Os pais e as mães do sucesso dos alunos portugueses
Assim que foram conhecidos os resultados dos alunos no TIMSS e no PISA vieram cantar-se loas ao ex-ministro Nuno Crato. Mas o mérito não é, nem podia ser, só dele.
Ficamos felizes, muito felizes, com os bons resultados no TIMSS e no PISA. De repente, nem é preciso desdobrarmos as siglas porque não interessam para nada. O importante é que os alunos portugueses ficaram bem posicionados nas tabelas da OCDE, acima de outros sistemas para os quais olhamos com inveja e com desejo de os imitarmos. Já não é preciso, somos melhores!
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Ficamos felizes, muito felizes, com os bons resultados no TIMSS e no PISA. De repente, nem é preciso desdobrarmos as siglas porque não interessam para nada. O importante é que os alunos portugueses ficaram bem posicionados nas tabelas da OCDE, acima de outros sistemas para os quais olhamos com inveja e com desejo de os imitarmos. Já não é preciso, somos melhores!
Os alunos portugueses estão de parabéns porque sabem responder aos testes internacionais que lhes são postos à frente. Os pais dos alunos portugueses estão de parabéns porque mostram que se preocupam cada vez mais com a escola e com o que esta pode contribuir para o futuro dos seus filhos. Os professores dos alunos portugueses estão de parabéns porque sabem adaptar-se a tudo e a mais alguma coisa que venha do Ministério da Educação. E os vários ministros e equipas que têm passado pela Avenida 5 de Outubro estão de parabéns porque puseram professores e alunos a saber responder aos testes internacionais.
Rapidamente, assim que foram conhecidos os resultados dos alunos nestes testes vieram cantar-se loas a Nuno Crato. O ex-ministro fez da Matemática a sua prioridade, apelou à exigência e os resultados estão à vista. Mas o mérito não está concentrado neste governante, nem seria possível que assim fosse.
O mérito vem de trás, o que mostra que na educação, como noutras áreas, o trabalho deve ser feito e pensado a longo prazo; afinal, por trás de cada vitória, tal como acontece no desporto, há trabalho, muito trabalho.
Tudo começa com Marçal Grilo e a obrigatoriedade da educação pré-escolar. Sim, acreditem que é verdade. É no pré-escolar que se fazem descobertas, se trabalha a leitura mesmo que as crianças não aprendam a ler, mas aprendem a ouvir e a interpretar; que se começa a treinar a numeracia, de forma divertida, aprende-se a ordenar os objectos, a contá-los; aprende-se a partilha, a ultrapassar obstáculos, a trabalhar em conjunto. Os meninos não saberiam responder a questões práticas como as que são postas nos testes PISA se não tivessem passado pelo pré-escolar.
Passa pelos ministros socialistas seguintes, Oliveira Martins e Santos Silva, e pela secretária de Estado Ana Benavente, que deram continuidade a uma política de aposta na escola pública, na educação para a cidadania, na área projecto, no estudo acompanhado – aprender a estudar, como é importante!, nas provas de aferição. Continua com David Justino, que defende os exames nacionais para o final de cada ciclo, comprometendo ainda mais os professores e os alunos nos resultados, habituando-os a responder a provas iguais para todos.
E continua com Maria de Lurdes Rodrigues (MLR) – e agora, se é professor, rasgue as vestes e vá directamente para a caixa de comentários amaldiçoar a ex-ministra e a cronista que se lembrou de a mencionar. É com MLR que os docentes fazem formação a Matemática, do 1.º ciclo, onde os problemas começam, ao secundário. É criado um Plano de Acção para a Matemática, mas não só, surge o Plano Nacional de Leitura. É introduzido o Inglês no 1.º ciclo – as crianças do ensino privado já o aprendiam há algum tempo –, assim como a Música e a Educação Física.
As escolas isoladas foram fechadas e com as autarquias são construídos os famosos centros escolares – um terror para as criancinhas, temiam os pedagogos; um espaço aberto, novo e com acesso a cantina, a biblioteca, a espaço para praticar desporto, para fazer festas, para juntar todas as crianças das freguesias, para lhes dar algum mundo. As aulas de apoio, as de substituição, as escolas em Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (criados em 1996 e relançados dez anos depois, com o objectivo de apoiar as escolas com mais dificuldades, dando-lhes alguma autonomia para contratar profissionais que queiram, realmente, trabalhar com alunos mais difíceis e que podem estar, desde o principio, condenados ao insucesso – o PISA destaca os resultados desses alunos)... Tudo isso contribui para a melhoria dos resultados, acredito.
Foi tudo bom? Claro que não e os professores que leram até aqui podem enumerar melhor do que eu o que não correu bem. Mas os alunos de 15 anos que responderam aos testes do PISA entraram no 1.º ciclo nos primeiros anos de mandato de MLR. As suas políticas continuaram em vigor com Isabel Alçada, noutras Crato não mexeu.
E em todo este processo não podemos esquecer um organismo que foi do ministério e se tornou independente com Nuno Crato: o Instituto de Avaliação Educativa (Iave). É este que faz as provas de aferição, os exames nacionais. É este que aplica as avaliações internacionais – o TIMSS, o PISA, o PIRLS – aos alunos portugueses. É este que as estuda, que avalia os resultados e que observa o que se pode fazer para melhorar esses mesmos resultados. O trabalho que o Iave faz é imprescindível porque põe os professores, mesmo que estes não se apercebam, a treinar os alunos para responderem aos testes internacionais. Hélder de Sousa, que se tem mantido à frente deste organismo, ministro após ministro, também está de parabéns.