Remuneração de Macedo não vai mudar, mas o assunto não é pacífico à esquerda
Governo garante que Paulo Macedo manterá salário de António Domingues: 423 mil euros/ano. Vogais executivos receberão 337 mil euros anuais.
Um salário “estúpida e obscenamente pantagruélico”. Com três palavrinhas apenas, o socialista João Soares, único ex-ministro do Governo de António Costa, classificou a remuneração do administrador da Caixa Geral de Depósitos, acrescentando que espera de Paulo Macedo ”rapidamente prescinda publicamente de parte substancial” desse valor que foi “negociado por Domingues”.
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Um salário “estúpida e obscenamente pantagruélico”. Com três palavrinhas apenas, o socialista João Soares, único ex-ministro do Governo de António Costa, classificou a remuneração do administrador da Caixa Geral de Depósitos, acrescentando que espera de Paulo Macedo ”rapidamente prescinda publicamente de parte substancial” desse valor que foi “negociado por Domingues”.
Esta espécie de apelo foi deixada no Facebook, onde João Soares se referiu à “horrível novela sobre a presidência da administração da CGD, que nos massacrou durante dias e dias”. Soares reagiu já depois de Marcelo ter dito ao PÚBLICO que mantém, sobre o tema, “a mesma posição que tinha", quando promulgou a lei que permitiu a subida dos salários, ou seja: “Se há fundos públicos, não é possível nem desejável pagar o que se pagaria se fosse um banco privado sem fundos públicos”.
Do lado do PCP e do BE o assunto continua a ser sensível. Os bloquistas recordaram, assim que a sucessão de António Domingues ficou fechada, que sempre consideraram o salário excessivo e que era importante aproveitar a oportunidade para corrigir isso mesmo. Já o PCP disse ao negócios, pela voz do líder parlamentar João Oliveira que “o Governo devia alterar as regras de remunerações dos gestores públicos nos termos em que o PCP tem proposto”, ou seja, limitando-as a 90% do salário do Presidente da República.
O incómodo que o elevado salário dos gestores da Caixa causa à esquerda, incluindo ao PS, não será suficiente para haver recuos por parte do Governo. Assim o disse António Costa ontem, à saída de uma visita à fábrica da Renova, em Torres Novas. “Essa é uma opção política que foi tomada, está mantida, vai ser executada” e não vai ser mudada, assumiu o primeiro-ministro, lembrando que a legislação “está em vigor” e que os vencimentos não foram desenhados “’ad hominem’ para a administração que está a sair” mas sim para garantir que a Caixa “tenha uma gestão profissional, que possa recrutar no mercado administradores ao nível que qualquer outro banco possa recrutar”.
Ainda ontem, o próprio Paulo Macedo acabou por se referir ao seu futuro emprego e comentar os elogios que tem recebido, dizendo que “é sempre positivo ter o trabalho reconhecido, há opiniões positivas, mas também já houve outras que são críticas".
O ex-ministro de Pedro Passos Coelho foi apanhado pelos jornalistas à margem da Conferência "Corrupção: Combate de todos para todos" e fez declarações o mais abrangentes possível, apesar de reconhecer que o tema suscita curiosidade e interesse. “É um processo que é complexo”, disse. “Há o objectivo de constituir uma equipa e estamos a fazer isso.”
Paulo Macedo garantiu ainda que “quando houver questões claras, definitivas e concretas comunica-se”, mas “até lá, não vale a pena estar a alimentar nomes ou curiosidades, etc, porque a Caixa precisa de desenvolver o seu trabalho e de pôr em prática o plano que está aprovado. E é nisso que nos devemos concentrar”.
Entretanto, e aproveitando que o Estatuto do Gestor Público será discutido hoje no Parlamento por iniciativa do PSD, o CDS entregou dois projectos de lei sobre o tema, um dos quais centrado na questão salarial. “Através da presente iniciativa legislativa, o CDS elimina qualquer possibilidade de os gestores públicos serem remunerados acima da remuneração do primeiro-ministro”, lê-se no diploma.
Sem se referir a salários, Passos Coelho aproveitou a sua participação na primeira Eco Talks, para se mostrar como voz dissonante e deixar uma pista em relação àquela que poderá ser a próxima polémica relacionada com a CGD: a recapitalização. “Descobriu-se, agora em dois meses, muito convenientemente, prejuízos que o auditor não viu durante oito ou nove anos”, ironizou. “Tudo isto é uma história que deixa dúvidas éticas, políticas. Que implicações pode ter para o resto do sistema financeiro? Cria uma pressão imensa para outros bancos que têm o mesmo auditor e que têm negócios suportados pela Caixa, que não podem ser tratados de uma maneira num banco e de outra maneira noutro banco”.
O líder do PSD registou ainda que não é pelo facto de Paulo Macedo ter feito parte de um seu Governo que vai calar as críticas. “Não sei se era essa intenção: ir buscar um ex-ministro meu para que o PSD deixasse de fazer observações sobre a Caixa. Se era isso, enganaram-se redondamente”.