Há 10 mil doentes com VIH que não estão a receber tratamento

Alerta é feito pelo presidente do GAT – Grupo de Activistas em Tratamentos. Luís Mendão acredita que com a chegada de mais genéricos para o VIH o país vai poupar dinheiro que poderá investir na prevenção desta doença.

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Os tratamentos para o VIH/Sida representam já uma fatia considerável da despesa hospitalar com medicamentos, num total de 23% NFACTOS/Fernando Veludo

Além dos cerca de 5000 portugueses que segundo estudos recentes estarão infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH/Sida) sem saberem, há outra realidade que é motivo de preocupação: há mais 10 mil pessoas que, mesmo sabendo que estão doentes, não fazem os tratamentos para esta infecção. A estimativa é avançada pelo presidente do GAT – Grupo de Activistas em Tratamentos, Luís Mendão, que defende que este é um “problema enorme” que tem consequências para os doentes mas também para a “saúde pública”.

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Além dos cerca de 5000 portugueses que segundo estudos recentes estarão infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH/Sida) sem saberem, há outra realidade que é motivo de preocupação: há mais 10 mil pessoas que, mesmo sabendo que estão doentes, não fazem os tratamentos para esta infecção. A estimativa é avançada pelo presidente do GAT – Grupo de Activistas em Tratamentos, Luís Mendão, que defende que este é um “problema enorme” que tem consequências para os doentes mas também para a “saúde pública”.

“Temos mais de 5000 doentes que abandonaram os hospitais depois de terem sido diagnosticados. Há ainda outros 5000 doentes que não estão em tratamento apesar de serem seguidos nos hospitais. No total são 10 mil doentes, o que é um número enorme”, frisou Luís Mendão, em declarações ao PÚBLICO, esta quinta-feira, à margem do lançamento de um projecto-piloto, em Lisboa, que vai permitir que alguns doentes comecem a levantar os medicamentos para o VIH nas farmácias, em vez de terem de ir aos hospitais. O último relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), em Junho deste ano, já alertava para o problema dos doentes sem tratamento, mas sem adiantar, contudo, uma quantificação total.

Questionado sobre as causas deste cenário, o activista avançou com várias explicações. “A maioria dos doentes com VIH/Sida são pessoas em situação de grande fragilidade social e pessoal”, disse, acrescentando que há também “falta de literacia dos doentes”. “Algumas pessoas não se sentem doentes e não sentem a necessidade de fazer tratamento”, afirmou o presidente do GAT. Sobre os que estão a ser acompanhados mas não fazem tratamento, Mendão disse que há pessoas com “resistência em começar” e médicos que ainda não avançaram, apesar de as novas normas preverem que todos devem ser medicados. Há ainda um outro grupo de 4500 doentes que estão a ser tratados mas sem sucesso, isto é, sem se conseguir controlar a carga viral no organismo.

“O tratamento tem um efeito eventualmente pouco conhecido mas que nós procuramos reforçar: um doente que está bem tratado e com carga viral indetectável é praticamente impossível vir a transmitir a infecção a outra pessoa”, reforçou Luís Mendão. Por isso, para o activista é fundamental que a estratégia portuguesa de combate a esta doença aposte na prevenção, mas também no acesso a tratamentos com qualidade e em que a vida do doente fique facilitada – de que é exemplo o projecto-piloto lançado em Lisboa e que foi testado por Mendão. O presidente do GAT espera, também, que a chegada de genéricos permita tratar mais doentes com menos dinheiro.

Novos genéricos podem travar despesa

Os tratamentos para o VIH/Sida representam já uma fatia considerável da despesa hospitalar com medicamentos, num total de 23%. Segundo os dados da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), só entre Janeiro e Outubro deste ano a factura ascendeu a 195 milhões de euros. A tendência, com mais pessoas em tratamento, é que o orçamento tenha de aumentar.

No entanto, há mudanças prestes a acontecer e que podem inverter a realidade. “Vamos ter novos medicamentos genéricos para o VIH com a vantagem de que têm de demonstrar que são iguais aos que já existem, ao mesmo tempo que criam uma dinâmica de mercado e baixam significativamente os preços”, explicou ao PÚBLICO Helder Mota Filipe, membro do conselho directivo do Infarmed. Por lei, estes fármacos têm de chegar aos hospitais com um preço que seja pelo menos 30% inferior ao do medicamento de marca. “Vamos poder tratar mais doentes não gastando mais”, salientou o responsável do Infarmed.

Neste momento, os genéricos que já estavam disponíveis correspondiam, muitas vezes, a fármacos que já são muito pouco utilizados devido aos grandes efeitos secundários que tinham, explicou ao PÚBLICO o infecciologista Kamal Mansinho, que foi até à semana passada director do Programa Nacional para a Infecção VIH/Sida. Agora, segundo os dados do Infarmed, acabam de entrar no mercado dois genéricos de substâncias muito usadas e em 2017 devem chegar mais três. Um deles, o Darunavir, a título de exemplo, está entre os cinco com maior peso na despesa geral dos hospitais com todos os medicamentos e é o segundo a gerar mais gastos nos anti-retrovirais.

Kamal Mansinho e Luís Mendão referem que neste momento os doentes com VIH normalmente só precisam de tomar um comprimido por dia para controlar o vírus, já que esse comprimido contém várias substâncias. Alguns dos genéricos que estão a chegar só têm uma substância, pelo que pode dar-se o caso de os doentes terem de passar a fazer dois comprimidos. Kamal Mansinho diz que tudo terá de ser analisado de forma ponderada, “pois passar de um para dois comprimidos em alguns doentes pode ser o suficiente para rejeitarem a terapêutica”. Já Luís Mendão acredita que a simples chegada dos genéricos vai “abanar” as farmacêuticas dos medicamentos originais, que “naturalmente” se vão ver obrigadas a reduzir os preços.