Telefonema de Trump para Taiwan mostra inexperiência, diz jornal oficial chinês
Episódio leva Pequim a deixar avisos a Taiwan sobre aproximação ao próximo Presidente americano. Para o China Daily, Taipé não deve ter ilusões em relação à política de “Uma só China”.
Não tem a importância que parece ter, porque se trata apenas de inexperiência política de Donald Trump – assim reagiu o jornal oficial chinês de língua inglesa China Daily ao telefonema de sexta-feira entre o sucessor de Barack Obama e a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, o primeiro contacto conhecido entre um Presidente eleito dos EUA e a ilha desde que as relações diplomáticas foram cortadas em 1979.
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Não tem a importância que parece ter, porque se trata apenas de inexperiência política de Donald Trump – assim reagiu o jornal oficial chinês de língua inglesa China Daily ao telefonema de sexta-feira entre o sucessor de Barack Obama e a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, o primeiro contacto conhecido entre um Presidente eleito dos EUA e a ilha desde que as relações diplomáticas foram cortadas em 1979.
O jornal, da linha oficial de Pequim, nota em editorial publicado no sábado que Trump “quebrou as quase quatro décadas de prática diplomática dos Estados Unidos”, mas acrescenta que o episódio, sendo uma “mudança surpreendente”, não tem a importância que se lhe quer dar. Um editorial onde não se questionam as relações diplomáticas com Washington, mas se deixam avisos a Trump.
Numa aparente desvalorização discursiva do episódio mas aumentando a pressão sobre Tsai, o China Daily considera que Trump, ao falar com a Presidente, “revelou apenas a sua inexperiência e a inexperiência da sua equipa de transição em lidar com as relações externas”. Pequim considera Taiwan a sua 23.ª província e, nas relações tensas que mantém com Taipé, conserva sobre a ilha a ameaça de um ataque militar caso seja declarada a independência.
Para o China Daily, se Trump agiu de forma incomum, revelando uma “falta de compreensão adequada das relações sino-americanas e dos laços entre as duas partes, terá de reconhecer o significado de abordar com prudência e adequadamente essas questões sensíveis depois de tomar posse”.
Avisos a Trump
É certo, diz o jornal oficial, que Trump quererá “salvaguardar os interesses de seu país” como próximo Presidente dos Estados Unidos, mas isso inclui “um saudável relacionamento com a China”. Para isso, aconselha ao republicano, “não pode permitir-se prejudicar a política de ‘Uma só China’, que tem sido mantida por todas as Administrações dos Estados Unidos desde 1979 como base política para o relacionamento bilateral” entre Washington e Pequim.
Para Taipé, o jornal chinês também deixa avisos: “Seria um erro se Tsai e a sua Administração sobre-interpretarem o significado do telefonema e acreditarem que pode induzir uma mudança na longa política dos Estados Unidos de ‘Uma só China’”. Depois de se saber do telefonema entre Trump e Tsai, Ned Price, porta-voz da Casa Branca, reagiu dizendo que não há, para Obama, alterações na posição americana em relação à China e a Taiwan. “Continuamos comprometidos com a política 'Uma só China', baseada na Lei das Relações com Taiwan”, disse.
A aproximação serviu já de argumento a Pequim para, sem afrontar Washington publicamente, atribuir responsabilidades a Taiwan pelo episódio. No sábado, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, classificou o telefonema como uma “manobra” de Taipé que “não vai mudar a posição da China no contexto internacional”.
No editorial, o China Daily chama mais uma vez a Presidente à atenção, ameaçando que qualquer tentativa de conseguir o apoio norte-americano será condenado. “Em vez do impulso pró-independência do seu Partido Democrático Progressista, Tsai deveria saber que o interesse fundamental dos Estados Unidos reside no estabelecimento de laços pacíficos e estáveis entre os dois lados do Estreito”.