Propostas para construir democracia nas escolas
Três escritores e uma editora lançam quatro propostas concretas para tornar mais democrática a gestão dos estabelecimentos de ensino.
Jacinto Lucas Pires
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Jacinto Lucas Pires
Autonomia e uma assembleia “em que a escola se ouvisse e falasse”
Em nome da real autonomia das escolas, o escritor Jacinto Lucas Pires sugere que todos os corpos da escola - do director aos alunos, passando por professores e funcionários – pudessem reunir-se numa espécie de assembleia, mensal ou semanal, “em que a escola se ouvisse e falasse”. “Não há melhor símbolo de democracia do que uma assembleia”, sustenta o autor, para quem a democracia nas escolas não se constrói se estas não dispuserem de “real autonomia” para que possam “organizar-se, pensando no território onde se inserem e com os professores que têm e no que pensam que é necessário para o futuro dos alunos”.
Bárbara Bulhosa
Um ensino a partir dos alunos
Avessa ao modelo que faz com que os alunos sejam sujeitos passivos do ensino, a editora da Tinta da China considera que os professores deviam dispor de uma flexibilidade de actuação que lhes permitisse ensinar a matéria a partir das vivências dos alunos e atendendo às especificidades de cada um. “Aquela coisa de o professor chegar e debitar a matéria e de os alunos ouvirem, fazerem os trabalhos de casa, estudarem e fazerem os testes faz-me impressão. Acho que os alunos deviam poder ser mais activos. Não é que sejam eles a decidir o que vão estudar, mas que as suas curiosidades naturais, que decorrem das suas vivências e que até vão ao encontro da matéria, possam ser mais usadas pelos professores no contexto da sala de aula”, preconiza, para lembrar que os filhos, que frequentaram um estabelecimento ligado ao Movimento Escola Moderna, “se calhar não sabiam a tabuada de cor mas sabiam como fazer para lá chegar e não trabalhavam menos, até trabalhavam mais” do que numa escola regular.
Dulce Maria Cardoso
Acabar com a precariedade dos professores
Para a escritora Dulce Maria Cardoso “a medida mais urgente” para chamar a democracia às escolas é acabar que “a precariedade dos professores”. “Não é possível trabalhar bem sem segurança. Parece-me vergonhoso que os professores não possam decidir a sua vida e que tenham de ser desterrados de todo o lado, deixar as famílias longe, para conseguirem trabalhar. Pôr fim à precariedade dos professores parece-me uma questão da mais elementar justiça. O resto vem com isso e com uma maior transparência na eleição dos órgãos representativos da escola “, defende a autora de O Retorno.
Inês Pedrosa
Alunos a partir do 9º ano deveriam avaliar os professores
A escritora Inês Pedrosa considera que, a partir do 9.º ano de escolaridade, os alunos deveriam poder avaliar os professores. “Um dos problemas é que a escola é muito hierárquica. Os professores avaliam os alunos, mas estes não têm possibilidade de se expressar sobre a qualidade do ensino. Essa avaliação favoreceria a qualidade do ensino e conduziria a uma maior responsabilização dos próprios alunos que não se sentiriam apenas sujeitos a uma autoridade, mas participantes de uma comunidade”, preconiza, para defender ainda que “os directores deveriam ser não únicos, mas parte do conselho directivo eleito pela escola, ou seja, pelos docentes e pelas associações de estudantes”.