PSD disposto a negociar apoio a Assunção Cristas em Lisboa

Passos Coelho decidiu tentar negociações com o CDS. A opção pode agitar ainda mais o partido

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Coligação PSD/CDS em Lisboa em vias de ser uma realidade Daniel Rocha

O PSD está disposto a iniciar conversações com o CDS para apoiar Assunção Cristas como candidata à Câmara Municipal de Lisboa nas autárquicas de 2017, apurou o PÚBLICO. A decisão foi de Pedro Passos Coelho, líder do PSD, que colocou o processo nas mãos do coordenador autárquico, Carlos Carreiras, para que se tente um entendimento com os centristas.

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O PSD está disposto a iniciar conversações com o CDS para apoiar Assunção Cristas como candidata à Câmara Municipal de Lisboa nas autárquicas de 2017, apurou o PÚBLICO. A decisão foi de Pedro Passos Coelho, líder do PSD, que colocou o processo nas mãos do coordenador autárquico, Carlos Carreiras, para que se tente um entendimento com os centristas.

Depois da recusa de Pedro Santana Lopes em entrar na corrida eleitoral, o líder do PSD optou por tentar chegar a acordo com o CDS para uma coligação em Lisboa que terá Assunção Cristas como cabeça de lista. A própria, há poucas semanas, garantia que levaria a sua candidatura até ao fim, com ou sem apoios de outros partidos. O presidente social-democrata avocou o dossier de Lisboa e entregou-o a Carlos Carreiras sem colocar a questão na comissão permanente do partido, onde têm assento os vice-presidentes e o secretário-geral do partido.

A hipótese de coligação com o CDS na capital não foi afastada pelo coordenador autárquico na assinatura do acordo geral para as alianças autárquicas, na terça-feira, quando questionado sobre o assunto. Carlos Carreiras falou apenas na necessidade de “procurar convergência” e de “apresentar projectos ganhadores do ponto de vista eleitoral”. Nessa altura, sociais-democratas e centristas estranharam a resposta, já que Carreiras falou sempre em “candidato próprio” do PSD e havia dito, há poucas semanas na TVI, que o apoio do partido a Cristas seria muito “difícil, para não dizer impossível”.

Perante esta possibilidade, o PSD agitou-se e vai agitar-se ainda mais o PSD. Muitos sociais-democratas consideram ser um erro político o PSD ir a reboque do CDS na capital e prescindir de ter um candidato próprio. Ainda por cima, a decisão acontecerá num momento em que a gestão do processo autárquico está a gerar muito desconforto interno.

Pedro Rodrigues, antigo líder da JSD que fundou o movimento Portugal não Pode Esperar, já tinha assumido que ficaria “chocado” se o PSD viesse a apoiar a líder do CDS em Lisboa. Outros sociais-democratas ouvidos pelo PÚBLICO criticam a decisão por considerarem que o PSD sai menorizado. E alertam que o líder fica fragilizado também para as próximas eleições internas.

A decisão de Passos Coelho deixa também debilitado o líder da concelhia, Mauro Xavier que, em Setembro, avançou sem o aval da direcção com o nome de José Eduardo Martins — um crítico de Passos Coelho — como coordenador do programa autárquico para Lisboa. A iniciativa foi vista por muitos sociais-democratas como uma afronta ao líder do partido. Agora, pelo contrário, é Passos Coelho a assumir uma escolha que não era do agrado de Mauro Xavier.

Sem nunca se ter pronunciado directamente sobre uma coligação com o CDS em Lisboa,  Passos Coelho, em entrevista ao PÚBLICO, em Outubro passado, reconheceu ter “admiração” pela decisão de Cristas de se candidatar e disse ter uma “boa relação” com a sua antiga ministra. “O sucesso de Assunção Cristas à frente do CDS nunca será um engulho para o PSD”, acrescentou.

O líder do PSD não terá ficado melindrado com o anúncio da candidatura, apesar de Assunção Cristas se ter limitado a informá-lo, no próprio dia, da sua entrada na corrida. Dentro do CDS, a decisão da presidente, de avançar para a Câmara de Lisboa, foi considerada arriscada. Mas nos últimos tempos os centristas convenceram-se de que a candidata podia atingir um dos melhores resultados de sempre do partido. Agora, que pode vir a ser a cabeça de lista por uma coligação PSD/CDS, Assunção Cristas vê a fasquia colocada ainda mais alto. Espera-se que possa disputar e conquistar a câmara ao socialista Fernando Medina, um objectivo que não se colocava se a candidatura fosse apenas apoiada pelo CDS. O porta-voz da oposição interna a Cristas, Raul Almeida, defende uma aliança do centro-direita em Lisboa e lançou o nome de Santana Lopes para liderar a Assembleia Municipal.

Passos empurrado

Na tentativa de trazer Passos Coelho à realidade e travar as negociações com o CDS, na quinta-feira, o vice-presidente da concelhia de Lisboa do PSD, Rodrigo Gonçalves, organizou um jantar com 1200 pessoas em que apelou a que fosse o próprio Passos Coelho o candidato do PSD à capital, algo que o líder social-democrata já rejeitou. “Está fora de questão, não serei candidato a câmara nenhuma. Já fui no passado, foi uma experiência muito enriquecedora. Mas não está no meu horizonte disputar nenhuma câmara municipal”, disse Passos em Outubro, na entrevista ao PÚBLICO.

Ângelo Correia, que participou como convidado no jantar, demarcou-se e o líder da distrital de Lisboa, Miguel Pinto Luz, contra-ataca: “Pedro Passos Coelho é candidato a primeiro-ministro. Qualquer outro cenário é um exercício de tentativa de agitação, tendo como objectivo a agenda pessoal de alguns”.

O líder da bancada municipal e vice-presidente do grupo parlamentar, Sérgio Azevedo, também lança farpas contra a ideia: “O doutor Carlos Carreiras, coordenador autárquico do PSD, antecipadamente esclareceu, e muito bem, que Passos Coelho é apenas candidato a primeiro-ministro. Nem outra coisa poderia ser, a não ser no imaginário de alguns”. Relativamente a uma coligação em Lisboa, Sérgio Azevedo considera que “PSD e CDS têm a obrigação de falar e ponderar qualquer cenário para qualquer eleição” e que “o panorama e os recentes resultados em conjunto assim o obrigam”. Os dois partidos devem ponderar “sem decisões pré-tomadas e de espírito livre”, disse, acrescentando que “logo se verá o que entendem ser melhor para os lisboetas”.

O apelo de Rodrigo Gonçalves no jantar surpreendeu Ângelo Correia, que foi uma espécie de “padrinho” de Passos Coelho na corrida à liderança do PSD e seu patrão durante vários anos. “Disseram-me que o jantar não era partidário, era de solidariedade. Eu não esperava a natureza daquela questão. Fiquei um bocadinho surpreendido”, afirmou ao PÚBLICO. O ex-ministro garante que não foi falar de política, mas sim de questões sociais, demarcando-se totalmente da iniciativa: “O resto não tive participação e não emito opinião. Julgo que estão a tentar negociar uma coligação com o CDS. Não vale a pena estar a destacar um município”.

Já o ex-líder da JSD Pedro Rodrigues, que também participou na iniciativa, é mais tolerante. “Compreendo o apelo feito porque os militantes estão preocupados com a situação. Espero que os órgãos autárquicos resolvam o assunto”, afirmou. O deputado Feliciano Barreiras Duarte, antigo secretário de Estado de Morais Sarmento, também esteve no jantar, no liceu Pedro V, em Lisboa.

A iniciativa do jantar ou, mais concretamente, o apelo de Rodrigo Gonçalves está a ser interpretado como um presente envenenado ao líder do PSD, por ser uma forma de colocar sobre Passos Coelho a responsabilidade por um eventual mau resultado em Lisboa. Ao mesmo tempo, dizem sociais-democratas ouvidos pelo PÚBLICO, desresponsabiliza a concelhia de Lisboa por uma hipotética derrota. E ainda, acrescentam as mesmas fontes, serve para desvalorizar o eventual apoio do PSD a Assunção Cristas, uma escolha que sempre mereceu a oposição da concelhia.

Rodrigo Gonçalves tem recusado, na rede social Facebook, a ideia de que preparou um “presente envenenado” para o líder do partido. Na noite do jantar, o dirigente defendeu que “os lisboetas nunca perdoarão o PSD, se não apresentar um candidato vencedor”, e que, nessas condições, “só há uma pessoa: Pedro Passos Coelho”. O número dois da concelhia de Lisboa fazia parte do grupo de trabalho liderado por José Eduardo Martins para elaborar um programa autárquico para Lisboa. Este ano, o dirigente foi condenado pelo Tribunal da Relação por agressões a outro autarca do partido, em 2009. Contactado pelo PÚBLICO, o número um da mesma estrutura, Mauro Xavier, disse reiterar a sua posição de não comentar candidatos.