Isabel Mota é a próxima presidente da Fundação Calouste Gulbenkian
Ex-secretária de Estado do Planeamento nos governos de Cavaco Silva, era a mais antiga administradora em funções e será a primeira mulher a presidir à fundação.
A economista Isabel Mota, secretária de Estado do ministro Valente de Oliveira nos governos de Cavaco Silva e administradora da Gulbenkian desde 1999, é a próxima presidente da Fundação Gulbenkian, sucedendo a Artur Santos Silva, cujo mandato cessa no início de Maio de 2017, e que, pelas normas da casa, não poderá ser reconduzido por motivos de idade.
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A economista Isabel Mota, secretária de Estado do ministro Valente de Oliveira nos governos de Cavaco Silva e administradora da Gulbenkian desde 1999, é a próxima presidente da Fundação Gulbenkian, sucedendo a Artur Santos Silva, cujo mandato cessa no início de Maio de 2017, e que, pelas normas da casa, não poderá ser reconduzido por motivos de idade.
Isabel Mota, que será a primeira mulher a presidir à fundação, “foi eleita por voto secreto depois de ter aceitado apresentar-se à votação do conselho por solicitação unânime” dos restantes administradores, diz o comunicado assinado pelo conselho de administração. O facto de todos os seus pares lhe terem pedido que se candidatasse foi sublinhado ao PÚBLICO por Artur Santos Silva, para quem esta escolha assegura “uma transição completamente pacífica”.
Rui Vilar, um dos três administradores não executivos, confirmou o consenso gerado por Isabel Mota e disse ao PÚBLICO que se trata de “uma excelente decisão” e que a nova directora “irá certamente contribuir para dar continuidade ao trabalho da fundação”.
Sucedendo a Azeredo Perdigão, Ferrer Correia, Vítor Sá Machado, Rui Vilar e Artur Santos Silva, Isabel Mota, licenciada em Economia e Finanças, será não apenas a primeira mulher a ocupar o cargo, mas também o primeiro presidente da Gulbenkian sem uma licenciatura em Direito.
Num breve comunicado em que agradece a confiança que nela depositaram, Isabel Mota assume já três compromissos para o seu mandato: “O primeiro, com o futuro, prosseguindo o propósito de manter a Fundação a acompanhar os novos tempos, tanto em Portugal como nas diferentes comunidades que serve; o segundo, com os mais vulneráveis, que deverão ser os principais beneficiários da actividade da Fundação; por último, mas não menos importante, com a importância da arte e da cultura que nos dão a sabedoria e constituem os alicerces da tão necessária tolerância nos tempos conturbados em que vivemos".
Apesar da sua sugestão de que a ordem dos compromissos não reflecte necessariamente a importância que lhes atribui, o facto de ter deixado para o fim a arte e a cultura não deixa de ser significativo, já que uma das questões que a sua eleição levanta é justamente a de saber como se posicionará nesse recorrente debate que atravessa a fundação, entre os que – simplificando uma discussão complexa e com muitos cambiantes – privilegiam a intervenção social e os que acreditam que é no apoio à cultura que a Gulbenkian pode ter um papel mais diferenciador.
E o currículo de Isabel Mota, antes e depois de chegar à Gulbenkian, parece tornar mais natural que dê prioridade às áreas sociais. Chegou à fundação em 1996 para dirigir o serviço de Orçamento, Planeamento e Controlo e passou a administradora em 1999, onde foi tendo responsabilidades nos pelouros da saúde e protecção social.
Valente de Oliveira, que a escolheu como secretária de Estado quando foi ministro do Planeamento e da Administração do Território nos governos de Cavaco Silva, entre 1987 e 1995, reconhece que Isabel Mota “é particularmente sensível às questões sociais”, mas lembra que “tem mostrado grandes capacidades em todos os sectores”, evocando por exemplo o seu papel no projecto de Serralves, quer no financiamento inicial da fundação, quer na construção do Museu de Arte Contemporânea.
“Isabel Mota é uma pessoa de grande capacidade de acção, muito inteligente e alerta para todos os sectores de actividade, e deu provas disso em variadas circunstâncias, seja no Governo, seja na Gulbenkian, onde desempenhou tarefas complicadas, nomeadamente na área da saúde”, diz Valente de Oliveira.
Até à tomada de posse da nova presidente, no início de Maio de 2017, só a necessidade de substituir António Guterres – cuja eleição para secretário-geral da ONU impedirá que se mantenha como administrador não executivo – poderá justificar alguma mexida no actual conselho de administração.
Já a saída de Artur Santos Silva deixa uma vaga no elenco dos seis administradores executivos, mas será já sob a presidência de Isabel Mota que a situação será resolvida. A nova presidente poderá querer convidar alguém de fora, como Santos Silva fez com Guilherme d’Oliveira Martins, mas os regulamentos admitem vários cenários. E se a fundação tem tido nove administradores – o máximo que os seus estatutos prevêem –, nada impede que fique apenas com oito.
Também a saída de Rui Vilar, indicado para chairman da Caixa Geral de Depósitos, pode vir a colocar-se, mas não é inevitável, até porque a regra interna do limite de idade dos administradores – não podem ter mais de 70 anos quando são cooptados – não se aplica aos não executivos. O que, de resto, tornaria possível que o próprio Santos Silva se mantivesse como administrador sem funções executivas.
Nascida em Lisboa em 1951, Isabel Mota licenciou-se em 1973 pela Universidade de Lisboa e foi assistente do Instituto Superior de Economia (1973-75). Em 1978, tornou-se subdirectora Geral do Gabinete para a Cooperação Económica Externa do Ministério das Finanças, e foi depois conselheira na Representação Permanente de Portugal em Bruxelas (1986).
Enquanto secretária de Estado do Planeamento e do Desenvolvimento Regional nos Governos de Cavaco Silva, teve como principal responsabilidade a negociação com a União Europeia dos Fundos Estruturais e de Coesão para Portugal.
Em paralelo com o seu trabalho na Gulbenkian, coordenou em 2004 a elaboração da Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável e integrou nos últimos anos o Conselho Económico e Social.