Valls enfarinhado, depois de dizer que acabaria com o "49.3" se fosse Presidente
O ex-primeiro-ministro francês, que tenta ser escolhido como candidato da esquerda às presidenciais, anunciou que renunciaria ao mecanismo constitucional que permite aprovar leis sem as discutir no Parlamento.Os eleitores não perdoam.
Vestido com um casaco preto, o até há bem pouco tempo primeiro-ministro francês era um alvo quase perfeito. Manuel Valls, em campanha para as primárias organizadas pelo partido Socialista em a 22 e 29 de Janeiro para escolher o candidato da esquerda para as presidenciais do próximo ano, foi enfarinhado em Estrasburgo, à entrada para um café, por um jovem que gritou “não esquecemos o 49.3”.
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Vestido com um casaco preto, o até há bem pouco tempo primeiro-ministro francês era um alvo quase perfeito. Manuel Valls, em campanha para as primárias organizadas pelo partido Socialista em a 22 e 29 de Janeiro para escolher o candidato da esquerda para as presidenciais do próximo ano, foi enfarinhado em Estrasburgo, à entrada para um café, por um jovem que gritou “não esquecemos o 49.3”.
Foi uma referência ao artigo da Constituição que, enquanto primeiro-ministro, Valls usou seis vezes, para fazer passar à força leis no Parlamento, mesmo sem serem discutidas, como o novo Código do Trabalho, que desencadeou um enorme movimento de contestação nas ruas na Primavera passada. Só que, agora que é candidato, Valls promete que acabará com o artigo 49.3 se for eleito Presidente da República.
O mínimo que se pode dizer é que esta reviravolta de Valls, anunciada numa entrevista à rádio France Info, surpreendeu. Diz que só a guardariam para projectos de lei de finanças, que tivessem a ver com a aprovação do Orçamento do Estado. “Reconheço perfeitamente os efeitos perversos do 49.3, sou lúcido. A sua utilização pareceu brutal”, afirmou.
Face à chuva de farinha que sobre ele caiu nesta quinta-feira quando passeava no mercado de Natal de Estrasburgo, Valls reagiu com bom humor. “São as alegrias da campanha, não há nenhum problema, é farinha sem glúten”, minimizou, relatou o Fígaro, que acompanhava o candidato. Na campanha eleitoral das presidenciais de 2012, François Hollande também foi enfarinhado antes de um comício. “É um bom presságio”, disse Valls.
Mas o início de campanha de Valls, que se demitiu para se candidatar nas primárias depois de François Hollande ter anunciado que não se recandidataria, não está a correr bem. Além deste anúncio de que reveria o uso do 49.3, que teve uma recepção muito crítica, teve até confrontos com populares em comícios.
Segundo uma sondagem do Centro de Investigação Política da Sciences Po (Cevipof) da semana passada, Manuel Valls ficaria em quinto lugar na primeira volta das eleições presidenciais (ou em quarto, se o centrista François Bayrou declarasse acabasse por se candidatar).
As possibilidades de vitória de um candidato socialista nas presidenciais são basicamente inexistentes: outra sondagem, desta feita da Odoxa para a revista L’Express, diz que 73% dos eleitores consideram que das primárias de esquerda não sairá um candidato em posição de força para 2017. Ainda assim, neste estudo de opinião, o candidato de esquerda melhor colocado é Manuel Valls (21%), seguido de perto pelo ex-ministro da Indústria e adversário da globalização Arnaud Montebourg (20%). O ex-ministro da Educação Vincent Peillon, que só se candidatou depois de saber que Hollande desistia de se recandidatar, não consegue mais que 7%.
Na verdade, diz a L’Express, 67% dos franceses consideram possível que a esquerda desapareça da paisagem política francesa – 56% acreditam que seja um desaparecimento temporário, e 55% dos que dizem isso definem-se como eleitores de esquerda.