Silêncio, Scorsese mostra o filme da sua vida

Rodado em Taiwan ao longo de oito meses, com um elenco encabeçado por Andrew Garfield, Adam Driver e Liam Neeson, o filme chega às salas americanas no dia 23. Há quem fale em testamento cinematográfico.

Fotogaleria

Peter Debruge, na Variety, define-o como “um filme exigente que não apenas aguentará múltiplas revisões como praticamente as exige”. Geoffrey Macnab chama-lhe “imperscrutável” no Independent. Praticamente todas as primeiras críticas invocam os mestres da austeridade religiosa no cinema, Carl Th. Dreyer e Robert Bresson, e apontam como, não sendo “a” obra-prima da carreira de Martin Scorsese, Silêncio é a prova dos incomensuráveis talentos de cineasta do autor de Taxi Driver, O Touro Enraivecido e Tudo Bons Rapazes – há até quem fale de “testamento” cinematográfico de um autor para quem a religião foi sempre um subtexto forte nos seus filmes, mais abertamente à superfície nas explorações da fé que foram A Última Tentação de Cristo e Kundun.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Peter Debruge, na Variety, define-o como “um filme exigente que não apenas aguentará múltiplas revisões como praticamente as exige”. Geoffrey Macnab chama-lhe “imperscrutável” no Independent. Praticamente todas as primeiras críticas invocam os mestres da austeridade religiosa no cinema, Carl Th. Dreyer e Robert Bresson, e apontam como, não sendo “a” obra-prima da carreira de Martin Scorsese, Silêncio é a prova dos incomensuráveis talentos de cineasta do autor de Taxi Driver, O Touro Enraivecido e Tudo Bons Rapazes – há até quem fale de “testamento” cinematográfico de um autor para quem a religião foi sempre um subtexto forte nos seus filmes, mais abertamente à superfície nas explorações da fé que foram A Última Tentação de Cristo e Kundun.

Foi, aliás, ao procurar fugir à controvérsia que recebeu A Última Tentação de Cristo que Scorsese descobriu o romance publicado em 1966 pelo japonês Shusaku Endo, que leu enquanto rodava a sua participação amigável como actor em Sonhos de Akira Kurosawa. A história do confronto de missionários jesuítas portugueses no Japão com a repressão estatal da religião católica falou ao coração do cineasta, que manteve o projecto activo durante os 25 anos que se seguiram sem nunca abandonar a esperança de o poder rodar, mas esbarrando no desinteresse generalizado dos grandes estúdios para um filme tão abertamente “difícil”, ainda por cima depois de toda a polémica que rodeou a estreia de A Última Tentação de Cristo em 1988. Após o êxito de O Lobo de Wall Street, Scorsese decidiu “é agora ou nunca”. Recusou-se a comprometer-se com outro projecto enquanto não arrancasse com Silêncio, e não teve problemas em andar a pedir pelas capelinhas internacionais, reunindo o seu orçamento através de pré-vendas e co-produções.

Rodado em Taiwan ao longo de oito meses, pela ordem cronológica do guião, com um elenco encabeçado por Andrew Garfield, Adam Driver e Liam Neeson (que se entregaram aos seus papéis de forma quase maníaca), o filme chega às salas americanas no próximo dia 23, e foi mostrado no Vaticano ao Papa Francisco no final de Novembro (em Portugal a estreia está prevista para 19 de Janeiro). Embora, para já, o filme tenha ficado de fora das nomeações para os Globos de Ouro, Silêncio está a ser posicionado pela Paramount, que assumiu a distribuição americana, como um filme de prestígio à medida dos Óscares. O “film Twitter”, a corrente contínua de comentário que percorre a rede social, já começou a manifestar prós e contras – desde Jonathan Romney (Film Comment, Sight & Sound) a dizer que “depois de Silêncio compreendo melhor o conceito de purgatório” ao realizador Scott Derrickson, que lhe chama “visceral e espiritualmente desconcertante”, de Tom Page que escreve na Exposure ser um “Revenant sem o dinamismo” a Guy Lodge que lhe chama “o melhor filme de Scorsese numa década, uma oração ardente e inspiradora”. Mas o que ninguém nega é o empenho de Scorsese num projecto que escapa – porque quer – à lógica hollywoodiana contemporânea. Saberemos em Janeiro o que daqui vem.