Deco alerta para perigos de brinquedos electrónicos acessíveis pela Internet
A Associação para a Defesa do Consumidor (Deco) alertou nesta terça-feira que os brinquedos ligados à Internet My Friend Cayla e i-Que evidenciam falha na protecção, privacidade e direitos dos consumidores mais jovens.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A Associação para a Defesa do Consumidor (Deco) alertou nesta terça-feira que os brinquedos ligados à Internet My Friend Cayla e i-Que evidenciam falha na protecção, privacidade e direitos dos consumidores mais jovens.
Em Portugal, os brinquedos My friend Cayla e I-Que não se encontram à venda em lojas físicas, mas estão disponíveis e acessíveis aos consumidores através de plataformas online como a Amazon ou Ebay, facto que preocupa muito a Deco, que já alertou a Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica (ASAE).
As preocupações da Deco e de outras organizações europeias de consumidores, bem como de cóngeneres norte-americanas, surgiram no seguimento de um estudo da ForbrukerRadet/Conselho Norueguês do Consumidor, que analisou as características técnicas de brinquedos ligados à Internet e os termos e condições das suas aplicações.
Segundo a associação de defesa do consumidor portuguesa, os resultados provam infracções graves aos direitos das crianças, nomeadamente quanto à privacidade dos dados pessoais.
Estes brinquedos funcionam através de ligação à Internet, possuem microfones incorporados e tecnologias de reconhecimento de fala, permitindo-lhes "conversar" com as crianças que os manipulam. As crianças, ao interagirem com os brinquedos, poderão partilhar informações pessoais, ou seja, dados que são sigilosos.
O estudo revelou a falta de segurança destes brinquedos, notando que, com passos simples, qualquer pessoa pode assumir o controlo dos brinquedos através de um telemóvel, tornando possível falar e ouvir através do brinquedo sem ter acesso físico ao mesmo.
"Esta falta de segurança poderia ter sido evitada facilmente, exigindo, por exemplo, que o consumidor pressione um botão para emparelhar o seu telemóvel com o brinquedo", refere o documento.
Outra infracção detectada prende-se com os termos e condições ilegais, pois, antes de usar o brinquedo, os consumidores têm necessariamente de aceitar que os termos e condições sejam alterados sem aviso prévio, que os dados pessoais possam ser usados para publicidade e que essas informações possam ser partilhadas com terceiros não identificados.
"Estas situações são claras violações legais à protecção de dados e segurança dos brinquedos", conclui o estudo.
Outra infracção relaciona-se com o facto de os segredos das crianças serem partilhados, uma vez que a gravação das conversas entre a criança e o brinquedo é transferida para uma empresa americana Nuance Communications, que se reserva no direito de partilhar essa informação com terceiros e de usar aqueles dados para diversos fins.
Por último, os investigadores concluiram que as "crianças estão sujeitas a marketing escondido", na medida em que os brinquedos são formatados com frases pré-programadas, recomendando diferentes produtos comerciais.
Por exemplo, Cayla "fala" sobre o quanto gosta de alguns filmes da Disney, sendo clara a relação comercial entre o fabricante e a Disney.
A Deco avança com conselhos ao consumidor, lembrando que este pode resolver o contrato celebrado pela Internet no prazo de 14 dias, devendo ainda reclamar junto do vendedor e do produtor de forma a impedir que brinquedos com defeitos semelhantes entrem no mercado.