Porque é que o tempo voa em situações divertidas?

Cientistas ajudam a compreender o porquê de o tempo passar rápido nas situações divertidas e "ficar parado" em casos aborrecidos

Foto
Wil Stewart/Unsplash

Cientistas do Centro Champalimaud identificaram circuitos de neurónios no cérebro dos ratinhos que modulam a estimativa do tempo decorrido, ajudando a compreender porque o "tempo parece voar" em situações divertidas e "ficar parado" em casos aborrecidos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Cientistas do Centro Champalimaud identificaram circuitos de neurónios no cérebro dos ratinhos que modulam a estimativa do tempo decorrido, ajudando a compreender porque o "tempo parece voar" em situações divertidas e "ficar parado" em casos aborrecidos.

A investigação, publicada na revista Science, descobriu que "a manipulação da actividade de certos neurónios no cérebro do ratinho levava estes animais a subestimar ou sobrestimar a duração de um intervalo de tempo fixo", refere um comunicado divulgado pelo Centro Champalimaud.

"Os cientistas identificaram, pela primeira vez, circuitos neurais que modulam a estimação do tempo decorrido — pelo menos no cérebro do ratinho", acrescenta. Os resultados deste trabalho, de Joe Paton, investigador principal do Learning Lab, de Sofia Soares, estudante de doutoramento, e de Bassam Atallah, pós-doutorado, dão uma resposta neurobiológica à antiga questão de perceber como o cérebro consegue produzir estimativas tão variáveis do tempo decorrido.

"O tempo voa, o tempo passa, o tempo pára. Todas estas expressões mostram o quão variável pode ser a nossa percepção da passagem do tempo", refere a informação. E este foi o ponto de partida da investigação que pretendia perceber como é que o cérebro humano constrói esta experiência tão subjectiva.

Os resultados obtidos "também poderão ajudar a explicar o porquê de o tempo parecer voar quando nos divertimos e ficar parado quando não temos nada para fazer", explica o Centro Champalimaud. O grupo de neurocientistas estuda há vários anos as bases neurais da avaliação da passagem do tempo, no âmbito de um objectivo mais abrangente de perceber como o cérebro aprende a relacionar causas com efeitos, mesmo ao longo de grandes períodos de tempo.

Focaram-se num tipo de neurónios que libertam dopamina, um dos mensageiros químicos, ou neurotransmissores, utilizados pelo cérebro, e que fazem parte de uma zona profunda, a substantia nigra pars compacta, que está envolvida no processamento temporal. "Estes neurónios dopaminérgicos estão implicados em muitos dos factores e perturbações psicológicos associados a alterações na estimativa do tempo", como motivação, mudanças sensoriais, atenção, novidade e emoções como medo ou alegria, escrevem os autores na Science.

Nos seres humanos, refere a informação, a destruição da substantia nigra provoca a doença de Parkinson, que também é acompanhada de deficiências da percepção do tempo. "É muito provável que um circuito semelhante exista no cérebro humano, mas o obstáculo que impede de tirar essa ilação é que o que agora mediram no ratinho não pode ser considerado uma percepção, porque os animais não conseguem dizer o que sentiram", sublinham os autores.