Melenchon é lélé da cuca
O sistema político do nosso tempo está a dar nisto. Loucura puxa loucura, radicalismo puxa radicalismo, populismo puxa populismo.
Jean-Luc Mélenchon é o candidato da Frente de Esquerda (incluindo o PCF) às eleições presidenciais francesas. Uma recente entrevista dele ao Nouvel Obsevateur permite uma reflexão que julgo útil também para Portugal e que foi motivada pelo aterrador texto de Nuno Pacheco sobre as bases ideológicas (vulgo “idiotices”, como muito bem as crisma) do partido italiano 5 Estrelas.
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Jean-Luc Mélenchon é o candidato da Frente de Esquerda (incluindo o PCF) às eleições presidenciais francesas. Uma recente entrevista dele ao Nouvel Obsevateur permite uma reflexão que julgo útil também para Portugal e que foi motivada pelo aterrador texto de Nuno Pacheco sobre as bases ideológicas (vulgo “idiotices”, como muito bem as crisma) do partido italiano 5 Estrelas.
Que pretende então Mélenchon fazer se for eleito Presidente da República?
Um imposto sobre o rendimento de 100% sobre tudo o que for ganho acima de 400 000 euros por ano. Energia 100% renovável. Desmantelar as instalações nucleares, seja qual for o custo que daí resulte. Sistema público de produção de energia que terá créditos facílimos de obter, pois os fundos de pensão não sabem onde colocar o dinheiro. 50% da dívida pública é ilegítima e não deve ser paga. Como a França corresponde a 18% da economia europeia, os credores terão de aceitar essas perdas ou então o BCE compra e anula a dívida. Ele fez uns estudos e daí resultará apenas 6% de inflação e nada mais. Há que denunciar os tratados orçamentais.
Deve haver recurso permanente ao voto, para que por referendos revogatórios se diga sempre o que os cidadãos quiserem e quais os políticos que devem ser substituídos. Deve ser votada uma Assembleia Constituinte para onde não possa ser eleito nenhum deputado da atual 5ª República (portanto dos últimos 55 anos), seja qual for o seu partido.
Quanto ao voto dos estrangeiros diz que a Assembleia Constituinte decidirá (ele pode ser louco, mas não é parvo…). Também quanto à emigração não diz se devem fechar-se ou abrir as fronteiras mas que “il faut penser autrement”, seja lá o que isso for. As guerras devem acabar em Africa e com isso acabam os migrantes refugiados. Os trabalhadores sem papéis devem ser legalizados assim como os que têm filhos a estudar. Vai obter o pleno emprego (hoje 9,7% de desempregados em França).
Mariana Mortágua ao pé disto é uma social-democrata. O PCP seguramente um horrível partido revisionista. É certo que Mélenchon tem menos probabilidades de ser eleito do que eu de reincarnar em gato. E que se poderá dizer, parafraseando um frase célebre, que “o Mélechon é lélé da cuca”. E desta vez com alguma razão. Mas também o eram Estaline, Hitler, Pol Pot. E o são Trump, Beppe Grilo e Varoufakis (bom amigo de Mélenchon, aliás) e por aí fora. Por isso a questão só pode ser outra: o sistema político do nosso tempo está a dar nisto. Loucura puxa loucura, radicalismo puxa radicalismo, populismo puxa populismo.
Este filme já ocorreu na Europa, por exemplo a seguir à 1ª Guerra Mundial, na Alemanha. E acabou muito mal. Mas pode ser que me engane, que o Beppe Grilo tenha saúde mental, que Mélenchon seja um político sensato e que eu é que já esteja lélé da cuca…