Calendário da venda do Novo Banco adaptado em função das necessidades
Lone Star exige uma contragarantia do Estado, China Minsheng está com dificuldades em provar que tem capitais e o fundo Apollo voltou a reunir-se com o Banco de Portugal.
O Banco de Portugal, a autoridade de resolução, está a ajustar a agenda do “concurso” de venda do Novo Banco em função das necessidades dos concorrentes e dos obstáculos que vai enfrentando, apurou o PÚBLICO junto de fontes do sector.
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O Banco de Portugal, a autoridade de resolução, está a ajustar a agenda do “concurso” de venda do Novo Banco em função das necessidades dos concorrentes e dos obstáculos que vai enfrentando, apurou o PÚBLICO junto de fontes do sector.
O Lone Star exige uma contra-garantia do Estado, o China Minsheng está com dificuldades em provar que tem os capitais disponíveis para pagar o investimento, e, esta semana, o supervisor falou com o fundo Apollo, que esteve fora da última ronda de contactos.
Depois de terem sido enviados sinais de que o Fundo de Resolução, gerido pelo BdP e onde o Governo está representado, estava a trabalhar para apresentar até ao Natal o nome do próximo proprietário do Novo Banco, surgiram, nos últimos dias, informações de que o fecho do dossier pode voltar a derrapar. Não se sabe por quanto tempo. E continua tudo em aberto, como tem estado há dois anos. Certo é que qualquer solução terá de ser encontrada até Agosto de 2017, para evitar a liquidação da instituição.
Mas, ao contrário do caminho seguido na primeira tentativa de venda do Novo Banco, em 2015, desta vez o Fundo de Resolução, o dono da instituição liderada por António Ramalho, adoptou uma estratégia flexível que lhe permite gerir o calendário em função das circunstâncias. E é isso o que tem possibilitado ao BdP mudar as regras a qualquer momento e acomodar o processo aos constrangimentos e aos pedidos dos concorrentes.
A bola está agora do lado do fundo norte-americano Lone Star e do China Minsheng que no final de Outubro entregaram as ofertas firmes que o Fundo de Resolução considerou serem as mais interessantes. Os dois grupos sentaram-se nos últimos dois meses à mesa das negociações com Sérgio Monteiro, encarregue por Carlos Costa de colocar o Novo Banco no mercado. Mas os dois concorrentes lidam agora com dificuldades para concretizar os investimentos.
Apesar de ter estado fora das conversações, pois carimbou uma oferta firme considerada por Sérgio Monteiro menos interessante, a Apollo/Centerbridge reapareceu esta semana no BdP. Na sequência da ida ao supervisor, o dono da Tranquilidade e da Açoreana manteve contactos com o Governo. A Apollo questiona o facto de o Minsheng (o Plano B de Sérgio Monteiro) estar na recta final do negócio sem ter participado no concurso público (como aconteceu com a Apollo, o Lone Star, o BCP e o BPI).
Nas conversações há um dado de partida: o futuro dono do Novo Banco terá de o recapitalizar no imediato em cerca de 1500 milhões, parte substancial por injecção de fundos (cerca de mil milhões) e a outra com recurso ao “pêlo do cão” (através da venda de activos não estratégicos). E haverá um pagamento, mesmo que simbólico, ao Fundo de Resolução, que a 3 de Agosto de 2014 aplicou 4900 milhões na instituição (dos quais 3900milhões foram emprestados pelo Estado). Mas admite-se que o veículo venha a registar uma perda quase total, acima de 90%, e a intenção era preservar a unidade orgânica do banco.
Aparentemente, o Lone Star formalizou a proposta financeira mais interessante, com um senão: exige a concessão de uma contragarantia do Estado português sobre cerca de 2000 a 2500 milhões de euros de activos. O que se traduz numa protecção (um seguro) contra a eventual desvalorização (em torno dos 25%) da carteira de activos (que se destinam a ser vendidos) avaliada pelas autoridades em 8000 milhões.
Na prática, este investidor assevera ao vendedor mais capital à cabeça, pois consegue reduzir a incerteza do “buraco” a cobrir futuramente. Mas transfere as responsabilidades para os contribuintes, na medida em que o Estado se compromete a devolver ao fundo norte-americano o diferencial caso os activos percam valor (ou sejam alienados abaixo da fasquia estimada).
E esta é uma condição que é politicamente ingerível pelo Governo, depois da experiência do Banif (o Santander exigiu garantias estatais e a factura disparou para 3000 milhões).
Em matéria de ofertas, os tempos também não se revelam favoráveis ao grupo asiático que está sem condições de satisfazer o investimento, pois não consegue fazer prova de fundos junto do BdP, ou seja, mostrar que colocou de lado os capitais necessários para pagar e capitalizar o banco.
Cotado na bolsa de Hong Kong (com uma capitalização de cerca de 2000 milhões), o China Minsheng intervém como investidor directo, mas também como broker e angariou outros investidores chineses para entrarem na operação. De acordo com o site económico Eco, na semana passada o China Minsheng sinalizou junto do Banco de Portugal e de Sérgio Monteiro que não estava em condições de garantir, no timing previsto (até ao Natal), a apresentação da prova de fundos. Em causa estão as restrições levantadas pela China à saída de capitais. O financiamento do Haitong Bank, em regime de financiamento de curto prazo (bridge loan) pode ser substituído para facilitar a concretização da prova de fundos.
No BdP, acredita-se que a venda do Novo Banco não está em risco. O Minsheng ainda está dentro do prazo para apresentar uma declaração legal de que tem os capitais e o Lone Star e a Apollo podem rever os termos das suas intenções. Já o BCP e o BPI colocaram-se de fora do processo, mas disponíveis para analisar novas vias.