“É um partido sem ideias, sem pessoas, que vai definhando", diz Bacelar Gouveia
Antigo deputado arrasa liderança de Pedro Passos Coelho e diz que a "nação social-democrata está adormecida".
O antigo deputado do PSD Jorge Bacelar Gouveia decidiu quebrar o silêncio sobre o partido e assumir fortes críticas à liderança de Pedro Passos Coelho. Não só por não haver ainda candidato a Lisboa, mas também pela forma como o PSD está a ser conduzido. “É um partido sem ideias, sem pessoas, que vai definhando num economês. E quando não tem capacidade autárquica, há uma grave crise de liderança”, afirma ao PÚBLICO o professor de Direito Constitucional na Universidade Nova de Lisboa.
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O antigo deputado do PSD Jorge Bacelar Gouveia decidiu quebrar o silêncio sobre o partido e assumir fortes críticas à liderança de Pedro Passos Coelho. Não só por não haver ainda candidato a Lisboa, mas também pela forma como o PSD está a ser conduzido. “É um partido sem ideias, sem pessoas, que vai definhando num economês. E quando não tem capacidade autárquica, há uma grave crise de liderança”, afirma ao PÚBLICO o professor de Direito Constitucional na Universidade Nova de Lisboa.
Apesar de ser militante do PSD há mais de três décadas, Bacelar Gouveia está afastado da vida partidária há alguns anos e não foi candidato a deputado em 2011, quando Passos Coelho já era líder do partido. O social-democrata considera que o lema do último congresso – social-democracia sempre – “não se está a cumprir”. “O que temos vindo a perceber é que falta uma linha programática”, diz, notando que "as sondagens vão descendo". O social-democrata considera que não se trata apenas de um problema em torno do líder mas a ausência de “capacidade política para refundar a social-democracia”, o mote que orientou a candidatura de Passos Coelho a mais um mandato na liderança do partido.
É essa a conclusão que tira meses depois de, no congresso de Espinho, em Abril passado, ter lançado críticas ao caminho seguido pelo PSD nos últimos anos, quando apoiou o Governo, mas assume ter ficado mais descansado com o lema da reunião magna. “Eu achava que, sendo militante há mais de 30 anos, o PSD era sempre social-democrata, portanto fico contente ao ver este lema [Social-Democracia Sempre!]. O problema é que nos últimos tempos ficava com dúvidas sobre se o nosso partido era mesmo social-democrata", afirmou, na reunião magna.
Como exemplo de falta de capacidade da direcção, Bacelar Gouveia aponta a inexistência de um candidato do PSD a Lisboa a menos de um ano das eleições e o possível apoio à líder do CDS, Assunção Cristas. O constitucionalista garante nada ter contra a ex-ministra da Agricultura, que aliás “estima” e que é sua “colega na faculdade”, mas defende que o PSD devia ter um candidato forte à capital. Essa posição também já tinha transmitida no congresso quando, na altura, ouviu um “rumor” de que o PSD poderia apoiar o CDS.
Questionado sobre a contestação a Passos Coelho, Jorge Bacelar Gouveia diz sentir “um grande desejo de mudança". Mas, acrescenta: "Também vejo medo de revelar esse desconforto”. O ex-deputado diz hoje ver o que “não via há muitos anos”, ou seja: “Zurzir na praça pública quem critica. Como se o PSD fosse unanimista”. Quanto à decisão de criticar publicamente a direcção do PSD, o social-democrata justifica: “Sinto obrigação de levantar a minha voz política, porque acho isto muito preocupante. A nação social-democrata está adormecida”.
Apesar de notar “alheamento e comodismo”, o ex-deputado compreende que o partido passou por uma fase difícil após as legislativas porque “foi surpreendido por um golpe político”. E, apesar das críticas, considera que Passos Coelho é um “líder legítimo”. Bacelar Gouveia admite que “não é fácil combater a esquerda ilusionista, mas o PSD não tem sabido aproveitar as condições desta governação”.