Bana, a menina do Twitter de Alepo, está “feliz” e Erdogan agradece
Os Alabed foram recebidos na Turquia e o Presidente fez-se fotografar com a família no Palácio Presidencial de Ancara.
Bana Alabed tem sete anos e é o rosto de uma conta no Twitter que alimentou notícias e polémicas. “Gerida pela mamã”, uma professora de Inglês que estudou Direito, Política e Jornalismo, ali se descreveu desde Setembro a vida da família de cinco num bairro do Leste de Alepo, na altura sob controlo da oposição.
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Bana Alabed tem sete anos e é o rosto de uma conta no Twitter que alimentou notícias e polémicas. “Gerida pela mamã”, uma professora de Inglês que estudou Direito, Política e Jornalismo, ali se descreveu desde Setembro a vida da família de cinco num bairro do Leste de Alepo, na altura sob controlo da oposição.
No dia 27 de Novembro, a família fugiu, depois de um bombardeamento no seu quarteirão; a 14 de Dezembro, o seu bairro caiu para as forças do regime. Na segunda-feira, quando recomeçou a evacuação (iniciada quatro dias antes, foi interrompida durante o fim-de-semana), saíram da cidade. Esta quarta-feira foram recebidos pelo Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, no seu palácio de Ancara.
Quando os Alabed tiveram de se refugiar noutro bairro e temeram ser detidos, Fatemah, a mãe, pediu ajuda à Turquia no Twitter, interpelando directamente o ministro dos Negócios Estrangeiros de Erdogan, Mevlüt Çavusoglu. “Mantém a esperança, minha irmã. A Turquia ouve o teu apelo. Estamos a trabalhar duro para acabar com o teu pesadelo e com o que muitas crianças da Síria estão a passar”, respondeu o diplomata.
A página @AlabedBana teve muito impacto e originou centenas de notícias e até documentários. Alguns tweets foram republicados por J.K. Rowling, que enviou a Bana uma edição electrónica de Harry Potter. O Presidente sírio, Bashar al-Assad, falou de Bana e da conta de Twitter como “terroristas ou seus apoiantes”. Por causa de tudo isto, foi alvo de campanhas de que punham em causa a sua existência, identidade ou a localização de onde escrevia (disse-se que estava na Turquia, por exemplo), tudo o que um blogue de jornalismo de investigação cidadão se propôs e conseguiu confirmar.
Na segunda-feira, Bana foi fotografada com os irmãos, Noor, de três anos, e Mohammed, de 5, depois de sair das zonas que escapavam ainda ao controlo do regime. O Governo turco, que se envolveu no processo de evacuação (negociado por Ancara e Moscovo), montando e gerindo um campo de deslocados internos numa zona rural da província de Alepo, decidiu enviar um helicóptero e receber a família. Oficialmente, estão 2,8 milhões de refugiados sírios na Turquia.
“Obrigada pelo apoio que dão às crianças de Alepo e por nos ter ajudado a escapar da guerra”, disse Bana a Erdogan, que se fez fotografar com a menina e um dos seus irmãos ao colo, rodeado da sua mulher Emine Erdogan, e dos pais das crianças, Fatemah e Ghassan Alabed. A página gerida por Fatemah esteve apagada durante a fuga – algo que quase todos os sírios que escrevem críticas ao regime ou simplesmente referem estar a ser bombardeados pela aviação síria ou russa fazem quando não sabem de que lado da barricada vão ficar. A conta já foi reactivada e a foto dos miúdos com Erdogan lá está, com Bana a dizer-se “muito feliz” por conhecer o Presidente.
Para Erdogan, a oportunidade de se fazer fotografar com os Alabed não podia ter chegado em melhor altura. Afinal, o Presidente que usa a Síria com oportunismo, ora para se indignar com Assad e com Vladimir Putin, ora para apoiar rebeldes da sua preferência enviar forças para a Síria, ora para se aliar a Putin e criticar a oposição, está actualmente a gerir uma situação delicada.
O líder turco, que este ano enfrentou uma tentativa de golpe de Estado à qual respondeu com mão pesada e milhares de detenções, precisa como nunca de boas relações com Moscovo, dias depois do assassínio do embaixador russo Andrei Karlov, em Ancara – o atacante gritou “Não esquecemos Alepo”. Ao mesmo tempo, tem milhares de turcos a manifestarem-se contra a Rússia em várias cidades do país e uma população maioritariamente contrária a esta reaproximação recente.
Tanto Erdogan como Putin descreveram o assassínio de Karlov como uma “provocação” ao actual momento de boas relações entre os dois regimes. Mas não deixa de ser um teste grande: já depois da divulgação das imagens de Bana no Palácio Presidencial, porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov foi citado na agência oficial de notícias RIA a dizer que este crime “é certamente um duro golpe ao prestígio” da Turquia.