Voluntariado: ajudar ou prejudicar?

O voluntariado deve ser sempre acompanhado de uma formação específica para o voluntário, que permita que este realize o trabalho de forma consciente e com as competências necessárias. Uma reflexão a propósito do Dia Internacional do Voluntariado

Foto
Tim Marshall/Unsplash

Todos os dias um grande número de pessoas inicia projectos de voluntariado ou participa em acções voluntárias pontuais (importa diferenciar ambas as situações), procurando novas experiências e actividades enriquecedoras. Ainda que, acredito, em todas estas acções, o fundamento e a intenção sejam as melhores, a verdade é que muitas vezes acabamos por “desajudar” ao invés de criarmos algum impacto positivo… A 5 de Dezembro, o dia em que se comemora o Dia Internacional do Voluntariado, afinal o que é isto do voluntariado?

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Todos os dias um grande número de pessoas inicia projectos de voluntariado ou participa em acções voluntárias pontuais (importa diferenciar ambas as situações), procurando novas experiências e actividades enriquecedoras. Ainda que, acredito, em todas estas acções, o fundamento e a intenção sejam as melhores, a verdade é que muitas vezes acabamos por “desajudar” ao invés de criarmos algum impacto positivo… A 5 de Dezembro, o dia em que se comemora o Dia Internacional do Voluntariado, afinal o que é isto do voluntariado?

Primeiro, distingui ”voluntariado” de ”acções voluntárias” porque o voluntariado necessita de uma componente essencial que o define, o compromisso, ou seja, o facto de se realizar uma actividade por um período de tempo de forma regular e constante. Uma vez por semana, por exemplo. Ao passo que uma acção voluntária pontual é, como o nome indica, pontual, não se estabelecendo nenhum compromisso entre o voluntário e a organização/comunidade. Este compromisso deve ser levado em conta pelo voluntário, como se de um contrato se tratasse, e onde este assume direitos e deveres para com a sua função.

Para além desta característica, o voluntariado deve ser sempre acompanhado de uma formação específica para o voluntário, que permita que este realize o seu trabalho de forma consciente e com as competências necessárias. Tenho assistido cada vez mais ao surgimento de “grupos” de pessoas que juntam para, por exemplo, distribuir comida nas ruas aos sem-abrigo, sem terem a mínima noção de como lidar com esta situação ou sem antes terem reflectido sobre o impacto que estão a produzir (sobre esta questão escrevi na crónica “O outro lado da caridade”). Não digo que esta ajuda não seja necessária, importa é que seja enquadrada junto de alguma organização que trabalhe para além desta ajuda de primeira instância, o que nem é fácil de se encontrar, por exemplo, em Lisboa. Só assim poderemos estar a contribuir para uma intervenção contínua e que possa produzir resultados a longo prazo sem ter um efeito perverso.

Outra questão que acho premente: o voluntariado nunca deve substituir o trabalho de um profissional qualificado ou de uma organização/instituição que esteja já a trabalhar nessa área, dessa forma estamos a desconstruir um processo que possa estar a ser feito ou um plano que tem vindo a ser executado. O voluntariado deve estar devidamente, diria até, estrategicamente, enquadrado no trabalho dessa organização, como um complemento.