Um ministério mágico para unir Camões aos Xutos na próxima série da RTP

Estação pública apresentou novidades para 2017 e quatro novas séries, uma delas Ministério do Tempo, a História de Portugal com toque fantástico.

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Sisley Dias em O Ministério do Tempo DR

“Se a vida vai torta/ Jamais se endireita”, diz um técnico do INEM a Luís de Camões. O poeta arrisca um autor para os versos – “Dante Alighieri!”. Não, responde Sisley Dias na pele do paramédico Tiago, “Xutos & Pontapés”. Ministério do Tempo é a RTP1 a reforçar a aposta na jóia do horário nobre com uma produção ambiciosa que alia a história de Portugal à magia. É uma de cerca de dez séries que a estação quer estrear em 2017, continuando a sua tentativa de “criação de um novo modelo de negócio” e de “uma indústria” em torno da ficção serializada.

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“Se a vida vai torta/ Jamais se endireita”, diz um técnico do INEM a Luís de Camões. O poeta arrisca um autor para os versos – “Dante Alighieri!”. Não, responde Sisley Dias na pele do paramédico Tiago, “Xutos & Pontapés”. Ministério do Tempo é a RTP1 a reforçar a aposta na jóia do horário nobre com uma produção ambiciosa que alia a história de Portugal à magia. É uma de cerca de dez séries que a estação quer estrear em 2017, continuando a sua tentativa de “criação de um novo modelo de negócio” e de “uma indústria” em torno da ficção serializada.

Algumas das novidades do canal 1 para 2017 foram apresentadas esta quarta-feira na RTP pelo director de programas, Daniel Deusdado, que voltou a frisar que “a ficção é absolutamente estruturante” no seu projecto. “É onde colocamos mais investimento” e o “passo em frente”, a “atitude consequente com o investimento”, foi programar uma série como Ministério do Tempo, adaptação de um sucesso espanhol da TVE, às 21h. É “ficção mais transversal”, como disse ao PÚBLICO, que pelas imagens mostradas à imprensa toca a acção, a comédia e o lado didáctico ligado a momentos e figuras chave da História de Portugal.

Tiroteios com Nuno Álvares Pereira, aventuras com Camões, uma visita de Hitler a Portugal, a Inquisição, Gil Vicente, Timor na segunda metade do século XX, Os Maias, o terramoto de 1755 são alguns dos pontos de passagem dos 16 episódios que começarão a 2 de Janeiro e irão para o ar sempre nas noites de segunda, “o melhor dia de televisão, antes do Prós e Contras”, situa Virgílio Castelo, consultor de ficção nacional da RTP. E “na janela onde podem ter mais pessoas a ver e onde os espectadores que estão mais fidelizados às novelas podem experimentar as séries”, explica Deusdado sobre a escolha das 21h, horário em que normalmente passam concursos na RTP1.

Outras séries, mais adultas, serão para o horário das 23h, detalhou depois, numa apresentação em que além de programação para o daytime e concursos de talentos como Os Extraordinários ou o regresso de Príncipes do Nada, de Catarina Furtado, mostrou ainda mais três séries – o policial Filha da Lei, com Ivo Canelas e Vítor Norte, a comédia Feitios e outra adaptação, Sim, Chef!, com Miguel Guilherme. As adaptações acrescentam, respondeu ao PÚBLICO Virgílio Castelo, uma camada útil à experiência que a RTP está a desenvolver sistematicamente há cerca de um ano. “Trazem uma capacidade de, na prática, perceber como se resolvem problemas que às vezes nos originais portugueses ainda não sabemos tratar”, explica, reconhecendo que os orçamentos são “limitados” e abraçando o conceito de “desenrascanço”.

Passado um ano, Virgílio Castelo diz identificar "dois problemas principais": "Necessidade de que os nossos guionistas aprendam a escrever para os orçamentos que temos e não a desejar outro; e necessidade de que haja produtores de ficção, porque o que temos são orçamentistas, comptrollers." Elogiando a “criação artística” existente, frisa que as adaptações permitem “ajudar a formar essas pessoas de que precisamos”.

Sem revelarem orçamentos concretos para Ministério do Tempo, frisam que é um grande investimento, mas Daniel Deusdado nega que seja o mais avultado das produções em curso. E adianta que, em média, a RTP está a trabalhar na “produção de séries contemporâneas com orçamentos que rondam os 50 mil euros por episódio; as séries históricas [usam] 75 mil euros por episódio”. Daniel Deusdado classificou como “milagre” o encontro actual entre as poucas verbas disponíveis e os custos das produtoras, com o consultor para a ficção a postular que “é evidente que os orçamentos terão de crescer com o tempo”. Outra expectativa será a de que as audiências, que para as séries de 2016 como Aqui tão longe, Dentro ou Miúdo e graúdo foram baixas, aumentem.

A actriz Mariana Monteiro descreveu Ministério do Tempo, em que interpreta a primeira mulher a ter estudado na Universidade de Coimbra, como “uma série que tem um registo internacional” e que “podia estar num Netflix”. Com adaptação e revisão de Pedro Marta Santos, António Costa Santos e Tomás Nunes, a série conta ainda com João Craveiro, Luís Vicente, António Capelo ou Andreia Diniz e Carla Andrino. Em Espanha, com orçamentos que Virgílio Castelo diz serem quase dez vezes superiores, já vai para a terceira temporada e tem fãs com direito a nome próprio – são os “ministéricos”.