Falsificações levam Sotheby’s a comprar laboratório

Responsável da Orion Analytical passará a ser o director do novo departamento de investigação científica da leiloeira londrina.

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PETER J JORDAN

A leiloeira britânica Sotheby’s comprou a Orion Analytical, uma empresa de tecnologia de ponta especializada em analisar materiais, averiguar a origem de obras de arte e investigar falsificações de alto nível. O principal responsável da empresa, o cientista James Martin, com quem a leiloeira colaborou regularmente ao longo dos últimos 20 anos, foi contratado como director do novo departamento de investigação científica da Sotheby’s.

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A leiloeira britânica Sotheby’s comprou a Orion Analytical, uma empresa de tecnologia de ponta especializada em analisar materiais, averiguar a origem de obras de arte e investigar falsificações de alto nível. O principal responsável da empresa, o cientista James Martin, com quem a leiloeira colaborou regularmente ao longo dos últimos 20 anos, foi contratado como director do novo departamento de investigação científica da Sotheby’s.

“O modo como olhamos para as pinturas que investigamos para venda sempre incluiu a análise técnica, mas ter agora na casa alguém como Jamie, com acesso a uma tão diversificada gama de diagnósticos técnicos e com uma compreensão tão profunda desta área cada vez mais complexa, vai beneficiar-nos muito”, afirmou Alexandre Bell, co-director internacional do departamento de pintura antiga da leiloeira.

Por trás desta decisão, sugere o site The Art Newspaper, estará uma série de sofisticados casos de falsificação que abalaram o mercado da arte nos últimos anos. Em 2011, a própria Sotheby’s vendeu o retrato de um homem desconhecido, que acreditava ter sido pintado por Frans Hals, a um coleccionador de Seattle, Richard Hedreen, por dez milhões de dólares. A obra vinha certificada pelo marchand londrino Mark Weiss, que por sua vez a comprara por três milhões de dólares ao marchand franco-italiano Giuliano Ruffini. Já este ano, a Orion Analytical foi chamada a investigar o retrato e concluiu que se tratava de uma falsificação, o que levou a Sotheby’s a imediatamente reverter o negócio e indemnizar o comprador.

A opção da leiloeira parece estar a ser bem recebida no mercado da arte. “Isto dará à Sotheby’s uma ligeira vantagem de credibilidade no mercado da pintura antiga, que se fundamenta na confiança dos compradores de que a obra confere com o que o rótulo diz que ela é”, comenta o historiador de arte e marchand Bendor Grovesnor. E o galerista e negociante de obras dos grandes mestres flamengos Johnny Van Haeften observa que “todos os avanços tecnológicos são de aplaudir” e diz que a Sotheby’s “está a tentar proteger-se, a si e aos seus vendedores e compradores, e a procurar evitar quaisquer futuros mal-entendidos”.  

No site da Orion Analytical pode actualmente ler-se uma breve carta de Jamie Martin, onde este anuncia a aquisição da companhia e as suas novas funções na Sotheby’s, ao mesmo tempo que sossega os seus muitos clientes com a garantia de que o arquivo da empresa não foi incluído no negócio com a leiloeira.  

Martin ensinou no Getty Conservation Institute e no Smithsonian’s Museum Conservation Institute, nos Estados Unidos, e colaborou com o FBI na investigação de fraudes no mundo da arte, tendo tido um papel crucial na resolução do célebre caso da falsificação de obras de pintores do expressionismo abstracto, como Jackson Pollock ou Mark Rothko, que foram vendidas durante anos através da galeria nova-iorquina Knoedler, entretanto encerrada.

Um caso que o actual presidente da administração da Sotheby’s, Domenico De Sole, conhece bem, já que foi uma das suas vítimas, tendo comprado por 25 milhões de dólares um suposto Rothko que foi pintado por um imigrante chinês, Pei-Shen Qian, na sua garagem. Qian foi acusado, mas conseguiu evitar a prisão fugindo atempadamente para a China.