Donald Trump nomeia Governo à sua imagem
Os nomes escolhidos para a futura Administração Trump são um reflexo do Presidente eleito: milionários sem experiência política e governativa, que nalguns casos nem sequer acreditam na missão dos departamentos que vão dirigir.
Além de serem (quase todas) milionárias, as personalidades escolhidas pelo futuro Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para integrar a sua Administração e governar o país distinguem-se por uma outra característica: a crítica feroz à organização e às políticas dos departamentos que vão dirigir, que nalguns casos inclui mesmo a defesa da sua extinção.
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Além de serem (quase todas) milionárias, as personalidades escolhidas pelo futuro Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para integrar a sua Administração e governar o país distinguem-se por uma outra característica: a crítica feroz à organização e às políticas dos departamentos que vão dirigir, que nalguns casos inclui mesmo a defesa da sua extinção.
A política de nomeações de Trump mostra até que ponto o Presidente eleito tenciona romper com todas as convenções e tradições de Washington, e promover o “anti-sistema” à categoria de Governo. O corte com o passado vai para além da expectável mudança de orientação (ideológica) face às políticas da cessante Administração de Barack Obama.
Como referiu o consultor político republicano Ron Bonjean à rádio pública NPR, a maior diferença tem a ver com a abordagem de tábua rasa do futuro Presidente à missão de cada secretário e de cada departamento do Governo. “Cada nomeado vai poder remodelar, refazer e até demolir o seu departamento para o reconstruir tal como ele ou o Presidente entende”, declarou – é a interpretação literal da promessa de Trump de implodir o sistema por dentro e começar do zero.
Em quase todas as áreas, os nomes escolhidos por Donald Trump são um reflexo de si próprio. Tal como o futuro Presidente, são homens ricos e de sucesso, que se destacaram como “líderes” nos seus respectivos ramos de negócio mas que não têm qualquer experiência política e governativa e nenhuma ligação profissional às áreas que vão tutelar. Vários estão debaixo de suspeita – como aliás o Presidente eleito—, de ligações “perigosas” ao regime de Moscovo e ao líder russo Vladimir Putin. É o caso de Rex Tillerson ou do general Michael Flynn, que vão preencher os postos mais importantes da Administração, secretário de Estado e conselheiro de Segurança Nacional, responsáveis por definir a política externa e de segurança dos EUA.
Algumas das nomeações reforçam percepções relativas ao próprio Trump que alimentaram polémicas durante a campanha eleitoral: a promoção do seu controverso director de campanha, Stephen Bannon, ao cargo de principal conselheiro, consolida a imagem de racista, sexista, misógino e adepto de teorias da conspiração que se lhe colou; a profusão de milionários e dirigentes da alta finança que estende a influência de Wall Street e cava o fosso com a classe média e os trabalhadores blue collar que compuseram a sua base eleitoral.
Uma categoria de nomeados pode ser descrita como a dos “negacionistas” (de novo, à semelhança de Trump). Há os que não concordam com a existência do departamento que vão supervisionar – caso do governador Rick Perry, futuro secretário da Energia. E também existem aqueles que defendem políticas contrárias àquelas que são promovidas pelos seus departamentos: a secretária de Educação, Betsy DeVos, que quer desinvestir da escola pública; o secretário do Trabalho, Andy Puzder, que é contra o salário mínimo; o secretário da Saúde, Tom Price, que defende o fim do programa de acesso a cuidados médicos conhecido como Obamacare; ou o novo responsável pela Agência de Protecção do Ambiente, Scott Pruit, que não acredita nas alterações climáticas.
E finalmente há casos como o de David Friedman, indicado esta sexta-feira para o posto de embaixador dos Estados Unidos em Israel, e cuja escolha além de confirmar a mudança radical de política confirma o enorme potencial de instabilidade e conflito da futura Administração Trump. Não é difícil antecipar uma forte reacção no Médio Oriente à escolha de um diplomata que apoia a expansão dos colonatos judaicos na Cisjordânia e defende a mudança da capital para Jerusalém – a conclusão do processo de paz israelo-palestiniano, que Trump acredita estar ao seu alcance, tornou-se definitivamente uma miragem.
É este é apenas um exemplo das consequências que as decisões tomadas por Donald Trump (ao arrepio da tradição e às vezes até da legislação) podem vir a ter no funcionamento das instituições e nas relações internacionais. Tendo em conta que o futuro Presidente vai poder preencher o Governo com mais 4000 nomeados políticos, prevêem-se tempos conturbados em Washington.