Confirmado: Ceres tem água congelada
Já se supunha, mas agora as dúvidas foram esclarecidas graças a observações da sonda Dawn: há dez crateras com gelo de água no planeta-anão entre Marte e Júpiter.
A 6 de Março de 2015, a sonda Dawn, da NASA, foi capturada pela gravidade de Ceres, entrando na sua órbita. Era a primeira vez que uma sonda orbitava num planeta-anão. A missão era – e ainda é – estudar a sua superfície e interior, e o grande objectivo é saber mais sobre a formação dos planetas do nosso sistema solar há cerca de 4500 milhões de anos. Agora uma equipa de cientistas liderada por Thomas Platz, do Instituto Max Planck para Investigação do Sistema Solar (Alemanha), confirma o que já há muito se suspeitava: existe mesmo água congelada nas regiões mais escuras de Ceres.
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A 6 de Março de 2015, a sonda Dawn, da NASA, foi capturada pela gravidade de Ceres, entrando na sua órbita. Era a primeira vez que uma sonda orbitava num planeta-anão. A missão era – e ainda é – estudar a sua superfície e interior, e o grande objectivo é saber mais sobre a formação dos planetas do nosso sistema solar há cerca de 4500 milhões de anos. Agora uma equipa de cientistas liderada por Thomas Platz, do Instituto Max Planck para Investigação do Sistema Solar (Alemanha), confirma o que já há muito se suspeitava: existe mesmo água congelada nas regiões mais escuras de Ceres.
Situado na cintura de asteróides entre Marte e Júpiter, Ceres foi descoberto em 1801. Primeiro foi considerado planeta, depois asteróide e, desde 2006, um planeta-anão. Durante muito tempo pensou-se que este corpo celeste com 900 quilómetros de diâmetro teria uma camada de gelo e seria uma espécie de embrião de um planeta rico em água. Também o telescópio espacial Hubble mostrou (há mais de uma década) que a superfície acinzentada de Ceres tinha pontos – misteriosamente – brilhantes. Desde então, suspeitava-se que existisse gelo em Ceres. Perceber tudo isso seria uma das missões da sonda Dawn.
No valor de 446 milhões de euros, a missão da sonda partiu da Terra a 27 de Setembro de 2007 e passou primeiro por Vesta, um asteróide com cerca de 572 quilómetros de diâmetro, que chegou a ser quente, por sofrer processos de vulcanismo. A Dawn esteve em órbita de Vesta entre Julho de 2011 e Setembro de 2012.
Logo em Maio de 2015, pouco depois de chegar a Ceres, a NASA fez o primeiro mapeamento do planeta-anão. E em Junho de 2016, a revista Nature publicava também um estudo que revelava que os pontos brilhantes de Ceres resultavam de elevadas concentrações de carbonato de sódio. Agora as novidades vindas de Ceres são mais determinantes, já se podendo dizer que existe água congelada nas regiões mais escuras do planeta-anão, um trabalho publicado na última edição da revista Nature Astronomy.
Nas zonas mais escuras identificaram-se ao todo 634 crateras – dez delas são brilhantes. E são estas que têm água. “Esta detecção reforça as provas de que as áreas com sombra permanente têm água congelada nos corpos planetários sem atmosfera”, lê-se no artigo científico.
A análise aos dez depósitos de água congelada nas crateras foi feita por espectroscopia (análise do espectro da radiação), em zonas onde a luz do Sol nunca incidiu. Esses depósitos, localizados no centro das crateras, não têm mais de sete quilómetros de diâmetro. “As áreas onde o sol nunca brilhou são bons locais para observar a água congelada, pois consegue-se apanhar as moléculas de água em vários períodos geológicos”, refere um resumo da Nature Astronomy sobre o trabalho.
“A possibilidade de existir água congelada retida em zonas de sombra permanente em Ceres tinha sido prevista em estudos anteriores. Descobrir depósitos não é apenas entusiasmante, como também confirma que os investigadores estavam certos”, diz Thomas Platz ao PÚBLICO. O coordenador deste estudo ainda destaca como é surpreendente que apenas dez das 600 crateras com sombra permanente tenham depósitos brilhantes. “Poderão vir a encontrar-se mais depósitos de água congelada”, adianta.
O facto de haver um pequeno número de sítios brilhantes, em comparação com Mercúrio, pode ser sinal de que o gelo retido em Ceres se encontra disperso.
Mas o que significa esta confirmação? “Modelos prévios partiam do pressuposto de que havia largas quantidades de gelo no subsolo de Ceres e isso agora também é confirmado indirectamente pelo nosso estudo”, conta-nos Thomas Platz.
O estudo não acaba aqui, o próximo passo da equipa será analisar as mudanças ocorridas em Ceres. Qual a inclinação máxima e mínima do seu eixo? E qual é a periodicidade de variação? “Se a obliquidade varia, isso terá impacto no tempo de sobrevivência dos depósitos de água congelada na superfície e que estão sempre à sombra”, conclui Thomas Platz.
Também a revista Science desta sexta-feira tem um artigo sobre Ceres, baseado em observações da sonda Dawn. E diz que o gelo não está apenas localizado em pequenas crateras, mas também em latitude mais elevadas como as zonas polares. Este trabalho, que tem como principal autor Thomas Prettyman, da Universidade do Arizona, assim como cientistas do Instituto de Astronomia da Universidade do Havai (EUA), determinou concentrações de hidrogénio, ferro e potássio na superfície rochosa de Ceres.
As imagens obtidas com uma câmara de raios gama e de um detector de neutrões, que permitem determinar a composição química da superfície, mostram que há uma mistura de material rochoso presente no gelo em cerca de 10%. Uma mistura que veio de outros tempos. “Estes resultados confirmam as previsões de há três décadas que diziam que o gelo sobreviveu mil milhões de anos na superfície de Ceres”, segundo um comunicado da Universidade do Havai.
E agora as novas conclusões lançam novas questões: será que existe gelo noutros corpos da cintura de asteróides?