a liderança de Passos Coelho. Mas o líder ainda mantém muitos apoios no partido, depois de ter ganho as legislativas do ano passado e de ter sido ultrapassado por uma maioria de esquerda no Parlamento.
Por outro lado, a figura de Rui Rio, como candidato alternativo à direcção, não tem granjeado muitas simpatias entre os dirigentes sociais-democratas. Já Luís Montenegro, actual líder parlamentar, é visto como um nome capaz de conquistar mais apoio. Mas tem feito parte, nos últimos anos, da direcção liderada por Passos Coelho, o que lhe reduz a margem para ser candidato. Pelo menos para já.
CDS insiste em Moreira
As negociações entre o PSD e o CDS em Lisboa são um dos motivos de contestação no PSD. Sem se pronunciar directamente sobre as conversações em curso, Passos Coelho referiu-se à possibilidade de coligações nas duas grandes cidades. “Se, porventura, não for possível virmos a ter uma coligação com o CDS em Lisboa e no Porto, isso não quer dizer que não sejamos, na mesma, parceiros naturais", afirmou aos jornalistas. Para já no Porto, o CDS arrumou a questão, assumindo o apoio ao independente Rui Moreira. Assunção Cristas já reiterou que não voltará atrás na palavra dada no congresso em Março e na próxima semana a concelhia do CDS-Porto vai formalizar esse apoio. O actual presidente da câmara já tem também o apoio do PS, apesar de algumas discordâncias internas no campo socialista. O PSD, por seu turno, já escolheu o seu candidato – o independente Álvaro Almeida, ex-presidente da ERS (Entidade Reguladora da Saúde).