O boletim meteorológico de Belém
O que ontem Marcelo acrescentou é que o Presidente não é o menino Jesus: por muita fé que tenha, o boletim meteorológico continua a apontar para mau tempo.
Foi rápido a decidir, muito rápido a falar: Marcelo Rebelo de Sousa já nos tinha dito que não tinha um problema com o Orçamento para 2017. Mas o que ontem acrescentou é que o Presidente não é o menino Jesus: por muita fé que tenha, o boletim meteorológico continua a apontar para mau tempo. E, quando a previsão é de mau tempo, o melhor é fazer como a formiguinha: ser comedido e prudente.
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Foi rápido a decidir, muito rápido a falar: Marcelo Rebelo de Sousa já nos tinha dito que não tinha um problema com o Orçamento para 2017. Mas o que ontem acrescentou é que o Presidente não é o menino Jesus: por muita fé que tenha, o boletim meteorológico continua a apontar para mau tempo. E, quando a previsão é de mau tempo, o melhor é fazer como a formiguinha: ser comedido e prudente.
Analisando o discurso ao detalhe, percebemos que Marcelo não põe a mão por cima do Orçamento como se jurasse a Constituição. De todas as razões que apresenta para o promulgar, o Presidente dá-nos apenas uma que se relaciona com o documento: o facto de Bruxelas ter aceitado a meta lá inscrita para o défice. Tudo o resto são factores externos, resumidos numa frase: vem aí “um ano complexo, no mundo e na Europa, com inúmeras eleições e negociações para a saída do Reino Unido, tudo convidando à acrescida estabilidade orçamental e política”.
Marcelo também traça os desafios "sérios" que antevê à execução do próprio Orçamento: atenção à consolidação do sistema bancário; mais crescimento económico, mais investimento e exportações. E, ao mesmo tempo, com “reforçado rigor orçamental”.
A lista seria uma habitual quadratura do círculo, não fosse o preâmbulo: cuidado, que pode vir aí uma tempestade. E nós sabemos bem no que está a pensar o Presidente (não tendo dito tudo). Não são apenas as eleições na Europa, que também podem trazer chuva, é também Trump (que pode mudar a política monetária e comercial do Ocidente). E ainda a política de estímulos do BCE, que já começou a retrair-se em particular no que respeita a Portugal, com implicações no financiamento do Estado e também do nosso frágil sector bancário.
Curioso: não fosse Marcelo tido por um apoiante deste Governo, o discurso de ontem podia ser lido como um aviso “sério”, palavra que o Presidente usou no discurso muito informal de ontem. Lidos sem as adjectivações habituais na política, os avisos de Marcelo nem são substantivamente diferentes dos que tem usado Passos Coelho em vários dos seus discursos.
Mas, claro, Marcelo abre e fecha com duas notas que em nada se aproximam do que vai dizendo a oposição à direita: que confia nas contas do Governo porque elas se têm mostrado certinhas; e que não quer ouvir falar em instabilidade política, muito menos em tempos de incerteza. Fica, portanto, a nota para 2017: o ano pode não ser fácil, mas vai ser Costa a lidar com o mau tempo, com a confiança do comandante.