Wenders tenta voltar à vida
O cinema de Wenders chegou a um ponto tão avançado de dissolução que este regresso a um artesanato básico acaba por ser merecedor de respeito.
Para quem acha que As Asas do Desejo se aguenta não por causa dos redondos e palavrosos diálogos de Peter Handke mas apesar deles, o reencontro de Wim Wenders com o seu antigo parceiro merece bastante desconfiança — que o filme confirma, com a sua verborreia, nem sempre interessante, sobre o amor, a perda, sobre as coisas que passaram e se recuperam ou não se recuperam.
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Para quem acha que As Asas do Desejo se aguenta não por causa dos redondos e palavrosos diálogos de Peter Handke mas apesar deles, o reencontro de Wim Wenders com o seu antigo parceiro merece bastante desconfiança — que o filme confirma, com a sua verborreia, nem sempre interessante, sobre o amor, a perda, sobre as coisas que passaram e se recuperam ou não se recuperam.
E depois, estamos longe daquela encenação da palavra como exercício de subtileza e ironia (à la Rohmer) ou como exercício de rigor “materialista” (à la Straub).
Por outro lado, o cinema de Wenders chegou (tinha chegado?) a um ponto tão avançado de dissolução e indistinção que este regresso a um artesanato básico, capaz de integrar a auto-consciência de uma espécie de luto por si próprio, acaba por ser merecedor de respeito e até, de alguma comoção. Seria exagerado dizer que Wenders volta aqui à vida; mas, pelo menos, tenta.