A descoberta de Anne Frank pelos Nazis pode ter sido um acaso e não uma traição
Um estudo abre uma nova hipótese sobre a forma como o anexo secreto onde Anne Frank e a sua família estavam escondidos acabou por ser descoberto.
O diário escrito por Anne Frank – a rapariga judia que se escondeu com a sua família durante anos, deixou escrito para a história aquilo que lhe aconteceu no dia a dia e acabou por morrer perto do fim da guerra num campo de concentração – não fornece informações sobre este detalhe da história, mas até aqui tem-se assumido sempre que a descoberta pela polícia do local onde estava escondida aconteceu por causa de uma traição. A traição de um informador não identificado que avisou a polícia colaboracionista holandesa de que havia oito pessoas escondidas num anexo secreto a tentar escapar à perseguição dos judeus feita pelos Nazis.
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O diário escrito por Anne Frank – a rapariga judia que se escondeu com a sua família durante anos, deixou escrito para a história aquilo que lhe aconteceu no dia a dia e acabou por morrer perto do fim da guerra num campo de concentração – não fornece informações sobre este detalhe da história, mas até aqui tem-se assumido sempre que a descoberta pela polícia do local onde estava escondida aconteceu por causa de uma traição. A traição de um informador não identificado que avisou a polícia colaboracionista holandesa de que havia oito pessoas escondidas num anexo secreto a tentar escapar à perseguição dos judeus feita pelos Nazis.
Agora, um estudo realizado pela Casa de Anne Frank – o museu situado em Amesterdão, precisamente na casa onde Anne Frank, a sua família e outros fugitivos encontraram refugio entre Julho de 1942 e Agosto de 1944 – abre a porta a outro tipo de explicação.
E se, em vez de uma traição, aquilo que conduziu à descoberta pela polícia do anexo secreto foi apenas um infeliz acaso?
Para os autores do estudo, na análise a esta questão, os investigadores têm limitado em excesso o campo de possibilidades. A questão colocada nunca é a de se saber se houve ou não um informador. A única coisa que se tenta descobrir é quem é que foi esse informador. No entanto, a verdade é que em todas essas investigações, apesar de haver vários suspeitos, nunca se encontraram provas definitivas.
Agora, sem assumir à partida que houve uma traição, os autores do estudo analisaram passo a passo as (reduzidas) informações disponíveis sobre o dia em que a polícia encontrou Anne Frank no seu esconderijo. E encontraram algumas informações que podem apontar para a ausência de uma denúncia.
Em primeiro lugar, confirmaram a ideia de que na empresa que escondia o anexo secreto, havia quem negociasse de forma ilegal cupões de alimentação (o que seria aliás a forma utilizada pelos fugitivos para garantirem as suas refeições). Depois, descobriram que os polícias que realizaram a prisão trabalhavam prioritariamente, não nos departamentos dedicados à captura de fugitivos judeus, mas nos departamentos de combate a crimes económicos. Por fim, estimaram que a detenção deve ter demorado cerca de duas horas, de acordo com os depoimentos daqueles que ajudaram a família de Anne Frank a esconder-se.
Todas estas informações combinadas, abrem a porta à possibilidade de a polícia poder ter descoberto o anexo secreto, quando estava a proceder a buscas relacionadas com outras actividades, e não especificamente respondendo a uma denúncia relativa a pessoas escondidas. Os autores do estudo fazem, porém, questão de frisar que “que a possibilidade de uma traição não pode deixar de ser considerada”.
Durante os meses seguintes, para Anne Frank, a sua família e as quatro outras pessoas escondidas, o resultado foi fatídico. Apenas o pai de Anne Frank conseguiu escapar à morte nos campos de concentração, tornando público mais tarde o diário da filha e transformando-a num dos símbolos mais marcantes do Holocausto.