Voluntariado: ajudar ou prejudicar?
O voluntariado deve ser sempre acompanhado de uma formação específica para o voluntário, que permita que este realize o trabalho de forma consciente e com as competências necessárias. Uma reflexão a propósito do Dia Internacional do Voluntariado
Todos os dias um grande número de pessoas inicia projectos de voluntariado ou participa em acções voluntárias pontuais (importa diferenciar ambas as situações), procurando novas experiências e actividades enriquecedoras. Ainda que, acredito, em todas estas acções, o fundamento e a intenção sejam as melhores, a verdade é que muitas vezes acabamos por “desajudar” ao invés de criarmos algum impacto positivo… A 5 de Dezembro, o dia em que se comemora o Dia Internacional do Voluntariado, afinal o que é isto do voluntariado?
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Todos os dias um grande número de pessoas inicia projectos de voluntariado ou participa em acções voluntárias pontuais (importa diferenciar ambas as situações), procurando novas experiências e actividades enriquecedoras. Ainda que, acredito, em todas estas acções, o fundamento e a intenção sejam as melhores, a verdade é que muitas vezes acabamos por “desajudar” ao invés de criarmos algum impacto positivo… A 5 de Dezembro, o dia em que se comemora o Dia Internacional do Voluntariado, afinal o que é isto do voluntariado?
Primeiro, distingui ”voluntariado” de ”acções voluntárias” porque o voluntariado necessita de uma componente essencial que o define, o compromisso, ou seja, o facto de se realizar uma actividade por um período de tempo de forma regular e constante. Uma vez por semana, por exemplo. Ao passo que uma acção voluntária pontual é, como o nome indica, pontual, não se estabelecendo nenhum compromisso entre o voluntário e a organização/comunidade. Este compromisso deve ser levado em conta pelo voluntário, como se de um contrato se tratasse, e onde este assume direitos e deveres para com a sua função.
Para além desta característica, o voluntariado deve ser sempre acompanhado de uma formação específica para o voluntário, que permita que este realize o seu trabalho de forma consciente e com as competências necessárias. Tenho assistido cada vez mais ao surgimento de “grupos” de pessoas que juntam para, por exemplo, distribuir comida nas ruas aos sem-abrigo, sem terem a mínima noção de como lidar com esta situação ou sem antes terem reflectido sobre o impacto que estão a produzir (sobre esta questão escrevi na crónica “O outro lado da caridade”). Não digo que esta ajuda não seja necessária, importa é que seja enquadrada junto de alguma organização que trabalhe para além desta ajuda de primeira instância, o que nem é fácil de se encontrar, por exemplo, em Lisboa. Só assim poderemos estar a contribuir para uma intervenção contínua e que possa produzir resultados a longo prazo sem ter um efeito perverso.
Outra questão que acho premente: o voluntariado nunca deve substituir o trabalho de um profissional qualificado ou de uma organização/instituição que esteja já a trabalhar nessa área, dessa forma estamos a desconstruir um processo que possa estar a ser feito ou um plano que tem vindo a ser executado. O voluntariado deve estar devidamente, diria até, estrategicamente, enquadrado no trabalho dessa organização, como um complemento.