Guterres agradeceu ao povo português valores que recebeu ao longo da vida

Novo secretário-geral da ONU destacou que em Portugal "nenhuma força política, da esquerda ou direita, usou o medo ou o ódio para ganhar votos".

Foto
AFP/EDUARDO MUNOZ ALVAREZ

O secretário-geral designado das Nações Unidas, António Guterres, agradeceu na segunda-feira aos portugueses as lições de "solidariedade, tolerância e diálogo" que recebeu ao longo da vida, destacando a unidade política nacional à volta da sua campanha.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O secretário-geral designado das Nações Unidas, António Guterres, agradeceu na segunda-feira aos portugueses as lições de "solidariedade, tolerância e diálogo" que recebeu ao longo da vida, destacando a unidade política nacional à volta da sua campanha.

No final de um dia em que prestou juramento na sede das Nações Unidas como secretário-geral, e numa recepção oferecida pelo Presidente da República português para cerca de 800 pessoas, António Guterres fez questão de fazer um discurso mais pessoal.

"Este é o momento em que desejo expressar a minha profunda gratidão para com o meu país", afirmou.

Referindo-se ao primeiro-ministro, António Costa, como seu "querido amigo" e ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, como "velho amigo", Guterres classificou-os como "os seus mais entusiasmados apoiantes" e agradeceu o apoio de todos os partidos políticos.

"Esta unidade, dos portugueses e do seu sistema político, é simbólica do tipo de unidade que gostava de ver na comunidade internacional", disse.

O antigo primeiro-ministro socialista agradeceu ainda ao povo português pelo que aprendeu ao longo da vida sobre "os valores da solidariedade, tolerância e dialogo" e exemplificou com a relação entre o chefe de Estado e chefe de Governo, que segunda-feira estiveram presentes em Nova Iorque na cerimónia de juramento e, à noite, na recepção.

"O primeiro-ministro e o Presidente da República pertencem a partidos diferentes, mas estão ambos aqui: mais do que as palavras, a sua linguagem corporal mostra como estão unidos", destacou.

O futuro secretário-geral das Nações Unidas, que iniciará funções em 1 de Janeiro, deixou ainda um elogio ao sistema político português, lembrando as eleições legislativas e presidenciais em que estes dois actores políticos foram eleitos.

"Ambos foram eleitos em eleições ferozes e muito disputadas. Mas nessas eleições, nenhuma força política, da esquerda ou direita, usou o medo ou o ódio para ganhar votos", afirmou.

António Guterres expressou ainda o seu orgulho de que em Portugal "todos os partidos políticos, direita ou esquerda, tenham sido sempre capazes de expressar as suas opiniões sem usar como bodes expiatórios" os imigrantes.

"Seria muito fácil para qualquer partido político dizer: vote em nós, porque vamos livrar-nos dos imigrantes e, com base nisso, criar trabalhos para os portugueses (...). Temos visto este tipo de discurso em todo o lado. Tenho muito orgulho de vir de um pais que não usa este tipo de discurso para ganhar votos", acrescentou.

"São estes valores de solidariedade, diálogo e tolerância, que agradeço muito ao meu povo me ter ensinado e que consegui preservar em todos estes anos que me trouxeram até este dia, aqui, convosco", concluiu, num discurso em inglês.

Antes de António Guterres, usou da palavra o ainda secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que além dos elogios ao seu sucessor, aproveitou para partilhar com a audiência "um segredo".

"Temos outra coisa para celebrar hoje, é um segredo, o aniversário do Presidente Rebelo de Sousa", disse, o que motivou uma salva de palmas dos presentes e uma tentativa tímida de cantar 'Happy Birthday'.

Em português, foi Ban-Ki moon que desejou "parabéns e feliz aniversário" ao chefe de Estado português, que na segunda-feira completou 68 anos, e ironizou que já percebeu porque foi 12 de Dezembro a data escolhida para o juramento de António Guterres.

Já Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro a discursar nesta recepção, voltou a destacar as características únicas do seu amigo de 50 anos para liderar as Nações Unidas e sublinhou que "o sucesso de Guterres será o sucesso" daquela organização internacional.

Na recepção, que decorreu na segunda-feira à noite (hora local, terça-feira em Portugal) na sede das Nações Unidas, estiveram presentes cerca de 800 pessoas, entre os quais os Representantes Permanentes e Representantes Permanentes Adjuntos das Missões Permanentes junto da ONU, o vice-secretário-geral das Nações Unidas, o presidente da Assembleia-Geral das Nações Unidas e todos os Secretários Gerais Adjuntos e Secretários Gerais Assistentes das Nações Unidas residentes em Nova Iorque.

Marcaram ainda presença na recepção, que decorreu em ambiente descontraído e com a música e gastronomia portuguesa em destaque, os funcionários portugueses que trabalham na sede das Nações Unidas, incluindo o Secretário Geral Adjunto para Questões Jurídicas, Miguel Serpa Soares, e a Representante Especial do SGNU para a Violência contra as Crianças, Marta Santos Pais, bem como representantes de várias organizações da sociedade civil