Trump nomeia apoiante da construção de colonatos como embaixador em Israel
David Friedman quer mudar embaixada norte-americana para Jerusalém e ameaça romper décadas de esforços diplomáticos para resolver conflito israelo-palestiniano.
O próximo embaixador norte-americano em Israel quer levar a embaixada para Jerusalém e é um defensor da construção de colonatos nos territórios ocupados da Cisjordânia. A nomeação de David Friedman foi aplaudida pelos grupos pró-israelitas mais radicais e deixou a esquerda e os moderados em choque.
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O próximo embaixador norte-americano em Israel quer levar a embaixada para Jerusalém e é um defensor da construção de colonatos nos territórios ocupados da Cisjordânia. A nomeação de David Friedman foi aplaudida pelos grupos pró-israelitas mais radicais e deixou a esquerda e os moderados em choque.
A nomeação do advogado especializado em falências pode representar uma mudança profunda nas relações entre os EUA e Israel. O maior exemplo é a vontade expressa por Friedman em mudar a embaixada norte-americana de Telavive para Jerusalém.
Num comunicado divulgado na quinta-feira, o advogado que aconselhou Trump durante a campanha disse estar preparado para dirigir a embaixada dos EUA “na capital eterna de Israel, Jerusalém”. Actualmente, a representação diplomática norte-americana localiza-se em Telavive, que é a sede administrativa e financeira do país.
A questão em torno do reconhecimento de Jerusalém é uma das mais sensíveis no contexto do conflito israelo-palestiniano. Israel reclama a cidade como a sua capital, mas a ONU não reconhece esse estatuto.
A Autoridade Palestiniana encara Jerusalém – onde estão localizados alguns dos principais templos das religiões cristã, judaica e muçulmana – como a capital de um futuro Estado palestiniano. A posição oficial dos EUA é a de que o estatuto da cidade deve ser definido em negociações futuras, no âmbito de um processo de paz.
Porém, a Donald Trump seria relativamente simples mudar a localização da embaixada para Jerusalém. Na verdade, existe uma lei do Congresso aprovada em 1995 que define Jerusalém como o local da embaixada norte-americana em Israel, mas uma das alíneas permite que o Presidente possa suspender essa obrigação por seis meses, alegando a “necessidade de protecção da segurança nacional”. Desde então, todos os Presidentes têm utilizado esta prerrogativa, mantendo a embaixada em Telavive.
Obama renovou a suspensão no início de Dezembro, diz a Reuters, o que obriga Trump a aguardar pelo menos até Junho para que possa tomar alguma decisão.
Trump já tinha manifestado a intenção de mudar a embaixada norte-americana para Jerusalém. Esta semana, a sua principal assessora de comunicação, Kellyanne Conway, disse que esta era “uma prioridade muito grande” para o Presidente eleito.
Morte do processo de paz?
Friedman, um advogado sem experiência diplomática, é também um grande defensor da política de construção de colonatos nos territórios palestinianos ocupados da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental – considerados ilegais pela União Europeia. Outra das suas posições mais controversas é a defesa da anexação da Cisjordânia por Israel – algo que enterraria em definitivo a solução dos dois Estados, consensualmente aceite na ONU e nos EUA.
Nos últimos anos, os EUA têm endurecido a sua posição em relação à construção de colonatos apoiada pelo Governo israelita. Sem nunca se pronunciar quanto à ilegalidade, o mais comum é a utilização, nos meios diplomáticos, do termo “ilegítimo”, explica o Council on Foreign Relations. A Autoridade Palestiniana encara os colonatos como um dos maiores obstáculos ao estabelecimento de um Estado.
O novo embaixador está ligado a uma associação que, nos últimos anos, tem arrecadado doações para apoiar Belt El, um colonato na Cisjordânia estabelecido em 1977. Entre 2009 e 2014, as construções nos colonatos expandiram cerca de 23%, diz a Al-Jazira, e recentemente o Parlamento israelita deu luz-verde à legalização de novas construções. Estima-se que cerca de 570 mil pessoas vivam actualmente em mais de 130 colonatos na Cisjordânia e de Jerusalém Oriental, de acordo com a organização B’Tselem.
A J Street, uma organização liberal pró-israelita sedeada em Washington, manifestou o seu repúdio à nomeação de Friedman. “Esta nomeação é irreflectida, pondo a reputação da América na região e a sua credibilidade no mundo em risco”, afirma o grupo. O Conselho Nacional Democrata Judeu disse que “nunca houve uma escolha tão inexperiente para o cargo de embaixador dos EUA em Israel”.
Por outro lado, a Organização Sionista da América, um grupo conservador, considera que Friedman tem “o potencial para ser o maior embaixador dos EUA em Israel de sempre”.
Para Aaron Miller, antigo conselheiro para o Médio Oriente de Administrações de ambos os partidos, “o processo de paz acaba de morrer”.