Alemanha oferece 100 mil euros por informações que levem à prisão de tunisino

Foi lançada uma busca em toda a Europa por Anis Amri., cuja identificação foi encontrada na cabina do camião usado no atentado de Berlim.

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Fotos oficiais do suspeito divulgadas pela polícia BKA/AFP

Foi emitido um mandado europeu de detenção de Anis Amri, o tunisino de 24 anos que a Alemanha acredita estar envolvido no atentado com camião no mercado de Natal de Berlim, em que morreram 12 pessoas. Além disso, as autoridades alemães oferecem uma recompensa de 100 mil euros por informações que levem à captura deste homem, que já era referenciado pelos serviços de segurança alemães como um perigo.

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Foi emitido um mandado europeu de detenção de Anis Amri, o tunisino de 24 anos que a Alemanha acredita estar envolvido no atentado com camião no mercado de Natal de Berlim, em que morreram 12 pessoas. Além disso, as autoridades alemães oferecem uma recompensa de 100 mil euros por informações que levem à captura deste homem, que já era referenciado pelos serviços de segurança alemães como um perigo.

Já no início da noite desta quarta-feira, a polícia germânica realizou raides em dois apartamentos no bairro de Kreuzberg na capital alemã, noticiou o jornal Die Welt citando fontes ligadas à investigação. O suspeito não foi encontrado mas acredita-se que o tunisino tenha estado em pelo menos numa das duas casas. 

Amri esteve sob vigilância da polícia de Berlim por suspeitarem que planeava um assalto para poder ter dinheiro para comprar armas. Mas as autoridades não conseguiram provar as suspeitas, disse fonte judicial à Reuters.

Os media alemães divulgaram fotografias do suspeito que, segundo a Radio Mosaique da Tunísia, terá deixado o país onde nasceu há sete anos, na região rural de Oueslatia (centro), e cumprido uma pena de prisão de quatro anos em Itália, por fogo posto. Segundo a Reuters,o pai de Amri contou que o filho foi para a Alemanha há cerca de um ano. A polícia avisa que o suspeito "pode ser  perigoso e está armado", diz a AFP. Tem 1,78 m, pesa cerca de 75 kg, tem cabelo preto e olhos castanhos.

Realizaram-se entretanto buscas no estado federado da Renânia do Norte-Vestefália – o mais populoso da Alemanha, com grandes cidades como Colónia ou Düsseldorf, onde ele morou antes de se mudar para Berlim.

Uma unidade da brigada antiterrorista interrogou também os pais do suspeito na Tunísia diz a AFP, citando fontes da polícia alemã. Vivem ainda em Oueslatia.

Na terça-feira à noite, foi libertado por falta de provas o paquistanês de 23 anos detido logo após o ataque.

O suspeito, procurado por “acto grave que põe em risco o Estado alemão” na investigação levada a cabo pelos procuradores de Berlim, é identificado como Anis A., nascido em Tataouine, na Tunísia, em 1992, avançava a edição online da revista Der Spiegel. Foi identificado graças a um documento de identificação deixado na cabina do camião usado no atentado, dizem os media alemães.

Anis A. estava em contacto com militantes islamistas na Renânia do Norte-Vestefália e, por isso, era conhecido dos serviços de segurança, explicou o ministro do Interior estadual, Ralf Jaeger, numa conferência de imprensa. Desde Novembro de 2016 que as suas movimentações eram conhecidas pelo Centro Conjunto de Contra-Terrorismo, que junta quatro dezenas de agências de segurança, diz a Reuters.

Este homem “chegou à Alemanha através de Itália na altura da crise dos refugiados”, em 2015, quando cerca de 800 mil pessoas entraram no país, afirmou, segundo a AFP, o deputado Stephan Meyer, da CSU (aliado bávaro da CDU liderada pela chanceler Angela Merkel).  “Mas é um jovem perigoso, que disporá de várias identidades, conhecido dos serviços de segurança e que pertence à cena islamo-salafista [radical]”.

Ligado a rede de recrutados do Daesh

O novo suspeito tinha pedido asilo na Alemanha, mas o pedido acabou por ser rejeitado em Julho. Mas as tentativas feitas para o deportar não resultaram, porque ele não tinha documentos de identificação, e as autoridades de Tunes punham em causa que ele fosse um cidadão da Tunísia, explicou Ralf Jaeger. Finalmente, acabaram por reconhecê-lo como tunisino - os documentos oficiais chegaram precisamente esta quarta-feira, disse o ministro, cujos serviços eram responsáveis por organizar a expulsão.

A Tunísia é o maior fornecedor de combatentes estrangeiros ao Daesh: pelo menos 5500 partiram para lutar na Síria, Iraque ou Líbia, recorda a AFP. 

Berlim acusou muitas vezes a Tunísia, bem como outros países do Norte de África, de travar as expulsões de migrantes recusando reconhecê-los como seus nacionais. E os migrantes podem atrasaro processo de expulsão destruindo os seus documentos. Este assunto azedou as relações entre a Alemanha e vários países do Magreb há um ano, após a vaga de roubos e agressões sexuais da noite de Ano Novo em Colónia e noutras cidades, praticada por uma rede de migrantes clandestinos do Norte de África. Há anos que a chanceler Angela Merkel tenta classificar a Tunísia, Marrocos e Argélia como "países seguros", para facilitar a rejeição dos pedidos de asilo. Mas o projecto tem sempre sido rejeitado no Parlamento, por causa das violações dos direitos humanos na região.

Segundo os dados das autoridades, Anis A. começou por viver no estado federado da Renânia do Norte-Vestefália, mas mudou-se para Berlim em Fevereiro de 2016, explicou Jaeger. O ministro estadual sublinhou que este homem procurado pela polícia por toda a Europa como suspeito da autoria do atentado no mercado de Natal utilizou vários nomes em diferentes ocasiões – alguns media alemães também o identificam como Ahmed A., diz a AFP.

Segundo os jornais Süddeutsche Zeitung e Bild, este homem está ligado a uma rede de recrutadores do Daesh na Alemanha, que tem no centro o pregador Ahmad Abdelazziz A., também conhecido como Abu Walaa, que foi preso em Novembro. Segundo o Guardian, este pregador fazia sermões encorajando quem o ouvia a viajar para a Síria para combater nas fileiras da organização jihadista Estado Islâmico - que reivindicou o ataque em Berlim.

A segurança nos locais públicos e, em especial, nos típicos mercados de Natal, foi reforçada. O Governo alemão aprovou esta quarta-feira uma primeira versão de uma lei para aumentar a vigilância vídeo em zonas públicas e comerciais, diz a Reuters - uma medida  acordada pelos partidos políticos no mês passado, depois de um ano de polémica, depois dos ataques de cariz sexual em Colónia na noite de Ano Novo.

Segurança e críticas da direita

Mas a vigilância por parte do Estado é um tema polémico na Alemanha - recorda os tempos do comunismo e da polícia política, a Stasi, e também da Gestapo, na época do nazismo. Por isso, são relativamente raras as câmaras de videovigilância nos locais públicos - se se comparar com países como o Reino Unido, por exemplo, que as usam intensivamente.

Mas a direita e a extrema-direita alemã aproveitaram o atentado para lançar fortes críticas contra a política de Merkel de abertura de portas aos refugiados. Tanto a Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, como figuras da CSU, o partido irmão bávaro da CDU de Merkel, dizem que os riscos de ataques terroristas aumentaram por terem entrado no país mais de um milhão de refugiados do Médio Oriente, entre 2015 e 2016. 

A edição alemã do semanário satírico , também ele alvo de um atentado terrorista no ano passado que matou grande parte dos cartoonistas franceses na redação, fez uma capa alusiva ao atentado, com uma casinha de gengibre de onde saem, por todas as janelas e portas, canos de espingarda. A manchete diz "não conseguirão mudar o nosso modo de vida". 

Mas vários políticos do AfD anunciaram que vão participar numa vigília esta noite frente à chancelaria federal, diz a revista Spiegel, além de estar convocada uma concentração deste partido ferozmente anti-imigração e anti-muçulmanos para o local do atentado. 

Horst Seehofer, primeiro-ministro do estado da Bavária, e líder da CSU, está também a ser criticado por ter dito, a seguir ao atentado, que era um dever para com as vítimas "repensar e ajudar toda a política de imigração e segurança" alemã. Seehofer está a ser acusado de "politicizar" o ataque.